Produção audiovisual na periferia de Sobral-CE, contribui com o processo educacional nas escolas

Tinta Neles é um exemplo dessas produções audiovisuais que mostram as agências de atores periféricos- Crédito: Divulgação

Até bem pouco tempo aparecer para o mundo era uma questão que demandava sorte, pois, as oportunidades quando se tratavam de ser foco de debates na mídia, eram bem difíceis.

A periferia principalmente, ela só aparecia e ainda aparece, quando a vemos nos veículos midiáticos – não só na grande mídia, mas nos blogs sensacionalistas também-, com sua agência positiva apagada, com foco apenas na violência, colocando-a ainda mais à margem da geografia social e espacial.

O advento das novas tecnologias tem contribuído para a produção de narrativas periféricas que encantam pelas histórias de atores sociais que estão engajados nos seus espaços com iniciativas que elevam o status desses territórios, mostrando outras realidades possíveis nas sociabilidades desses agentes.

Em Sobral/CE, o Laboratório das Memórias e das Práticas Cotidianas-LABOME, da Universidade Estadual Vale do Acaraú-UEVA, tem há alguns anos firmado parceria nas suas pesquisas com movimentos periféricos atuantes na cidade de Sobral/CE.

Um exemplo disso, é o Movimento Social FOME, que atua nos bairros Terrenos Novos, Vila União e Caiçara, com diversas iniciativas sociais e culturais que agregam ao povo da periferia, com ações principalmente com foco naquilo em que o Estado se retrai.

O filme “TINTA NELES”!

O filme Tinta Neles é um exemplo dessas produções audiovisuais que mostram as agências de atores periféricos que atuam positivamente dentro desses espaços.

O documentário mostra o trabalho artístico de Tiaguim Tavares, que além de outras qualidades, é artista visual no trabalho com graffiti.

De acordo com o Prof. Dr. Nilson Almino de Freitas, um dos envolvidos no documentário, “A pesquisa está em desenvolvimento, e não erro em antecipar que está gerando muito sucesso, de aprendizado mesmo. O filme Tinta Neles faz parte desse acervo que está sendo usado nas escolas”.

Professor Dr. Nilson Almino de Freitas. Crédito: Arquivo

A afirmação do Professor Nilson Almino está pautada no fato de que esse documentário está sendo usado como material didático nas escolas, porque as narrativas contidas nele falam de realidades sociais passíveis de análises e debates, principalmente nas universidades.

O documentário é uma experimento cruzado com outras mídias, ele resulta da mistura de um podcast, criado pelo Movimento Social FOME, onde o artista Tiaguim Tavares dá seu depoimento, e imagens suas e das artes que ele estampa pela cidade que estão arquivadas no acervo do LABOME.

Vale ressaltar que o rap da trilha musical do documentário também é produção do Movimento Social FOME com um rapper e poeta do Movimento, o Leandrin Guimarães.

Leandrin Guimarães- Crédito: Acervo LABOME

“Aproveitamos um podcast que o FOME produziu sobre comunicação comunitária, onde Tiaguim Tavares foi um dos entrevistados, e tivemos a ideia de cruzar o acervo que tínhamos de suas oficinas de graffiti e atividades no FOME, com o que ele já falava no podcast, com o que ele falou no podcast”, esclarece o Professor Nilson Almino.

Eu, Vicente Sousa, também colaboro com os registros visuais das artes do graffiti pela cidade, atividade que faz parte de minha pesquisa de doutorado na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, projeto que se aliou ao documentário Tinta Neles com as fotografias e imagens de vídeo que aparecem ornamentando a narrativa do artista.

O documentário como ferramenta de debate sociológico na educação

Renan Dias, diretor do documentário, militante do Movimento Social FOME e mestrando em Sociologia pela Universidade Estadual Vale do Acaraú-UEVA, ressalta que “O filme Tinta Neles, nasceu como um trabalho de conclusão do mestrado. […] O filme ele tem como narrativa central a questão da relação que o Tiaguim tem no processo criativo dele, como também do Tiaguim como militante do Movimento Social FOME atuante dentro desses bairros da periferia”.

Na condição de aluno do Mestrado Profissional em Sociologia, o diretor Renan Dias escolheu além do texto escrito, exigência protocolar no final de todo curso acadêmico, fazer o documentário com um roteiro que fala da agência artística de Tiaguim Tavares na periferia e pelos demais cantos da cidade, como forma de quebrar preconceitos e fomentar nos jovens artistas o gosto e o exercício dessa e de outras artes.

Renan Dias- Crédito: Acervo LABOME

“Então, o mote geral do meu trabalho no PROFISOCIO, é mostrar que através dos trabalhos desenvolvidos pelo Movimento Social FOME em parceria com outros coletivos com a periferia, isso sim, são possibilidades de uma educação não formal, não necessariamente pensando a educação aqui dentro dos muros das escolas, das instituições de ensino”, esclarece Renan Dias.

O personagem

Tiaguim Tavares é um dos mais bem conceituados artistas de Sobral, ele esclarece que “desde o início, a galera já me incentivava na questão do graffiti. Eu não sabia se quer o que era graffiti, só que desde cedo eu já arriscava algum traço ali no caderno da galera”.

Tiaguim Tavares- Crédito: Acervo LABOME

Mas sua trajetória no universo do graffiti de forma profissional, se deu mesmo desde quando ele se engajou no Movimento Social FOME.

“Hoje eu posso dizer que até o nome em si, nomenclatura Tiaguim Tavares, até isso surgiu aqui dentro do FOME, e foi de onde eu surgi enquanto pessoa, a pessoa que eu me tornei hoje, enquanto artista, enquanto pai, enquanto esposo, enquanto morador periférico do bairro considerado mais violento da cidade, que levanta a bandeira do bairro”, afirma Tiaguim Tavares.

Sua indignação está pautada no preconceito que ainda ronda, intimida e criminaliza essa arte. Segundo ele, “é um trabalho que se profissionalizou, mas que ainda vem sofrendo muito pela criminalização, a galera quer firmar leis mas sem compreender, sem saber diferenciar o que é a pixação com apologia ou o que é uma pixação de protesto, uma pixação poética”.

Desse modo, o documentário é esse conjunto que envolve outros temas como arte, preconceito, periferia, agência positiva, e outros mais que os olhos, ouvidos e raciocínios mais atentos tiverem para captar sociologicamente para gerar debates e aprendizados.

O documentário já disponível no canal do Labome Visualidades no Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=ZEXjLvdKq5E&t=196s

*Obs: as falas dos autores e personagem do documentário foram extraídas do Podcast Na Real! O que dizer?, do curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual Vale do Acaraú-UEVA.

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Podcast Na Real! O que dizer?: https://open.spotify.com/episode/6gGeLMaZZuZmngOd3SwlN9. Podcast do curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual Vale do Acaraú-UEVA, com autores e personagem do documentário.

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