Polo Hip Hop traz protagonismo das favelas para o Carnaval do Recife

Rock Master Crew - Foto: Junior Silva/ ANF

O Polo Hip Hop está entre as maiores prévias de carnaval do Recife. Este ano aconteceu no dia 16 de fevereiro no Cais da Alfândega, localizado no bairro do Recife Antigo, trazendo várias atrações que representam a cultura Hip Hop: MC, Dj, Breaking dance, Graffiti, e a Informação, reconhecida como o quinto elemento deste movimento.

A programação teve início no fim da tarde com a Troça Carnavalesca Mista Mangue Boys, saindo em cortejo pelas ruas do Recife Antigo a fim de promover um arrastão de pessoas até o palco onde aconteceriam os shows. O bloco originário de Rio Doce relembra Chico Science com um boneco gigante deste que foi o fundador do movimento Mangue Beat.

Um palco específico para a cultura Hip Hop é de fundamental importância para o protagonismo periférico, e enriquecimento de uma cultura que por tanto tempo foi (e ainda continua sendo) excluída dos espaços de arte e cultura das cidades, principalmente no momento que o país enfrenta em que as artes são censuradas e as populações das favelas diariamente atacadas pelos planos de um governo genocida.

TCM Mangue Boys no Polo Hip Hop 2020 – Foto: Junior Silva/ ANF

A noite começou com a apresentação de Combo X, banda composta por ex-integrantes das bandas Nação Zumbi e Mundo Livre S.A., trazendo em seu repertório referências aos folguedos e maracatus de baque virado, que não poderia faltar visto que a homenagem vai para o Mangue Beat. Além das referências ao coco de roda e o maracatu, Combo X também traz influências do rock, música eletrônica e frevo em suas sonoridades.

O grupo Ibura Bagdá representou as favelas da zona sul do Recife com suas letras de protesto, que traz composições contendo fortes críticas ao sistema e ao plano de genocídio da juventude negra e das favelas. O grupo vindo do Ibura agitou o público com o rap periférico, tendo as músicas “Só Um Alô”, “Crônicas” e “Carta à Vida Eterna” como parte de seu repertório, que traz na origem a resistência aos planos de um governo racista e fascista, que marginaliza e criminaliza diariamente a favela e suas construções culturais.

O mc ACRIA também foi atração na noite, diretamente da cidade de Olinda, trazendo em sua sonoridade o rap aliado às várias referências da cultura popular pernambucana, inclusive, o mangue beat, que foi  o movimento homenageado no evento. Reciferia e Samba do Bem são alguns de seus sucessos, trazendo muito ritmo e poesia em forma de manifesto nas suas letras.

A força e representatividade feminina ficaram por conta de Lua MC, cantora e compositora que deixou sua marca com muita musicalidade, resistência e que carrega em suas letras a força dos povos tradicionais indígenas, reafirmando sua raiz e enaltecendo a cena com suas rimas de enfrentamento ao patriarcado e à sociedade machista tão prejudicial à sociedade.

O rapper Gustavo Pontual também mostrou seu trabalho no Polo Hip Hop, com o novo álbum solo Annette, lançado no último dia do ano passado, trazendo faixas como Vai Porque Quer e Minha Onda. O artista que iniciou carreira com o grupo de rap pernambucano Inquilinus, apresenta seu novo trabalho no palco do carnaval recifense.

O breaking foi representado pela Rock Master Crew, velha guarda da cena Hip Hop pernambucana, que há três décadas atua no cenário cultural do estado, bastante conceituada em Recife e Olinda, atualmente desenvolve batalhas de b-boys e b-girls, promovendo e fomentando a continuidade da cultura para as novas gerações através das danças urbanas.

Rock Master Crew – Foto: Junior Silva/ ANF

Sistema X, outro grande representante da cultura Hip Hop pernambucana, marcou presença  no evento com sua musicalidade influenciada pela Black Music dos anos 90, com grandes críticas à opressão sofrida pela cultura de rua, trazendo letras de pregam o fortalecimento da cena e a superação frente às dificuldades impostas dia a dia.

O encerramento da noite ficou por conta de Mundo Livre S.A., um dos maiores grupos musicais pernambucanos e brasileiros, que tem uma longa história ao lado do movimento Mangue Beat desde os tempo de Chico Science. Com temáticas problematizadoras e um som essencialmente dançante, o grupo promove a reflexão em suas letras sem perder a característica das batidas e swings.

Os intervalos ficaram por conta do DJ Stanley, que também é b-boy membro da crew de breaking BlackArtCrew, que trouxe bastante ritmo e composições mistas de boombap e rap. A mestra e o mestre de cerimônia da noite foram Mari Periférica e Lula Dias.

O Graffiti não poderia ficar de fora e foi representado pelos artistas Guerreiro, da velha guarda do Hip Hop, também representante da Rock Master Crew, e Téo, grafiteiro da Mova-se Crew. No âmbito da informação, a Ação Comunitária Caranguejo Uçá esteve presente por meio de Israel Uçá, comunicador popular, junto com seu filho, em que trouxeram à tona o problema dos resíduos sólidos que degradam a vida marinha e junto a isso prejudicam a vida de milhares de pescadores e pescadoras artesanais que retiram seu sustento das águas recifenses.