Sim sou tambor

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SIM SOU TAMBOR

Sim, Sou tambor!
Porque este foi minha primeira forma de comunicação
Sou tambor porque nas minhas tribos ancestrais
Ele nos interligavam e nos tornava iguais
Sim, tambor sou sim!
Por que de aguidavi nas mãos faço meu reli gari
Por que a cada dobrada de rum sinto os gritos do meu espírito
Sou tambor porque neles me revigoro
E através deles também oro e peço paz
Sou tambor porque eles me dão força
Para seguir em frente
Sim sou tambor porque deles vieram a minha segunda família
Aqueles que nós escolhemos e damos títulos
Irmãos escolhidos e a minha música isso me permitiu
Sou tambor não porque os tambores me permitiram conquistas materiais
Mas porque me permitiram crescimento espiritual e compreensão da vida de forma plurilateral
Sou tambor porque no balanço do samba reggae sinto-me em casa e tranqüilo
É alimento a alma e ela precisa comer
Sou tambor porque assim sou e assim preciso ser
Sim, o tambor que sou bate forte e cadenciado
Num compasso bem 2/2 tal como um sambinha de tamborim pandeiro e tanta
Sou tambor porque ele pulsa forte
E quando isso ocorre sinto os calafrios percorrerem-me o corpo
de dentro pra fora
Numa sinfonia única de respeito e culto a mim e aos meus ancestrais
Sou tambor porque sem ele nada fui nem sou
Sou tambor porque dele vem o meu sustento
E que me chamem de batuqueiro
O meu tambor bate por mim e não por qualquer dinheiro
Prostitutas assim são alguns que não conhecem a essência
Cujo a permanência vai bem alem de slep bass e open
São dores, são sacrifícios
São medos e ansiedades num enfrentamento diário
Mas eu sou madeira de lei:
Aquele que enverga mas não quebra
O que balança mas não cai
Seja o tambor do barracão na sincronia do Rum, Pi e Lé
Ou o conjunto de tambores entre surdos e repiques
É requinte e isso nos basta!
Levar a corpos carentes e sofridos
Do nosso povo do gueto oprimido
A mesmo que efêmera alegria de balança ao som do tambor
Gingados que se perdem
E muitas vezes até se esbarram nas lacunas da ignorância
Oriunda de um sistema que joga nós contra nós mesmos
São os leões de chácara fechando o cerco
Mas o som do tambor não precisa de portas abertas
Nós pulamos as janelas porque nosso som ecoa pelos ventos de Oyá
Nós somos a matriz
Matriz de uma historia de um povo que nos tambores de outrora fazia sua referencia ancestral
E confortava o coração e numa canção
Numa roda de samba expulsamos as mazelas de um cotidiano cruel
Mesmo sabendo que no dia seguinte estaremos de volta cada um fazendo seu papel
Quando me dizem que sou a cozinha e harmonia é a sala
Então Imagino: sou eu quem preparo a refeição
Sem comida
Os rostinhos bonitinhos e figurantes da nossa música seriam sacos vazios
E alguém já ouviu dizer que saco vazio para em pé?
Então eu digo repito e reafirmo:
Sou tambor porque assim sou e
Sou tambor porque assim é
Serei sempre tambor!

Obanixé Kaô Kabiecile
Sergio Carvalho
Sócio CEO
Afroparceiros produções culturais
Um novo lema em cultura negra.