Mario Sergio e seu lugar no futebol

Marinho, jogador do Santos. Crédito: Reprodução/Twitter

Mario Sergio Santos Costa. O nome é de craque, mas o sobrenome revela que estamos falando de um atleta contemporâneo e não do Pontes de Paiva, falecido em 2016 no trágico acidente que envolveu a Chapecoense. O Mário Sergio em questão é outro. Também é craque. É um atacante ágil, com velocidade e precisão no chute. Forte e com boa forma física, joga pelas beiradas do campo com uma boa condução de bola, criando situações de perigo ao adversário e fazendo gols.

O futebol o batizou como Marinho e hoje ele atua pelo Santos. Evoluiu taticamente, ganhou títulos em outras equipes, e é bem mais do que a canhota que se via no Náutico. Aos 30 anos o camisa 11 santista tem um ano no clube e mostrou boas atuações em campo. Mas como todo jogador tem seu dia de falha, Marinho foi expulso em um jogo decisivo contra a Ponte Preta, na semifinal do Campeonato Paulista, após deixar o braço numa divida de bola com o adversário.

Pelo erro, desculpou-se com o time e a comissão técnica. Chamou a responsabilidade pra si e reconheceu que falhou num momento importante. A atitude do jogador seria suficiente para que o caso fosse abordado pela mídia esportiva atendo-se aos fatos ocorridos dentro do campo. Mas Marinho é negro num país extremamente racista, onde brancos têm privilégios e não se reconhecem como tais, e por esse motivo foi alvo de um comentário que expressa o sentimento de uma branquitude escravista do século XXI.

Questionado sobre o que diria num grupo de Whatsapp em que estivesse com o jogador, o comentarista Fábio Benedetti, que participava da transmissão da partida nos microfones da Rádio Energia 97, cravou: “Eu vou falar assim: ‘Você é burro, você está na senzala, você vai sair do grupo uma semana para pensar sobre o que você fez’”.

A postura de Benedetti revela uma seletividade racista centrada numa cobrança descomunal de gestos e atos protagonizado por pessoas negras. É o típico comentário de quem enxerga e quer fazer do futebol uma casa grande que até tolera negros, mas que não deixará de execrá-los no momento que errarem dentro e fora do campo.

Marinho, que foi vítima de racismo e está fragilizado emocionalmente, é mais dos muitos jogadores que cresceram no país onde se aprende a jogar nos campos das favelas, onde o futebol é mais que um esporte, é uma oportunidade de contrariar as estáticas e driblar a crônica desigualdade.

Diferente do que deseja o comentarista Fábio Benedetti, Mário Sérgio está jogando futebol. Estará em campo defendendo sua equipe. Mário Sérgio não está na senzala e tem seu lugar no futebol.