Nós somos a mudança que querermos ver no mundo

Outro dia um amigo iniciou um movimento intitulado: vamos mudar o mundo! Achei bastante sonhador, quase utópico (“é uma loucura tentar explicar ao mundo aquilo que ele não está preparado pra saber”).

Como “eu só consigo ver a montanha, se eu sair da montanha”, resolvi me despir dos meus (pré)conceitos e observar. Dia após dia, fui me surpreendendo com o poder da mudança.

O primeiro ingrediente sabiamente utilizado por ele, claro, foi o amor. Começou com pequenas coisas: reencontros com amigos, manter a casa sempre limpa, praticar o perdão! Bingo!

Comecei a acreditar no poder que uma pessoa tem de mudar o mundo. Esquerdista radical, de peito e coração claramente abertos, ele procurou pessoas queridas com as quais não falava desde as eleições 2018, entre elas, a mãe dele.

Ali, entendi que sim, nós podemos mudar o mundo. Como resume a lei de Hermes Trismegisto: quando eu mudo, tudo muda. “Tudo que penso, imagino e falo no plano físico, reverbera no plano astral e se materializa”.

Comecei a refletir sobre os claros exemplos de mudança que eu tinha e no quanto eu mesma já havia mudado ao longo da vida.

Lembrei de Júlia, minha sobrinha e afilhada que é cega e no quanto ela veio pra transformar mundos. Em apenas dois anos, transformou o meu mundo e o da minha família em um mundo muito mais cheio de amor e nos fez entender que sim, “existem muitas formas de ver o mundo”.

Lembrei de uma rica experiência de transformação de mundo que presenciei enquanto estive assessora da Natura no Nordeste. A Natura tem como meta reduzir a emissão de carbono nos países onde atua e se tornar carbono zero, mesmo em plena produção (isso também muda o mundo).

Para alcançar a meta, além de reduzir a emissão com práticas sustentáveis, ela também compra créditos de carbono de outras empresas que estão mudando o mundo. Uma vez visitei uma comunidade beneficiada por um desses parceiros, o Instituto Perene.

Era uma comunidade rural no recôncavo baiano que estava tendo seus fogões a lenha convencionais substituídos por modelos sustentáveis, que com a mesma potência reduzem em até 70% o uso da lenha.

Eram casas muito simples, pequenas e com pouca circulação. Não lembro de nenhuma casa com reboco, fogão a gás, nem com lugar para sentar, mas, como estava acompanhada pelos coordenadores do projeto, fomos recebidos como “reis” (coisas que, mesmo com ausência de dinheiro, o amor permite).

A mãe da líder comunitária que nos recebeu esteve condenada à morte pelo comprometimento do pulmão, mas, com os novos fogões, já estava quase recuperada.

“Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de três bilhões de pessoas dependem de fogões a lenha para cocção (preparo de alimentos). Estima-se que cerca de quatro milhões morram prematuramente todos os anos em decorrência de doenças relacionadas à inalação contínua de fumaça.

Fogões convencionais à lenha demandam um volume excessivo de madeira, e a fumaça proveniente do processo de queima resulta em graves problemas de saúde, afetando principalmente pulmões e olhos e, especialmente, em mulheres e crianças”.

Lembrei do Gilvã Mendes, um amigo que nasceu pobre, preto e com paralisia cerebral, mas resolveu “mudar o mundo”.

Gilvã cresceu, estudou, formou-se psicólogo, casou e se tornou um grande escritor, autor de dois livros, entre eles “queria brincar de mudar meu destino”, que foi aprovado pelo PNLD e a partir de 2020 integrará o currículo das escolas de todo o Brasil.

Por outro lado, lembrei com tristeza de outro amigo muito do bem e querido que, num dia de indignação com a humanidade, resolveu postar que odiar era preciso.

Tente de todas as formas, olhar as mazelas do mundo e pensar no que teriam ganho suas maiores vítimas se, em vez de se nutrir de esperança e amor, tivessem preferido odiar.

Lembrei dos pais da Ágatha, uma das crianças mortas por bala perdida no Rio de Janeiro esse ano, que em meio a maior dor que alguém pode sentir na vida, pediram paz e mais amor em rede nacional.

Lembrei da quantidade de mulheres que esse ano sofreram tentativas de homicídio e, por terem sobrevivido, resolveram se livrar do lixo que seus ex parceiros deixaram nelas e resolveram perdoar, passar por cima do sofrimento e seguir.

Ao mesmo tempo, busquei exemplos de pessoas que optaram por acreditar que odiar era preciso e lembrei de uma pessoa chorando copiosamente num dos grupos de terapia que já participei dizendo que, há 15 anos, vivia todos os dias a dor da traição do ex noivo. O cara casou, construiu família, já estava com filhos crescidos e ela, parada no tempo, odiando uma pessoa que mal devia lembrar dela (ódio é atraso de vida!).

Me senti grata por ter compreendido. Não foi final feliz de novela, nem conto de fadas de quem vive em redoma de cristal, foi lição de quem conhece na pele a realidade das pessoas nascidas e criadas nas favelas do nosso Brasil, de quem sabe que aqui a lei talvez nunca seja igual para todos e que ninguém nunca disse que seria fácil, mas só não podemos desistir!

Afinal, se a gente não gosta da forma como está o mundo e do lugar onde estamos no mundo, podemos mudar e a mudança começa por nós mesmos.

Sim, “nós somos a mudança que queremos no mundo”!