Manifestantes fazem ato contra genocídio palestino em Buenos Aires

Manifestante marcham em direção ao Congresso da Nação Argentina para defender o povo palestino. Foto: Bruno Falci
Mulheres da comunidade árabe de Buenos Aires contra a guerra. FOTO: Bruno Falci

Milhares de manifestantes, conduzindo cartazes, faixas e bandeiras, ocuparam diversas ruas e se reuniram, na Praça do Congresso, no centro de Buenos Aires, na última sexta-feira, para exigir o fim e repudiar “os constantes e criminosos bombardeios” do Estado de Israel contra a população palestina na Faixa de Gaza.

A atividade, que é promovida por representantes da comunidade árabe e islâmica da Argentina, contou com a participação da dirigente das Madres da Plaza de Mayo, Nora Cortiñas, e do ganhador do Prêmio Nobel da Paz, Adolfo Pérez Esquivel, entre outras personalidades.

Liderado por Esquivel, membros de organizações sociais, sindicatos e defensores dos direitos humanos, o protesto foi convocado sob o lema: “Parem o genocídio das crianças e do povo palestino. Chega de bombardeios, invasões e bloqueios de Gaza. Solidariedade com o povo palestino”.

O ativista e diretor do Clube de Cultura Árabe, Agustín Dib, disse: “É hora de dizermos basta à impunidade dos crimes de guerra e de lesa humanidade contra o povo palestino”.

Inúmeras entidades participam dos atos

A manifestação começou às 16 horas, em frente ao prédio do Congresso Nacional. No final do evento, representantes de organizações de direitos humanos leram um documento conjunto.

Manifestantes marcham em direção ao Congresso da Nação Argentina. FOTO: Bruno Falci

Participaram do evento, diversas confederações trabalhistas acompanhadas por representantes da comunidade árabe na Argentina e representantes de organizações políticas, culturais e de direitos humanos. Além disso, estiveram presentes:

Alejandro Hassan El Bacha, secretário geral do Centro Islâmico;

Tilda Rabi, presidente da Federação de Entidades Argentino-Palestinas;

Támara Lalli, da Federação de Entidades Árabes e representante do Comitê Argentino de Solidariedade ao Povo Palestino.

Participaram também representantes das Centrais Operárias da Argentina e da Comunidade Autônoma. Em diálogo com a agência de notícias Télam, os porta-vozes do Centro Islâmico da Argentina explicaram que “o objetivo desta nova manifestação será insistir na exigência de que Israel pare de bombardear o povo palestino”.

Gaza, um cemitério infantil

Na praça do Congresso, totalmente ocupada, as entidades denunciaram os bombardeios indiscriminados de Israel na Faixa de Gaza, que causaram mais de nove mil mortos, incluindo numerosas crianças.

Segundo o documento, esta é a forma mais cruel de intimidar um povo com o objetivo de conquistar a maior quantidade de território possível e deixar o menor número de habitantes originários.

O cenário relatado pelo documento é similar ao que foi analisado por James Elder, porta-voz do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), há alguns dias, em uma conferência de imprensa no Palácio das Nações, em Genebra, na Suíça: há mais de um milhão de crianças que enfrentam escassez de água e de necessidades básicas.

Ele alertou que a Faixa de Gaza “se tornou um cemitério de crianças”, quase um mês após o início da guerra com Israel. “É surpreendente que esse número aumenta significativamente a cada dia. Gaza tornou-se um cemitério infantil. É um inferno para todos”, declarou Elder.

O documento dos manifestantes lamenta que tudo ocorre com a cumplicidade de uma comunidade internacional que criou o problema, mas é incapaz de resolvê-lo devido à subordinação incondicional às políticas do imperialismo.

“É inconcebível que Israel seja autorizado a realizar bombardeios indiscriminados contra a população civil em Gaza, à plena vista e paciência da Europa civilizada, dos Estados Unidos e das potências ocidentais”, assinala o texto.

