O Presente do Rei – O plebeu, a princesa e a guerreira

Capítulo 5- A morte misteriosa da rainha

O conselheiro Tófeles caminhava em direção onde estava Denis e Marcus o seguia, chegando perto, disse:

─ Ó meu amado príncipe, aqui está o que tu desejavas: o moço, que vai te acompanhar nas caçadas, cuidará das suas armas, polirá seus sapatos, animar-te-á quando estiveres desanimado; ele vai estar onde Vossa Alteza desejar…

           Marcus ensaiou uma reverência e um pequeno discurso de gratidão; quando começou, foi interrompido pelo príncipe com um sorriso complacente:

─ Meu jovem, por hoje a minha ordem para ti é: divirta-se!

           A moça mais bela daquela festa não parava de olhá-lo. Aquele olhar fascinava-o, era o mais lindo, forte, audacioso, impávido e encantador que ele já vira na vida.

           A festa tinha chegado ao seu clímax – as gargalhadas estavam mais escandalosas, os olhares mais maliciosos, os corpos exalavam mais lasciva, a orquestra tocava com toda animação empolgação, excitação… Bebidas e comidas pareciam não acabar mais; quando parecia que estava para acabar, chegava mais, era um manancial. E Marcus estava no meio de condes, barões, viscondes, de nobres de todas as estirpes, tinha a sensação de que morreu e havia nascido em outro mundo, com nome, alma e sangue diferentes.  Seu peito estava cheio de alegria, o corpo cheio de satisfação, a sua risada era a mais sonora – era para ele, um hino de vitória sobre a pobreza. 

          De repente, um grito terrivelmente apavorado paralisa, esfria o baile. Foi um grito feio, medonho, aterrorizante, talvez semelhante aos dos condenados ao tormento eterno. Era a rainha que corria num desespero sobrenatural, se rasgando, pedindo, implorando socorro:

─ SOCORRO! SOCORRO! Por favor! Pelo amor de Deus me ajude! Tirem essa criatura de cima de mim! Ela quer me levar! Socorro! Me larga! Meu Deus! É um monstro! É um monstro!… Me ajude meu filho! Mate-o! Chamem o padre!

     Ela não parava de urrar, continuava rasgando-se, começou a descabelar-se feito uma lunática e subiu em disparada à escada, que dava para a torre do palácio. O rei, Denis, as filhas e o maior número de pessoas possível correram atrás dela…  Mas ao chegarem à torre ouviram um baque surdo…  Olharam para baixo e viram uma cena triste, trágica, horrenda que embrulha o estômago. A rainha havia se jogado… O reino gritou de dor. Uma dor dilacerante, que rasga. Uma dor de tristeza.  A tristeza de Denis era do tamanho da do reino, talvez fosse bem maior. Não que Opala e Flávia não estivessem profundamente tristes também. 

              Amanheceu. Naquela manhã tudo exalava tristeza no palácio e ao seu redor. Era como se um rigoroso inverno tivesse de repente chegado e deixado tudo e todos frios, cinzentos, sem vida. Pois era assim que a família real e muitos nobres estavam se sentindo com a morte da sua rainha. O sol parecia ter morrido; o céu parado, inexpressivo, preto, frio feito ferro.

O jardim do reino, que era mais belo do que se podia imaginar, com as rosas mais raras, formosas, coloridas e cheias de vida – (vindas até de outros continentes) todas estavam secas e mortas para eles, naquele momento; os cantos mais encantadores e maviosos dos pássaros soavam-lhes como uma emocionante canção fúnebre de adeus. Esses cantos eram acompanhados por outros igualmente tristes – as batidas descompassadas dos corações, os murmúrios de tristezas, as frases entrecortadas e inaudíveis de remorsos e os prantos amargos, torrenciais e pesados.

O rei tinha perdido o seu grande amor, que nunca teve a coragem de dizê-lo, tampouco de demonstrá-lo; a dor lhe rasgava, dilacerava. A princesa Opala sentiria pelo resto da sua vida saudades da mãe, que raramente a procurava, e raramente foi, realmente, pouquíssimas vezes – quando criança bem pequena, aí, o pai tornou-se tudo para ela. E muitas vezes, via a mãe como a sua maior rival.

Ah! a pequena Flávia sentia-se amputada; um grande pedaço dela havia sido arrancado de uma forma tão abrupta e cruel – doía, sangrava. O pranto de Denis era mais alto, pois, ele tinha sofrido duas perdas ao mesmo tempo; perdeu a mãe tão amada, admirada e a sua confidente, amiga, companheira, conselheira – a sua melhor amiga. Por isso, o príncipe herdeiro tinha a sensação de estar sozinho num barco no meio de um mar revolto de ondas monstruosas, com gritos furiosos de uma diluvial tempestade.

