Entre bruxos e fadas

Multidão

A minha essência já não me pertence mais,

Espalhou-se como a poeira no meio da ventania
Tem cacos de mim por todos os cantos,
É como ressalva de mim mesma em cada árvore,
nas terras que dão frutos,
em cada gota do oceano.
Tudo está em mim! Tudo me pertence e a tudo eu pertenço
O sangue daquele moleque morto foi lavado com minha dor.
A voz engasgada daquela (ex )curumim foi abafada com meu urro.
O desespero daquela mãe solitária, caída no chão, foi abrandado com minha esperança.
A consternação daquele velho usurpado pelo tempo foi abrandada pelas lembranças que lhe dei.
Em mim não há mais nada de meu,
Trago todas as angústias da humanidade num peito frágil e sofrido.
Trago todas alegrias da humanidade num peito forte e impaciente.

As constantes notícias  que temos acompanhado nas diversas mídias sobre as péssimas ações policiais tem deixado a população indignada e sem confiança na Instituição Militar; afinal como diz Mano Braw: ” Quem confia em polícia? Eu não sou louco”.

“a polícia sempre dá o mal
exemplo, lava minha rua de sangue, leva o
ódio pra dentro, pra dentro, de cada canto da cidade,
pra cima dos quatro extremos da
simplicidade, a minha liberdade foi roubada, minha
dignidade violentada”

Os mesmos policiais que são pagos para nos proteger, para manter a segurança nos fazem “tremer nas pernas”,  grande parte da população não consegue mais olhar para a política sem medo. Sim, faço parte do grupo que tem medo.

A Instituição Militar  perdeu  o foco na formação e capacitação de seus policiais ou simplismente mudou o foco de proteção para ataque?

Pois bem, a história mostra que a criação da Polícia Militar começa no Império, sendo a polícia do RJ a mais antiga, criada em maio de 1809 (época de Dom João 6º), quando o Rei de Portugal vem com sua corte para cá  fugindo das guerras na Europa.  A polícia foi criada para defender os interesses dos poderosos e não da população como um todo.  Antes disso havia o Regimento Regular de Cavalaria de Minas que tinha como foco manter a ordem pública, uma vez que aquelas bandas estavam cheias de riquezas. Parece que na última década eles os mineiros quiseram resgatar um passado nebuloso, trazendo novamente a política do medo: os milicianos. E o RJ não ficou para trás, também está infestado de milicianos.

Ora, ora, essa polícia tem um histórico inegável de uma forte ligação com nobreza, riqueza e pelo jeito continua mantendo essa ligação em pleno século XXI.

Espero o o sr. Beltrame, que tanto fala em mudanças nos espaços ociosos dos batalhões, que pensa em piscinas e quadras de futebol (que vejo de bom grado, pois todo trabalhador tem direito a diversão), pense também “com carinho” no processo de aprendizado na formação desses policias e que este seja contínuo, realizado com planejamento objetivo e adequado para as necessidades vigentes.

Ainda creio em dias melhores, pois creio na força do coletivo, afinal a união de Dorothy, do Espantalho,  do Homem de Lata e do Leão foi crucial para que seus desejos fossem sanados.

Não quero que o Brasil  se transforme no Mundo Mágico de Oz e muito menos que o RJ seja a Cidade Esmeralda, afinal lá também há uma bruxa má. Mas desejo que a população tenha cérebro, coração, coragem para lutar pelo direito de voltar para casa em segurança, como desejava Dorothy e Totó.

 

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Helen Ferreira
Doutoranda no Programa de Pós-graduação em Educação na Universidade Federal Fluminense; estuda Máquinas de Produção de Subjetividade: Tecnologias de Informação e Comunicação no Cotidiano Escolar, Mestre em Educação, Cultura e Comunicação pela UERJ/FEBF, com a pesquisa Serviço de Radiodifusão Comunitária: metamorfose e singularidade. Graduada em Pedagogia - com ênfase em Gestão de Sistemas Educacionais pela UERJ/FEBF.Pesquisou formação docente - Diretriz Curricular Nacional para o Curso de Pedagogia: Avanços ou Tropeços? Atualmente faz parte do GEPEMC - Grupo de Estudos e Pesquisa Escola, Memória e Cotidiano - UFF, também atua na administração do AVP - Ambiente Virtual de Pesquisa.