“O número de crianças e bebês que são mortos todos os dias pelos bombardeamentos indiscriminados israelitas contra a Faixa de Gaza não tem precedente. Uma menina ou um menino, palestinos, são mortos a cada 10 minutos por Israel.”

Um projeto de limpeza étnica

O texto denuncia que Israel dá continuação de um projeto de limpeza étnica que já dura mais de 75 anos. “É a forma mais cruel de intimidar o povo palestino para cumprir uma das premissas fundamentais do projeto sionista: conquistar a maior quantidade possível de território, deixando o menor número possível de habitantes originais”.

A mensagem afirma que é “a demolição por bombas de edifícios habitados, de centros de saúde, de infraestruturas essenciais, o assassinato de voluntários e de pessoal da ONU, a destruição por meios militares de mesquitas, igrejas e escolas onde se refugiam pessoas inocentes e desarmadas, são os mais graves. Israel nem sequer respeita as leis da guerra. Atirar fósforo branco sobre civis é um crime de guerra”.

Além disso, o documento condena o assassinato de jornalistas pelas forças israelenses e a recusa em permitir a passagem de organizações humanitárias. Israel goza da imunidade e impunidade que lhe confere o direito de veto no Conselho de Segurança das Nações Unidas aos Estados Unidos, Reino Unido e França, o que se traduz num cheque em branco para continuar a cometer atrocidades.

Mundo na escuridão

O documento considera urgente aumentar as ações de solidariedade até que acabem os crimes contra Gaza e seja reconhecido o direito dos palestinos de construir um Estado livre e soberano.

Sublinha também a necessidade do restabelecimento total das comunicações em Gaza. Isto porque, foi anulada por Israel a ligação, através de meios electrónicos ou da Internet, deixando o mundo na escuridão, sem poder aceder a informações confiáveis, enquanto jornalistas são assassinados e nega-se às organizações humanitárias, presentes em Gaza, a capacidade de canalizar ajuda aos habitantes daquele território.

A ofensiva do Estado de Israel contra o povo palestino atinge dimensões catastróficas. Dos mais de nove mil mortos na Faixa de Gaza, mais dois mil são crianças. A isto se soma a infinidade de feridos e que mais de 1,4 milhões de pessoas são deslocados internos, segundo a Agência da ONU para os Refugiados.

Além disso, há mais de 1.500 desaparecidos, muitos deles se presumem nos escombros. Mulheres e crianças representam mais de 68% das mortes. É um assédio total: o acesso a água, a eletricidade, ao abastecimento de medicamento e viveres, estão bloqueados.

Ao menos 45% das moradias de Gaza foram destruídas ou danificadas. Há 92% menos consumo de água. A passagem fronteiriça com o Egito também foi bombardeada. Esta situação foi ampliada com a incursão terrestre sobre Gaza.

Manifestantes em direção ao Congresso Argentino em apoio à Palestina. FOTO: Bruno Falci

Argentina condenou a ofensiva militar

O governo argentino condenou a ofensiva militar levada a cabo por Israel num campo de refugiados palestinos no norte da Faixa de Gaza e apelou à proteção da população civil contra o aprofundamento do conflito no Oriente Médio.

Em comunicado, a chancelaria afirmou que “condena o ataque das Forças Armadas de Israel contra o campo de refugiados de Jabalia“, que foi bombardeado na última quarta-feira, 1 de novembro, pelo segundo dia consecutivo.

Esta ação militar, que deixou dezenas de mortos, foi considerada pelas Nações Unidas “a mais recente atrocidade que atingiu a população de Gaza”. O governo argentino avaliou que a situação humanitária na região “é cada vez mais alarmante“, razão pela qual apelou a que a assistência internacional possa entrar na zona de conflito “sem restrições e com urgência para cuidar da população afetada”.

Bruno Falci é correspondente da ANF na Argentina,

autor do texto, fotos e vídeos desta cobertura.