Mídia blinda o PSDB no escândalo da merenda escolar?

Foto: Reprodução internet

No dia 9, a Polícia Federal deflagrou a “Operação Prato Feito” que investiga o superfaturamento da merenda escolar nas escolas públicas de São Paulo, há pelo menos 20 anos. Um escândalo, visto que boa parte das escolas públicas estão nas periferias e que, com os 14 milhões de desempregados em 2018, o Estado deveria garantir a dignidade da pessoa humana e a refeição de qualidade a crianças e adolescentes carentes, através das garantias da Constituição Federal e do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

Jornais, revistas, rádios e o telejornalismo não mediram esforços em informar os dados do escândalo: unidades do ovo a R$ 12,50 (1,6 bilhão de reais de prejuízo), carne sendo trocada por ovo e merenda repetida toda semana. Contudo, em ano de eleição, surge um questionamento: Por que os meios de comunicação tradicionais não focam nos partidos políticos? Por que os mesmos canais, focados na crítica incessante aos radares e às ciclovias de Fernando Haddad, aos números da corrupção do PT na Petrobras, as transmissões ao vivo das passeatas pelo impeachment da presidenta Dilma Rousseff, não citam os partidos políticos envolvidos numa infração direta a um Direito Fundamental? Por que será que a mesma mídia que propaga aos quatro ventos frases de impacto do tipo, “a lei é para todos”, reduz o superfaturamento da alimentação escolar, a mais um escândalo, sem citar nomes e sem colocar dedos na ferida?

Parece exagero? Não. Em inúmeras matérias sobre o tema, as 30 cidades investigadas foram apenas relacionadas em uma lista, do tipo: São Paulo, Barueri, São Bernardo. Sem nomes de prefeitos e sem os partidos políticos. Isso em ano eleitoral no país que, atualmente, se intitula uma nação onde “a lei é para todos”.

Coincidência ou não, o PSDB governa 50% das cidades investigadas no escândalo. A outra metade é governada pelo PMDB, PP, PTB, PT e PDT.

Os tucanos comandam o Estado de São Paulo há mais de 20 anos. Além desse dado implacável, nas últimas eleições os “candidatos azuis” nem chegaram a disputar o segundo turno. Foi o caso de Geraldo Alckmin que, em 2014, foi eleito governador no primeiro turno com 57% dos votos válidos. Nada o impediu de ganhar. Nem mesmo a crise hídrica de 2014, que cortava água de regiões periféricas, da repressão às passeatas de 2013, que foram contra o aumento da passagem do transporte público ou da agressão aos professores que pediram aumento após uma greve.

João Dória, em 2016, ao disputar a prefeitura, ganhou logo de cara com 53% dos votos válidos. Nada o impediu: nem as investigações que ligam o partido ao cartel das licitações de metrô, nem as delações contra tucanos na “Lava-Jato” e nem nada. O que causaria a ausência de memória do povo? Reduzir escândalo a apenas mais um caso de corrupção? Qual jogo de palavras há na linguagem das abordagens jornalísticas? Por quanto tempo a mídia fala dos escândalos tucanos no Estado e de que maneira?

Noam Chomsky, um dos maiores estudiosos em comunicação, em seu livro, “Mídia, propaganda política e comunicação”, aponta alguns caminhos para entender esses fenômenos midiáticos, principalmente quando eles selecionam quem deve ser poupado ou excluído do jogo político. Para ele, “o rebanho desorientado”, ou seja, o povo que é incentivado a trabalhar e consumir é usado para a formatação de castas de poder. “É preciso que domestique o rebanho desorientado, e isso é a nova revolução na arte da democracia: a produção do consenso. (…) Desviem sua atenção para outro assunto. Não deixem que se metam em confusão. Certifiquem-se de que permaneçam, quando muito, espectadores da ação, dando de vez em quando seu aval a um ou outro dos verdadeiros líderes entre os quais podem escolher.”

Faz sentido. O PSDB deu grande suporte aos últimos projetos de Michel Temer que agradam o mesmo mercado que a mídia faz parte. Apoiou a reforma trabalhista, o congelamento dos gastos com saúde e educação por 20 anos e até a diminuição do salário mínimo. O prêmio, talvez, seja poupar para a sua continuidade no poder e a permanência de privilégios históricos.

 

Artigo anteriorÁrvore
Próximo artigoLei Áurea: 130 anos depois e pouca coisa mudou
Bruno Dias
Ator desde os 7 anos de idade, sou apaixonado por comunicação e tudo que envolve a expressão do pensamento. Vejo a arte, o diálogo e a criatividade, o caminho para a construção de um mundo mais igualitário, plural e justo. No mundo real, neste em que os títulos nos definem, sou dublador há 11 anos, jornalista formado pela Mackenzie e pós-graduando em Mídia, Informação e Cultura na USP. Almejo cada vez mais combater a parcialidade da mídia tradicional, unindo arte, conhecimento e informação na prática jornalistica. Todos os campos do jornalismo me atraem. Quero dialogar para mudar o mundo.