Semanas dessas passadas, em conversa com o meu editor, fiquei surpreso quando ele me falou que policiais ligados a UPP da favela Pavão Pavãozinho não gostaram de ouvir um policial ser chamado pelo apelido. Ficaram zangadinhos. Imediatamente peguei o telefone e liguei para vários amigos e amigas da favela. Todos confirmaram o fato – o apelido havia pegado. Aqui na segunda maior favela da América do Sul – Jacarezinho, a qual concentra também o maior número de negros em favelas no Rio, os apelidos sempre foram frequentes. Quando começaram a me chamar de Rumba, fiquei também muito zangadinho até o dia em que minha mãe falou: meu filhinho, se voce deixar transparecer que está aborrecido com o apelido, aí é que vai ser pior! Rumba é uma dança em que as pessoas rebolam muito. Imaginem voces um negão como eu, fogoso, reprodutor e faveladão rebolando. Era só um apelido. Isso é pura ficção. Fiquei calmo e nunca mais me aborreci com essa bobagem. Lembrei dos policiais daqui que tinham os apelidos mais exóticos do mundo: Cabecinha de Ovo, Queixada, Trovão, Kunta Kintê e vai pura aí afora…Nunca se aborreceram com isso, convivemos tranquilamente, cada macaco em seu galho. Por falar em macaco, lembrei do apelido das tropas que caçavam o cangarceiro Lampião: macacos!

Mais tarde descobri que o meu apelido Rumba, vinha do meu pai compositor e parceiro de Nelson Cavaquinho, Cartola, Zé Quete,  entre outros bambas. Fiquei tão orgulhoso do apelido que me tornei compositor da Estação Primeira de Mangueira. Não fiquem zangados com os apelidos, afinal, cada um tem o apelido que merece.

Rumba Gabriel

ANF e Fundador do MPF.