Mães removidas nas favelas, Camila Moradia 11 anos sem casa

Créditos: Arquivo pessoal

Um grito de dignidade no Complexo do Alemão

Camila Moradia, ela afirma que o pseudonimo “Moradia” não surgiu pela luta e sim pelo fato de suas redes sociais terem sido hakeadas muitas vezes.

Então para evitar equívocos e até marcações erradas nas redes sociais o perfil Camila Moradia se tornou inconfundível, principalmente neste ano de 2022, ao expressar em alto e bom som sua indignação na visita do Governador Cláudio Castro ao Complexo do Alemão, para anunciar a retomada das obras de reinauguração do Teleférico.

Centenas de famílias removidas em 2010

Um incêndio na Favelinha da Skol, região muito vulnerável dentro do Complexo do Alemão ocupada por 600 famílias, no ano de 2010 deu inicio a saga de Camila Moradia.

Aproximadamente três mil pessoas ficaram sem casa, sobrevivendo apenas com o benefício do Aluguel Social no valor de R$ 400,00 sem reajuste até hoje. E o desafio de encontrar casa para alugar na região, foi um caos.

O processo de remoção na época foi tranquilo, pois todas as famílias eram leigas e as obras do PAC no Complexo do Alemão estavam à todo vapor. Com isso crescia a ilusão de Politicas Publicas ao alcance do povo pobre das favelas, nutrindo o sonho da casa própria.

Três anos depois as famílias permaneciam sem casa

Angustiada com o silencio das autoridades Camila Moradia começou a mobilizar as famílias removidas, para questionarem um fato muito estranho a respeito dos apartamentos construídos no Complexo do Alemão, que não foi entregue, para as famílias removidas.

Em 2015 uma audiência publica organizada por instituições com foco na luta por Direitos Humanos, foi realizada no Complexo do Alemão ao saber que autoridades da esfera publica novamente estariam presente para ouvir a população, as famílias removidas compareceram em massa.

A Comissão de Direitos Humanos, passou a dar suporte as famílias removidas e o caso ganhou projeção nacional conexões com MTST, foram feitas e um protesto rumo a Brasília foi realizado contra a EMOP empresa responsável pelas obras das residências do Complexo do Alemão.

Os impactos da violação de Direitos Humanos

Ao chegarem no Ministério das Cidades descobriram que não havia nenhum programada de Governo sobre reocupação de famílias removidas no Complexo do Alemão. É o pior existiu um programa de construção de residências populares, porém as chaves foram entregue a centenas de famílias, que nunca receberam ordem de despejo e muitas não estavam vivendo de Aluguel Social.

As famílias removidas da Favelinha da Skol, não estavam incluídas em nenhum programa social de moradia popular cedida pelo Governo, isso gerou um impacto enorme causando o adoecimento de muita gente, que estava em situação de vulnerabilidade extrema após anos sem casa.

A retomada de dialogo com o poder publico estadual

No mandato do Governador Wilson Witzel entre 2019 e 2021 não houve nenhuma forma de dialogo com a chegada de Cláudio Castro ao Governo, algumas lideranças do Complexo do Alemão conseguiram retomar o contato com o gabinete do Governador e articularam novamente a retomada do dialogo com o poder publico estadual.

Camila ao saber da visita do Governador ao Complexo do Alemão em Março de 2022, ela decidiu ir ao encontro dele, porque as obras do Teleférico estavam avançando e as de novas moradias nada. A ideia era mostrar para o Governador um documento com abaixo assinado com milhares de assinaturas reivindicando moradia.

Ela recebeu a ordem que não poderia se pronunciar e entregar o documento, pois seria uma quebra de protocolo. Mas então o Governador começou a discursar e disse que estava ali para dar voz, ela foi e cortou a fala dele, mas ele continuou falando até que Camila Moradia gritou e explanou a frase que viralizou nas redes sociais.

Nós não vamos morar no Bondinho!

Toda a equipe de segurança do Governador se aproximou, mas ele permitiu que Camila Moradia falasse e com muita sabedoria popular, ela contou sobre os 11 anos de sofrimento que as 300 famílias estavam passando. E que seria um absurdo gastar milhões com as obras do Teleférico sem olhar a questão das famílias removidas.

https://www.facebook.com/watch/?v=490933289176696

A licitação para construção de 320 unidades habitacionais saiu no mesmo dia

Com isso Camila conseguiu com o Max Lemos – Secretário de Obras do Governo do Estado um dialogo e a licitação que estava prevista para abril de 2022 foi antecipada para o mesmo dia. Existem 4 terrenos que será destinados para moradias populares e Camila está acompanhando todo o processo, junto com outras lideranças locais.

Ameaças e protocolos de segurança são rotinas na vida de Camila Moradia

Junto com esse grande avanço veio as ameaças e no dia mesmo do ocorrido Camila ouviu pessoas gritando que ela deveria ganhar umas “madeiradas” pelo simples fato de  ter quebrado o silêncio da impunidade.

Atualmente ela segue protocolos de segurança e o maior impacto tem sido na saúde mental de Camila, que teve a rotina alterada por conta disso tudo. E os haters (pessoas que usam palavras ofensivas na Internet) não deixaram barato nas ofensas e no discurso de ódio referente a Camila Moradia nas redes sociais.

Camila Moradia é considerada um dos maiores exemplos de mãe e ativista de favela

Ela está amparada por uma rede de cuidado da mulher, apesar de não ser fã de terapia ela tem acesso a psicólogos e terapeutas comunitários.

 

Camila Moradia e o Relator Especial da ONU Clément Voule Créditos: Mônica Xavier/ANF

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Monica Xavier
Empreendedora de Sonhos! Essa frase me define um pouco, Mônica "Combatente" Xavier é a mãe do Malcolm e da Aysha. Moradora de Vigário Geral - RJ, neta de nordestinos, filha de costureira, rapper, ativista social, formada em Gestão de Marketing, generalista em Direitos Humanos, comunicação, cinema, produção cultural e Mentora em Marketing Digital Sustentável (um conceito de marketing baseado nos 3 pilares da sustentabilidade , são eles: Social, cultural e ambiental. Logo a sustentabilidade significa sobrevivência e nossos valores aquilombados ancestrais nos potencializam em meios aos desafios dos ambientes hostis das periferias e favelas com objetivo de transformar mazelas em oportunidades propositivas). Atualmente estou no programa de empreendedorismo social D.A.M.A.S - Dedicadas A Movimentar Ações Sustentáveis. Sou voluntária do IDI, do PASES-RJ, AEFERJ e Diretora Executiva da Getsemani Produções. E sigo empreendendo sonhos e transformando realidades!!! @combatentexavier