Travessias – Arte Contemporânea na Maré abre no dia 23 de agosto

Obra de Luiz Zerbini
Obra de Luiz Zerbini Foto: Eduardo Ortega

Exposição na favela Nova Holanda reúne obras inéditas e de acervo de oito artistas e um coletivo brasileiro. Série de debates integra a programação

A exposição Travessias – Arte Contemporânea na Maré chega ao seu terceiro ano de atividades se consolidando como um projeto de reflexão e discussão sobre a arte contemporânea e as transformações do espaço urbano na atualidade. Travessias 3 – Arte Contemporânea na Maré será aberta ao público no dia 23 de agosto no Galpão Bela Maré, localizado na Favela Nova Holanda, Zona Norte do Rio de Janeiro, e ficará em cartaz, gratuitamente, até 16 de novembro.

Com organização do artista plástico carioca Daniel Senise, o Travessias 3 reunirá trabalhos inéditos e de acervo dos artistas Barrão, Dora Longo Bahia, Sandra Kogut, Mauro Restife, Jonathas de Andrade, Cao Guimarães, Luiz Zerbini e dos fotógrafos do Imagens do Povo, programa realizado pelo Observatório de Favelas.” Partimos do nome do projeto, Travessias, que sugere integração, para convidar artistas cujas obras têm a possibilidade de criar relações com o local onde serão expostas. Considerar o contexto para escolha dos artistas se tornou uma das orientações primeiras da curadoria. Sob este olhar local, a instalação MIOLO vai envolver os fotógrafos do Imagens do Povo, da própria Maré, na criação de um relato afetivo baseado em histórias dos habitantes das favelas da região. Esta relação vem sendo aprofundada desde a segunda edição do projeto com a construção da maquete do Complexo da Maré, coordenada pelo arquiteto Pedro Évora e produzida em uma oficina no Travessias 2″, explica Daniel Senise, organizador da exposição Travessias 3.

A proposta de integrar criações artísticas de linguagens múltiplas – audiovisual, pintura, instalação, fotografia, objetos – e gerar um espaço de diálogo, de circulação democrática de informações e novas possibilidades de pensamento no Complexo da Maré, com a participação ativa da população local, é a mola propulsora do Travessias – Arte Contemporânea na Maré. Para potencializar as reflexões e trocas de experiências sobre a arte e a complexidade dos territórios físicos e simbólicos que se entrecruzam no ambiente urbano, o Travessias promove uma série de debates no decorrer da mostra de arte. Os encontros reúnem artistas, acadêmicos, gestores públicos, ativistas e jornalistas com o intuito de aguçar o pensamento e criar um ambiente fértil de discussão entre os moradores da Maré, os visitantes e os artistas.

jonathas_de_andrade_educaCAo_para_adultos_foto divulgação
Obra Jonathas de Andrade Foto: divulgação

Travessias 3 acontece dentro do Galpão Bela Maré e é uma realização do Observatório de Favelas e da produtora Automatica. Em 2011, a iniciativa surgiu com a primeira edição da exposição Travessias, reunindo 16 artistas plásticos e um coletivo. No ano seguinte, foi promovida a experiência LABE, plataforma que estimulou debates sobre espaço urbano, arte contemporânea e cultura digital e, em 2013, a segunda exposição Travessias 2 ocupou o Galpão, com a participação de 10 artistas, lançando um olhar mais profundo sobre o complexo de favelas da região e ampliando o mapa da arte contemporânea nacional. “A arte é uma condição humana, uma oportunidade de encontro entre as pessoas. E só a partir desses encontros podemos gerar uma sociedade mais justa e mais fraterna. Com o Travessias temos a chance de gerar novas discussões simbólicas a partir da Maré e chamar a atenção para a complexidade de uma favela e de uma cidade”, afirma Jailson Souza e Silva, co-fundador e diretor do Observatório de Favelas.

Travessias 3 é apresentado pela Petrobras, Governo do Rio de Janeiro, Secretaria de Estado de Cultura, Lei Estadual de Incentivo à Cultura, e conta ainda com o patrocínio da Prefeitura do Rio de Janeiro/ Secretaria Municipal de Cultura por meio do Programa de Fomento à Cultura Carioca e parceria com a Redes de Desenvolvimento da Maré e a RUA Arquitetos. O projeto tem os seguintes apoiadores: Centro de Artes da Maré, Instituto JCA, Viação 1001, Tintas Coral, Millenium Transportes e Logística, Estúdio Studio, Affinitè Consultoria e Corretagem de Seguros.

