Projeto ensina empreendedorismo, gênero e cidadania para mulheres na Maré

Créditos: Fábio Silva

“Eu era uma pessoa muito caseira, porque o meu pai era muito rígido e não me deixava trabalhar. Depois das oficinas, conheci um mundo totalmente diferente e percebi que não queria ser só dona de casa. Eu queria correr o mundo”, é o que conta a cozinheira e moradora da Maré Lívia Santos, 31 anos, uma das 350 beneficiadas pelo Maré de Sabores.

O Maré de Sabores é um empreendimento social que oferece oficinas gratuitas de Gastronomia e de Gênero e Cidadania para mulheres no Complexo da Maré. Criado em 2010 a partir da demanda das mães de alunos de um antigo projeto da Redes de Desenvolvimento da Maré (REDES), as oficinas têm duração de seis meses e, além das aulas de culinária, as alunas são encorajadas a refletir sobre autonomia, autoestima e o papel que ocupam na sociedade.

– O projeto nasceu sem pretensões, mas cresceu por conta da demanda. A culinária surge como uma opção para melhorar a qualidade de alimentação das próprias famílias, trazendo uma perspectiva mais saudável para essas mulheres, além de, ao mesmo tempo, profissionalizá-las para que possam gerar alguma renda a mais – explica a coordenadora geral do projeto, Shirley Villela.

A iniciativa tem como sede a Casa das Mulheres da Maré, um edifício de quatro andares no Parque União, com 360m² e fachada ocupada por um painel de azulejos criado a partir de oficinas realizadas com outras mulheres da favela. O primeiro e segundo andares abrigam uma cozinha industrial e salas de aula, onde ocorrem as reuniões e rodas de conversa. Atualmente, o projeto possui um bufê que atende por encomenda e oferece um cardápio variado, com café da manhã, brunch, almoço, diversas opções de carnes nobres, saladas e acompanhamentos produzidos a partir de ingredientes orgânicos.

Segundo a cozinheira Michele Nogueira, 42, o apoio da família, apesar das barreiras iniciais, foi fundamental para que ela pudesse se reencontrar profissionalmente:

– Antes, eu nunca tinha me imaginado trabalhando fora, porque me achava velha para o mercado de trabalho, para aprender tudo e recomeçar. No início, foi um pouco complicado. Meu marido implicava, pois eu trabalhava sábado, domingo, feriado. Eu tive que demonstrar para ele o quanto isso me fazia bem, o quanto isso me fez crescer.

Michele Nogueira, 42, Cozinheira
Créditos: Fabio Silva

De acordo com a coordenadora de gastronomia Mariana Aleixo, 28, o trabalho também estimula a ideia de integração e acesso à cidade: “É um serviço que coloca a favela fora de seu lugar e a qualifica o tempo inteiro. As pessoas contratam a gente e ficam surpresas com o nosso trabalho. A gente acaba rompendo esse estigma negativo da favela pela experiência estética e do sabor”, afirma.

O Maré de Sabores também tem ajudado a abrir os horizontes e a alavancar os sonhos das participantes: “Depois que eu cheguei e vi que o mundo era muito maior que a minha realidade, passei a me interessar mais por literatura. Hoje, eu pretendo escrever um livro sobre a história do Maré de Sabores e contar um pouco da minha trajetória, com meus altos e baixos”, conclui Lívia Santos, com uma felicidade estampada no rosto que só denuncia o sucesso da iniciativa.

Os interessados em conhecer e contratar os serviços do Maré de Sabores devem entrar em contato pelo e-mail maredesabores@redesdamare.org.br ou pelo telefone (21) 7719-7937.