O desafio de mudar o mundo

Daniel Calarco: buscando mudar realidades. Créditos: Acervo OIJ

A educação é um dos maiores meios pelo qual uma pessoa pode se diferenciar das demais, e se tornar alguém mais consciente do seu papel no mundo e na sociedade em que vive. Mesmo diante desse conhecimento que deveria ser um senso comum, sabemos que o Brasil é um país que pouco preza por investir na educação de suas gerações mais jovens. Em locais de violência, como as periferias das nossas grandes cidades, o que mais se observa são escolas sucateadas e um sistema desestruturado, que permitem às organizações criminosas levar jovens para os caminhos errados, por causa da falta de perspectiva geral.

Entretanto, existem muitas histórias de pessoas que conseguem superar obstáculos e sair dessas suas realidades, através de oportunidades únicas, e uma vontade enorme de se agarrar nelas, para mudar a sua vida e, posteriormente, a de muitos. Atendendo a esses requisitos de garra e luta, chegamos à história de Daniel Calarco.

Daniel tem 21 anos, e cresceu na Vila Vintém, em Padre Miguel, e na Vila Aliança, em Bangu, bairros da zona oeste carioca. Hoje, ele é bolsista e estuda na Escola de Direito da FGV, aqui no Rio de Janeiro, umas das faculdades mais renomadas do país. Sua história de vida é fantástica e de alguém que alcançou um sucesso imediato. Quando mais jovem, foi aluno do Colégio Pedro II, na unidade de Realengo. Nesse período, em 2015, ganhou uma bolsa para estudar política, economia e direito na universidade de Yale, nos Estados Unidos, durante um curso de verão para jovens líderes.

Mas a história do jovem começa bem antes. Desde sempre, Daniel trabalhou com os pais na feira, aprendendo o valor do trabalho e recebendo muito incentivo para estudar e tirar o máximo que podia das oportunidades que recebia. “Oportunidade é uma palavra que tem muito significado para mim, pois foi sempre o que busquei. Para chegar onde cheguei, tive o apoio de muita gente. Muitos amigos meus, adolescentes que faziam esporte comigo, estudaram comigo, acabaram se perdendo no caminho, pois não tiveram o apoio que eu tive. Acredito muito em Deus e na missão que ele tem para cada um de nós”, ele nos disse.

Contando com um diferencial que foi o apoio familiar, e nos falando um pouco mais sobre sua infância e o local onde cresceu, Daniel destacou: “Aqui faltam oportunidades e suporte, e sobra a violência e o tráfico. Desde sempre me questionei sobre essa realidade. Lembro que quando era novo, treinava na Vila Olímpica Mestre André, que foi fechada um dia, e levou com ela sonhos de muitos jovens que, como eu, tinham ali um lazer e uma atividade além da escola.”

Motivação nunca foi algo que faltou para Daniel: “Vi que, para muitos, somos só números, e queria mudar isso, mostrar que o jovem precisa ser ouvido, pois somos não o futuro, mas o presente. Foquei nos estudos e passei para o Colégio Pedro II em Realengo, a primeira unidade fora da Zona Sul e Centro, do melhor colégio do Brasil, o que transformou os meus sonhos. E eu sonhei cada vez mais alto, como um ato de rebeldia!”

Pelo seu interesse em propor ações e pensar mudanças sociais, ele fundou o Observatório Internacional da Juventude (OIJ), organização de lideranças jovens para proteção dos direitos humanos, orientada pela Agenda 2030 das Nações Unidas. O Observatório atua em três principais frentes, realizando capacitações para jovens, oferecendo consultorias para organizações públicas e privadas, e fazendo advocacia pelos direitos da juventude.

Créditos: Acervo OIJ

Enquanto presidente do OIJ, foi Conselheiro Nacional de Juventude do Governo Federal, e atuou em parceria com as principais agências da ONU no país, Governo Estadual e Municipal do Rio de Janeiro, em projetos como Empreendedoras Líderes do Amanhã, FavelaLAB e Empodera YOUTH.

Dando mais um enorme passo em sua vida, ele está prestes a passar um semestre em outra grande universidade americana, a de Columbia, em Nova York, na escola de Direito. Será um intercâmbio complementar aos estudos no Brasil, que vai abordar um dos cursos mais renomados da instituição: Direitos Humanos e Negócios. Ele vai para lá em agosto e volta em janeiro, pretendendo voltar para o nosso país com novos projetos. “O que mais me anima na minha vida é o próximo desafio! Agora fui selecionado para estudar na Columbia Law School. Essa universidade é uma das melhores do mundo. Foi onde o Barack Obama se formou!”

Como você pode ver, nós entrevistamos Daniel, e ele também nos contou mais sobre sua trajetória, pensamentos, projetos e sonhos.

ANF – Qual o retorno dos seus projetos dentro das favelas, em relação aos jovens?

Daniel: Os jovens de favela já nascem empreendedores, aprendendo a se virar desde cedo. O nosso desafio é mostrar isso para o mundo, expor esse valor que todos nós temos. Os jovens que trabalham conosco no OIJ tem dado um ótimo retorno, pois eles passam a ter incentivo e perspectiva, e essas são palavras-chave. O jovem, quando tem perspectiva que as coisas podem ser diferentes, se anima a fazer a parte de projetos, criá-los, se engajar e se doar de verdade. Mas ele precisa receber sempre incentivo e apoio para ter a certeza que a mudança é possível, e é isso que tento fazer com a minha trajetória: passar para outros que, juntos, conseguimos fazer a diferença.

Créditos: Acervo OIJ

ANF – Qual o caminho para os jovens saírem do mundo do crime?

Daniel: Hoje, nós que trabalhamos com projetos sociais, temos uma missão muito grande, que é de mostrar para os jovens que a nossa realidade pode ser melhor, sim, e que existe solução para os problemas que vivemos. Muitas são as respostas fáceis. É tanta pobreza, falta de um governo eficiente e sério, de educação e de suporte, que fica impossível acreditar em um amanhã melhor. Mas nós, jovens, precisamos assumir um papel de liderança, e entender que somos nós por nós, e que a nossa vida vale a pena. Se está ruim hoje, vai melhorar amanhã. Nós precisamos apoiar essa geração nova para ser resiliente e ter a confiança em nós mesmos.

ANF – Quais foram seus principais aprendizados nas suas experiências internacionais?

Daniel: Minha experiência internacional me permitiu entender que, ao redor do mundo, os desafios são muito parecidos, e podemos pensar em soluções de maneira conjunta. Tem muita gente boa tentando melhorar o mundo nesse momento, em cada um dos cinco continentes. Lá fora, vi o carinho que os demais países têm com o Brasil e a fé que eles têm de que somos um país inclusivo e tolerante. E eu acredito que podemos ser sim esse país! As oportunidades que tive fora do país me permitiram ter a certeza que é possível sim fazer transformações sociais profundas e aprender muito sobre como outros países enfrentam seus desafios.

ANF – Para concluir, quais são seus principais sonhos e planos para o futuro?

Daniel: Fazer a diferença na vida de outros jovens!

Créditos: Acervo OIJ