Maré e São Gonçalo: relatos do cotidiano de violência e abuso policial

Polícia entrando na favela - Foto Bruno Santos

O ministro do Supremo Tribunal Federal, Edson Fachin, no último dia 5 assinou uma liminar em que proibia operações policiais durante a pandemia. A liminar foi apresentada pelo PSB, Defensoria Pública, Educafro, Movimento Negro Unificado, Associação de Direitos Humanos em Redes (Connectas), Associação Redes de Desenvolvimentos da Maré e Instituto de Estudos da Religião.

No texto da liminar aprovada por Fachin, é informado que as operações policiais podem acontecer apenas em hipóteses absolutamente excepcionais. Mas não é isso, de fato, que está acontecendo. Nós que moramos na favela sabemos o quanto esse documento não muda a realidade de todo dia.

Doze dias depois de Fachin ter assinado o documento, o Parque União, que faz parte do Complexo de favelas da Maré, foi surpreendido por uma intensa troca de tiros e dois civis saíram feridos. Segundo a Polícia Militar, os policiais da ação foram surpreendidos com ataques enquanto estavam indo para outro local.

Enquanto isso em São Gonçalo, região metropolitana do Rio de Janeiro, acontecem operações policiais a cada dois dias sem horário para começar ou terminar. Drogas e armas são apreendidas, porém muitos inocentes pagam o preço dessas operações. O medo e o terror estão soltos em todo o estado do Rio.

Atualmente os policiais estão entrando nas favelas e protestos sem identificação, para que não sejam responsabilizados. Tudo estrategicamente pronto pra exterminar quem estiver pela frente.

Luciana, moradora de São Gonçalo, contou para a ANF como os moradores enxergam a Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro e como eles se sentem quando acontece essas operações. Segue abaixo a entrevista.

Como você se sente com as operações policiais nas favelas?

Luciana: Me sinto insegura e ao mesmo tempo vejo que isso não leva a nada e sempre continua a mesma coisa. Eles entram, atiram e espalham o terror. E a gente sabe que são os próprios que armam o tráfico, assim como os grandes empresários.

Você acha que a polícia do Rio de Janeiro está bem preparada?

Luciana: Não. Tem que haver uma desmilitarização urgente da Polícia Militar, pois é uma instituição falida.

Como você se sente com as atitudes preconceituosas da PM?

Luciana: Tem que erradicar e a lei tem que valer pra todos os lados tanto pra policiais como para todo mundo.

Você sofreu alguma tipo de violência policial?

Luciana: Não, porque tinham pessoas ao redor e eu sei dos meus direitos.

Ainda falando de violência policial nas favelas, Flávia Cândido, moradora da favela da Maré demonstrou, em vídeo, toda a sua indignação com o abuso de poder e violência da polícia do Rio de Janeiro.

 

 

Essa matéria teve colaboração da repórter Marcela Silva, moradora de São Gonçalo.