O carnaval acaba, as reflexões ficam

Imagem reprodução da internet.

“O carnaval é um teatro de protesto e loucura que busca concertar a separação e alienação sentidas.” — M. Baje (2002, p. 15).

Que o povo brasileiro é festeiro disso ninguém duvida, mas parece que não estamos dando a devida atenção à potência da união de folia com ativismo. Quando se pensa nesse tema, a primeira coisa que se vem à mente é os desfiles das escolas de samba que tratam de temas como política, cultura, educação, entre outros e são formas de luta super válidas e importantes. Mas, neste artigo vamos nos conter ao carnaval de rua. Quem quiser ler mais sobre os outros aspectos do carnaval, dá uma olhada nas redes da ANF que cobrimos as festividades!

É claro que a luta ao direito das mulheres andarem livremente nas ruas vem de muito tempo, mas podemos citar para abrir os exemplos a onda de tatuagens temporárias onde se lê “Não é Não”, projeto que surgiu carnaval do ano de 2018. As tatuagens foram feitas através de um financiamento coletivo e online produzido pelo movimento feminista brasileiro e vemos até hoje o emblema em roupas e tatuagens nos blocos. Desde então, companhas contra o assédio na época do carnaval só crescem. Nesse ano de 2020 uma campanha que ganhou a atenção da mídia foi a do governo do Maranhão, que usou como fundo o hit “Tudo ok” para chamar mulheres vítimas de violência à denunciar junto à Delegacia Especial da Mulher (DEM).

Créditos: Delegacia Especial da Mulher (DEM) do Estado do Maranhão.

Também teve muito debate quanto ao uso de fantasias que fazem apropriação cultural e ridicularizam minorias sociais. Essas fantasias carregam estereótipos e desrespeito a histórias marginalizadas. Também se falou sobre homens cis que se fantasiam com roupas tidas como femininas e saem falando pelos blocos que estão de “travesti”.

Créditos: Antra.

Mas, não só de fantasias problemáticas se brincou o carnaval. A cantora Anitta chamou a atenção para os animais ameaçados de extinção através de fantasias e textos nas legendas das fotos, levando dados e conscientização sobre o tema. Os animais citados foram onça pintada, camaleões, sapos e pererecas, abelhas e urso panda. E você sabia que esses animais estavam em situação de ameaça à extinção?

Créditos: reprodução do instagram @luisamell

Luisa Mell, ativista dos direitos dos animais, publicou em seu instagram: “[…] E para minha felicidade o tema deste ano é o reino animal! @anitta arrasando, mostrando q n precisa da pele dos animais para ficar gata!! Escutem a mensagem pessoal: nada de plumas, peles e penas!! Se divirtam e deixem os animais em paz!! […]”

O perfil no instagram e facebook @cantadasprogressistas publicou fotos de seguidores que se fantasiaram de memes contra o conservadorismo e a direita política pelos blocos desse carnaval. Teve fantasias desde urna eletrônica com plaquinha “Para checar o voto antes de beijar” e até fantasia de casal: “Quero ficar ao teu lado até conseguir me aposentar”.

Na área da ecologia, também notou-se o aumento do debate sobre alternativas biodegradáveis, como bioglitter e confetes de folhas secas em invés de papel ou plástico. De acordo com a Agência Brasil, a Comlurb, empresa encarregada da limpeza urbana da cidade do Rio, retirou 541 toneladas de lixo das ruas e apenas 1,7 toneladas são potencialmente recicláveis.

As reflexões geradas, as boas e más consequências das atitudes tomadas por cada um de nós ficam. O fim do carnaval é um bom momento para se hidratar e pensar sobre como queremos a sociedade e o planeta para o próximo carnaval.