No céu sombrio, fechado, pesado, ribombavam trovoadas de fim de mundo, raios violentos, que pareciam gigantescas e luminosas serpentes frenéticas de várias cabeças procurando uma caça. E também sentia estar perdido em uma floresta selvagem e misteriosas à mercê de feras famintas, espíritos vagantes, depois estava como um réu no juízo final. Na verdade, ele sentia que estava enlouquecendo, a sua dor era demais, sufocava, apertava, esganava, tomava toda a sua alma, seu coração, espírito, pensamentos…

Envenenava todo seu ser com amargura e desespero. Por que ela se suicidou?  Sempre tão cheia de vitalidade! Gostava da vida… Nunca reclamava da vida. Escassos momentos a viu triste. E tal tristeza não a faria cometer um pecado tão torpe, imperdoável! Qualquer coisa ela contaria, se abrir-se-ia… Era amigo e confidente dela… Era muito estranho isso! Como pode?  Deve ter algo por detrás de tudo isso… Ou a loucura, que está se abatendo sobre o reino já chegou até a nobreza?

Como pode tamanha desgraça ter caído sobre ele? Ainda não acreditava. A rainha para Denis era um grande exemplo de sagacidade, firmeza, altivez, fortaleza, inteligência; virtudes que não via no seu pai; desejava cada vez mais aprender com a mãe essas qualidades, que futuramente o fariam um notável rei. E ela fazia de tudo para não ser como o pai, um fraco, ensinava-lhe tudo quanto sabia, pois ela era filha de um grande imperador, também colocava-o para ser rodeado dos maiores mestres em política, filosofia, matemática, línguas, artes, espadachins, artes marciais, entre outras ciências. Queria ele um rei de verdade. 

E, quando Denis estava cansado de tudo, entristecido por não ter tempo e não ter irmãos para brincar as brincadeiras de meninos, ela pegava-o no colo, beijava, afagava e sempre o chamava para brincar de floresta perdida, seu jogo preferido, aí vinham outras brincadeiras e do quarto real só se ouviam gargalhadas durante horas. Só paravam quando os dois chegavam à exaustão de tanto pular, correr, cair, sorrir e brincar… Quando cresceu, tornou-se um rapazinho, foi a ela que contou seus segredos, os mais profundos, os desejos, dos mais infantis aos mais ambiciosos, os sonhos mais coletivos ao individual.  E a rainha sempre abria o coração a seu filho – às vezes chorava. Um dia, contou que casou com o rei Iago forçada, pois não o amava, o seu casamento foi uma aliança política. Mas, agora o amava, porque ele havia lhe presenteado com os melhores presentes que uma mulher pode receber – os filhos.

Ele e a mãe, à tarde, sempre cavalgavam pelo bosque, algumas vezes iam até a floresta, disputando corridas. Ela o tratava carinhosamente de meu rei, e ele a chamava com orgulho e amor de minha rainha. O príncipe herdeiro estava desorientado, tinha perdido para sempre sua estrela guia, sua bússola. 

      Uma pequena parte da população que ainda estava lúcida e de pé, sabia que com a morte da rainha, um reino apocalíptico se instalaria sob eles. Porque sabiam que ela não era um grande exemplo de generosidade, contudo, tinham conhecimento de que era ela que aplacava um pouco as suas ideias de fazer leis loucas contra o povo.  Então, houve também lamento no meio da plebe. Realmente todo o reino pranteou, enlutou-se com o falecimento tão repentino e trágico da Sua Majestade.   

     A nobreza e a plebe choraram por sua rainha durante duas semanas, cantando melancólicas cantigas antigas, como era tradição do povo. O funeral foi tristemente lindo na enorme e majestosa catedral do reino. Apesar de alguns ferimentos no rosto, a rainha continuava linda – seu aspecto era plácido – estava vestida de maneira esplendorosa, com vestes reais, joias magníficas. Se assemelhava à uma santa na sua glória. 

   O sacerdote na cerimônia do sepultamento recitou profundos e emocionantes, versículos do Livro Sagrado, enalteceu as qualidades da monarca, da saudade que todos sentiriam. Depois um pequeno coral de crianças com vozes celestiais entoaram lindos cânticos tristonhos até o caixão de cristal entrar na galeria exclusiva para os soberanos do reino.

O que estará por detrás da estranha e repentina morte da rainha?! 

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