Racismo estrutural e a mídia seletiva: “branco é estudante e preto é traficante”

Divulgação

Falar sobre racismo requer, além de empatia, muita coragem para se expor. Mas não precisa ser especialista no assunto, como também não basta apenas não ser racista, precisamos ser antirracistas para pautar os temas raciais junto a uma sociedade que teima em dizer que não há racismo no Brasil. A mídia é seletiva e um tanto quanto discriminatória, talvez essa fala venha gerar um futuro “cancelamento” a meu respeito por parte de alguns veículos, já que tudo fica registrado e eles se informam sobre tudo que nós fazemos. E a bola da vez é cancelar pessoas com opiniões contundentes.

A forma como alguns veículos agem na produção e emissão das matérias, seja em qualquer plataforma, chama atenção pela falta de comprometimento com uma abordagem séria sobre racismo, preconceito racial e tantos outros temas ligadas à população negra. As produções apresentam um conteúdo proposital para causar um desconforto no leitor ou telespectador, já que toda produção passa por um crivo até chegar aos receptores.

Recentemente o caso do “estudante” Pedro Henrique repercutiu na mídia, após ser picado por uma serpente naja no Distrito Federal. Além de a Polícia Civil localizar 16 serpentes que seriam dele, segundo o Ibama ele não tinha autorização para criação de animais exóticos.

Notícia sobre crime ambiental ligado a estudante de Brasília. Crédito: Internet

Não irei aprofundar no caso, já que não é minha área, o texto de hoje é para refletir sobre como a mídia é seletiva apenas com aqueles que possuem status na sociedade. Junte as palavras, branco, tradicional, família nobre, classe média alta e tenha os títulos perfeitos. E nesse momento podemos perceber como a mídia se exime de usar certos termos que poderiam fazer dela uma acusadora sem ter provas daquilo que está sendo dito.

O estudante nunca será traficante, nunca será marginal e mais, as fotos dele e dos amigos pouco serão divulgadas. Numa rápida navegada pelo Google sobre esse assunto é comum identificar que em nenhuma chamada das notícias ele é identificado como traficante. A referência feita é sempre “ao estudante” , “ a família do estudante” ou “os amigos do estudante”.

Basta sair da zonas nobres das cidades e ir para as favelas ou comunidades, e o que teremos?

Manchetes transformando o morador de favela em traficante, antes mesmo do informe policial. Percebam como do outro lado da sociedade a mídia não é cautelosa, não espera os informes corretamente, a decisão é tomada sem medir as consequências. No mundo da comunicação, sabemos, um minuto de publicação é o suficiente para desmoralizar qualquer pessoa, e não adianta fazer retratação, o estrago já foi feito. Os programas televisivos sensacionalistas se aproveitam desse mecanismo para trazer o “sucesso”, ibope, para a sua emissora e é daí para pior, tudo pela audiência.

Mais uma vez reforço para que prestemos bastante atenção nas entrelinhas, veremos como a grande mídia pode ser seletiva, tóxica e também racista. Ela não entra na favela para investigar o fato, para ela, um helicóptero é suficiente para identificar que aquele que foi preso sem ao menos dar o testemunho é traficante, como da mesma forma, saber que o branco preso da Zona Sul é apenas um estudante. Dando evidência àquela máxima de que um “branco correndo na rua é atleta e o preto na mesma situação, tá fugindo da polícia”.