O espetáculo de dança Revinda está circulando pelas periferias do Recife, levando às ruas uma poderosa expressão de resistência e celebração do povo preto e periférico. Criado pela artista Rebeca Gondim, o espetáculo mistura dança, música e poesia para denunciar a violência policial e afirmar a força das coletividades que resistem nas quebradas do Brasil.
No centro da dramaturgia está a dor de uma mãe negra diante da perda do filho, assassinado pela polícia numa favela do Rio de Janeiro — uma história que, infelizmente, se repete em muitos territórios periféricos pelo país.
Neste final de semana, Revinda ocupa dois importantes espaços da cidade. No sábado (31), a apresentação acontece na Praça da Convenção, em Beberibe — bairro onde Rebeca nasceu e cresceu. No domingo (1º de junho), o espetáculo segue para o Compaz Eduardo Campos, no Alto Santa Terezinha. Sempre às 17h30, com entrada gratuita e acessibilidade em Libras.


Cada apresentação é única, pois conta com a participação de artistas convidados da própria comunidade. Neste sábado, estarão presentes o muralista Vários Nomes, conhecido por obras que homenageiam a cultura popular pernambucana, a DJ Renna, uma das pioneiras mulheres do hip hop no Recife, e o coletivo Batalha da Convenção, recentemente reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial da cidade.
No domingo, sobem à cena a atriz e poeta Brunna Martins e o rapper Pajé IB, jovem talento da cena hip hop pernambucana. A apresentação estava prevista para maio, mas foi adiada para que o espaço pudesse acolher doações destinadas a famílias atingidas pelas enchentes que afetaram a Região Metropolitana do Recife.
Da dor à potência coletiva
Revinda surgiu a partir de uma performance criada em 2015 chamada “Terezinha”, em homenagem a Tereza Maria da Conceição, mãe que perdeu o filho em uma chacina policial no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro. O trabalho cresceu, atravessou a pandemia, foi adaptado para o audiovisual e agora retorna às ruas.
Se antes a artista estava sozinha em cena, hoje a proposta é ocupar o espaço público junto com outras vozes. “Agora busquei a força do coletivo. Trouxe meu irmão, amigos, artistas que me inspiram, minha família. Formamos uma verdadeira encruzilhada de histórias chamada Revinda”, conta Rebeca.
Além de ser um grito contra o genocídio da juventude negra, o espetáculo celebra as expressões culturais das periferias como formas de resistência: batalhas de rima, arte urbana, poesia, dança de rua, tudo se encontra nas apresentações.
Revinda é sobre não calar diante da violência, mas também sobre afirmar a potência de quem segue criando, organizando e resistindo nos bairros periféricos do Recife e de todo o Brasil.