Qual é o feminismo?

Créditos: Reprodução da internet

Já em ritmo de despedida da minha primeira viagem internacional, a pergunta que mais tenho respondido é “O que você mais sentirá falta daqui?”. Como boa brasileira que sou, me recuso a reclamar do meu país, afinal só quem pode reclamar dele somos nós. Certo? Talvez?!

O fato é que olhando a grosso modo, minha cabeça já sabe a resposta. A liberdade de sair e voltar a hora que eu bem entender e não ser assediada nas ruas ou a tensão de a todo momento correr o risco de ser assaltada, é o que de fato me trará saudade desses #30DiasEmPortugal, mesmo sem entender se essa é uma característica local ou eu apenas “de sorte”.

E como me disse certa vez uma amigo: “A viagem nos tira do território umbilical e nos abre para horizontes de questionamentos amplos. De certo é uma viagem!”

Era uma das primeiras noites que passava fora do meu país. O coração a mil, na ansiedade de como lidar se algo sair fora do habitual. Será que eu vou estar preparada? A cabeça fervia enquanto eu perambulava por entre as novidades de atravessar o oceano e foi em uma dessas noites que eu comecei a ter um olhar mais analítico sobre o que aqui vou chamar de feminismo, acreditando ser essa a palavra mais eficaz para descrever a liberdade de mulheres e igualdade de gênero, indiferentemente de sua cultura, religião, idade, país ou qualquer recorte.


Por alguns minutos eu me perdi em um único pensamento, que me trazia questionamentos sobre até que ponto podemos intervir com nossas pautas feministas em  prol da liberdade de mulheres de forma global. Será que vez ou outra não limitamos nossas narrativas?

Eu estava ali, bem diante de uma mulher que nitidamente vivia uma opressão cultural e de mãos atadas permaneci. Não havia nada que eu pudesse fazer, mas como lidar? como entender até onde podemos tomar posse dessa liberdade de agir, em solo tão líquido de um território tão amplo?


“O feminismo ora é individual, ora coletivo, mas de certo é amplamente cultural.”

Ou seja, não deve e não pode ser pautado de maneira mundial com base em um olhar único. Mesmo que este, seja referente ao mesmo país ou grupo racial. Por exemplo, embora mulheres negras e/ou faveladas, pertencentes a um mesmo território geográfico e étnico, tenham narrativas coletivas, é preciso perceber que nem sempre terão o mesmo olhar e reflexo ao analisar suas urgências.

Ao ler sobre as meninas e mulheres yazidis em situação de escravidão sexual pelo ISIS, me sobressai um tanto absurdo, que em pleno século XXl ainda existam mulheres em situação de extrema vulnerabilidade, embasadas por questões religiosas extremas.

E enquanto precisamos ser estratégicos para pautar as formas de auxiliar tais mulheres, através de ações e manifestações com nossas hashtags, ainda estamos buscando solucionar a prática de exploração sexual infantil de meninas, que sobrevivem em territórios brasileiros, como reflexo da pobreza alarmante em estados com alta taxa de esquecimento social.

Precisamos estar atentas para que nossas militâncias sejam mais profundas e cada vez menos superficiais. É urgente e necessário que toda micro conquista se torne importante, mas que a leitura ampla dessas urgências se faz necessária nesse exato momento.

Já!

Não temos tempo a perder! É preciso se juntar ao invés de espalhar, mesmo que de forma estratégica, para que a contabilidade de quem chega do outro lado da margem, seja maior do que as que morrem ao longo do caminho.
Para que mais meninas possam explorar territórios seja na infância ou na fase adulta. Para que a menininha do início desse texto, encontre acolhimento diante das questões futuras dela.

Sabemos que ela vai precisar.