Sobre episódios de racismos na Pequena África no Rio de Janeiro

Recentemente, viralizou a denúncia de um episódio ocorrido na Pedra do Sal, em que as pessoas que sofreram violência denunciaram como racismo. Como todo ocorrido, existem versões diversas e até mesmo antagônicas, especialmente se cada narrador assumir um lado e sempre assumimos, inclusive o que agora vos escrevo.

Em síntese foi: um grupo de jovens negres quis utilizar o banheiro de um bar e o dono disse que era uma festa particular e que, por isso, não poderiam entrar. O grupo de jovens entendeu que era racismo e a discussão desfechou em agressões físicas generalizada, visto que os trabalhadores autônomos ao redor também se envolveram.

No dia seguinte uns apoiaram a denúncia de racismo por tal ocorrido, enquanto outros disseram que o cara do bar faz até atividades de reggae no local. Esse tipo de justificativa sempre me coloca a velha máxima: “Não sou racista, eu tenho amiguos negros”. Ou “Não sou racista, meu/minha namorado/a é negro/a”. Como se isso impedisse de alguém ser racista.

O fato é: no Brasil, pelo seu passado escravocrata, à população negra tudo pode ser dito e tudo pode ser feito. A questão de fundo não é se o cara é abertamente racista ao ponto de proibir a entrada de pessoas negras (daí o crime estaria comprovado, porque no Brasil racismo é crime) e sim do que leva um número grande de pessoas se juntarem para bater em jovens negres? Se fossem brancos, teriam feito o mesmo?

A Pedra do Sal é um ponto turístico, logo, muitas pessoas brancas frequentam e, sinceramente, não me recordo de um grupo de gringos europeus brancos sofrerem tamanha agressão (sequer alguma agressão generalizada). E nós, mulheres negras, sabemos como esses gringos nos enxergam e muitas vezes praticam diversos assédios. Daí, me pergunto: cadê todos os machões para a porradaria comer solta?

Enquanto acharmos que analisar casos isolados é ou não racismo, práticas como essas continuarão ocorrendo e jovens negres morrendo. Precisamos entender que o que permite que a sociedade nos agrida é o fato de sermos negres e para não restar dúvidas lembremos que a Cláudia Ferreira foi arrastada pelo carro da polícia militar, que Marielle Franco foi assassinada por interesses políticos, que Jonathan morreu após ser baleado pela polícia militar e etc, etc, etc. E percebam que nada disso é entendido como racismo?

Fazem isso porque desde a escravidão é permitido violar e violentar os corpos negres, inclusive com atos dos mais cruéis, como por exemplo, o estupro das mulheres negras pelos bárbaros portugueses. É necessário romper com essa cultura racista da violência contra nossos corpos negres, daí sim estaremos sendo antirracistas.