O que a gente é? Resistência de rua

Isso é batalha de rima, verdade nua e crua.

O movimento que articula rapper´s no formato de batalhas de rimas nos espaços públicos, tem sido uma ação constante em Sobral/CE.

Crédito: Kélia Viana. Acervo LABOME.

As batalhas são organizadas geralmente em alguns bairros periféricos, mas a presença dos rapper´s de outros espaços da cidade não é descartada nesses momentos, afinal, esse circuito funciona como uma rede que une os artistas ligados ao Rap na divulgação de suas artes e promoção de resistência e denúncia contra o sistema econômico e preconceito.

Às vezes, também resistem ao preconceito do próprio estado quando são incomodados com abordagens e “baques” policiais que criam constrangimentos na “vibe”.

Crédito: Joyce Ramos. Batalha do TN. Acervo LABOME

O Rapper Restrito General da Batalha do TN ressalta bem essa realidade. “Abuso de autoridade é muito comum na favela, é rotineiro” ( em entrevista que faz parte do acervo permanente do Laboratório das Memórias e das Práticas Cotidianas – LABOME da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA, em Sobral/CE).

As batalhas são diversas e acontecem em vários tempos e espaços da cidade, marcando territórios em seus nomes, como é o caso da Batalha TN (se refere ao bairro Terrenos Novos).

Importante destacar que todas essas ações são autônomas, geralmente, contam basicamente com a rede de colaboração entre os próprios artistas que além de compartilhar nas redes sociais a realização dos eventos, também se fazem presentes para batalhar.

Não contam com a estrutura adequada que o evento supostamente exige, como caixas de som amplificadas, microfones, etc., mas mesmo assim, os eventos ocorrem normalmente.

Algumas delas, como é o caso da Batalha da Caixinha, que acontece todos os sábados no centro da cidade, utilizam caixinhas de som conectadas aos celulares via bluetooth para o toque dos beats que embalam as batalhas.

Crédito: Joyce Ramos. Batalha do TN. Acervo LABOME

Mas para além de tudo, existe o engajamento dos rapper`s na perspectiva de construir uma periferia que pulse pela arte, que envolva, sobretudo, crianças. E elas se fazem presentes nesses eventos, onde já é possível ver que algumas começam a entrar na cena do rap, batalhando com adultos mais experientes.

Cabe salientar que o compromisso com as crianças está muito atuante nas ações dos rappers da Batalha do TN, moradores do bairro Terrenos Novos, espaço que aparece constantemente na mídia local pela ocorrência de casos violentos, envolvendo, sobretudo, jovens. Esta batalha em particular, é organizado por um coletivo de jovens do bairro chamado Movimento Social FOME.

Crédito: Acervo LABOME. Dedita Ferreira

Por participarem deste movimento social, esses artistas são chamados para ocupar os espaços educacionais e acadêmicos para falar de suas ações, inclusive, ministrar oficinas de Rap para crianças periféricas, bem como algo ligado ao grafite.

Um dos gritos que embala a vibe desses eventos é “Isso é batalha de rima, verdade nua e crua. O que a gente é? Resistência de rua”! Isso traduz fielmente a motivação e a resistência aos ataques físicos e simbólicos que assolam o chão das periferias, onde a falta de estrutura básica se junta aos estigmas e a segregação social.

Crédito: Dedita Ferreira. Batalha do PSA. Acervo LABOME

É com arte e empoderamento que esses grupos na realização desses eventos têm buscado resistir aos desmandos de poder. Para quem quer conhecer melhor este movimento, destaco a página no Youtube da Batalha TN, com vídeos realizados com apoio do Laboratório das Memórias e das Práticas Cotidianas – LABOME:

https://www.youtube.com/channel/UCbwZnIEGF_xVwlRpJb8iTPA/playlists

https://pt-br.facebook.com/BatalhadoT.N/