A exposição contará com um programa educativo para expandir a experiência da visitação do público e atender ao grande número de estudantes das escolas da região. Uma equipe multidisciplinar de educação e arte também fará visitas guiadas com agendamento prévio para grupos e instituições de ensino.

Os seminários Travessias 3 acontecem no decorrer da exposição e propõe debater questões do mundo contemporâneo – da subjetividade do corpo às indagações do urbano; das construções de novas narrativas à estética pujante da periferia. Desta forma, o projeto amplia o diálogo com o público e chama a todos para a reflexão em encontros com a participação de ativistas, artistas e personalidades de diversas áreas do conhecimento. Veja programação de temas abaixo:

Seminários Travessias 3

(os participantes das mesas de debate ainda estão em definição)

Tema 1: Corpo também é cultura!
Data: 20 de setembro, sábado
Como nos expressamos por meio do nosso corpo hoje? O corpo é também lugar para transgressão? Corpo é força e beleza? Corpo é um mercado de consumo? Tem arte que liberta o corpo?
Tudo isso será debatido com pessoas que pensam e agem sobre o corpo. Um corpo que também é território para o contemporâneo – na dança, na tatuagem, na virilidade, na estética, no consumo…

Tema 2: Narrativas inventam a vida e a vida inventa narrativas
Data: 11 de outubro, sábado
Como contamos histórias hoje? Aonde realidade e representação se encontram nos livros, na TV, na internet e nos games? Criar uma narrativa é uma forma de poder?
Criar, inventar e produzir uma história – este debate é com quem faz e com quem quer fazer.

Tema 3: Quando as cidades ficam prontas?
Data: 01 de novembro, sábado
A cidade contemporânea é palco e ator de quase tudo. Mas será que chegaremos a um modelo de cidade? Quais intervenções e relações sociais e econômicas deixam marcas na cidade? Como as cidades e, mais especificamente o Rio de Janeiro, estão permanentemente se transformando neste contexto?

Tema 4: As estéticas da periferia são centrais para cultura contemporânea?
Data: 15 de novembro, sábado
Qual o lugar da periferia na estética contemporânea? É o lugar da “cultura negra”, do “alternativo”? Como o contemporâneo e a arte se relacionam com estas estéticas? Que tensões e aproximações existem entre os mercados tradicionais de arte e a arte da periferia?

Breve histórico Travessias

Travessias – Na primeira edição do projeto, em 2011, o projeto reuniu exposição, performances, oficinas, palestras e mostra de vídeos de arte contemporânea. Desde já, surgiu a iniciativa de criação da Biblioteca do Galpão Bela Maré que estimulava a doação de livros para o novo espaço cultural da cidade do Rio de Janeiro.
Curadoria: Daniela Labra, Frederico Coelho e Luisa Duarte. Artistas participantes da exposição: Alexandre Sá, André Komatsu, Chelpa Ferro, Eli Sudbrack (AVAF), Emmanuel Nassar, Filé de Peixe, Henrique Oliveira, Lucia Koch, Marcelo Cidade, Marcos Chaves, Matheus Rocha Pitta, Michel Groisman, Raul Mourão, Ricardo Carioba, Rochelle Costi, Coletivo Pandilla Fotográfica e Davi Marcos.

Travessias 2 – Durante a realização do Travessias 2, em 2013, cerca de 12 mil pessoas participaram das atividades promovidas pelo projeto. Além da exposição coletiva, a programação paralela incluiu o desenvolveu da Biblioteca do Galpão Bela Maré, a realização de cinco debates e duas oficinas (design e arquitetura), a fim de criar um espaço importante de troca e reflexão ao longo do período expositivo. Curadoria: Felipe Scovino e Raul Mourão.
Artistas participantes da exposição: Arjan Martins, Cadu, Carlos Vergara, Daniel Senise, Ernesto Neto, Lucas Bambozzi, Luiza Baldan, Marcelo Silveira, Ratão Diniz e Vik Muniz.