Liberdade ainda que tardia

Reprodução Internet

Semana passada fiz um post no Facebook, festejando o fato de que há 15 anos, saía de um pesadelo terrível. Depois de quase 9 anos, atravessava os portões do presídio Jonas Lopes de Carvalho, também conhecido como Bangu lV. O motivo da minha prisão? Bem, fui preso porque estava num morro numa fila para comprar um baseado. Só que a polícia civil chegou atirando para tudo que era lado e me atingiram duas vezes. Corri para não ser morto por eles em algum canto da favela, quando vi uma casa com uma senhora assistindo TV. Invadi a casa e pedi a proteção da senhora. Os policiais entraram e mesmo baleado com dois tiros (um no braço e outro na cabeça de raspão), me espancaram até se satisfazerem. Quando finalmente pegaram meus documentos, viram que eu era trabalhador e perguntaram porque eu tinha corrido. Discuti com ele e fiz a besteira de dizer que meu irmão é defensor público e que os processaria por terem me baleado pelas costas. Foi a pior coisa que fiz. Fizerem um B.O. dizendo que eu era gerente da boca e que troquei tiros com eles.  O promotor aceitou a denúncia, assim como o juiz que me condenou a 12 anos e 6 meses de prisão, nos quais permaneci preso exatos 8 anos, 6 meses e 26 dias.

O post foi tão impactante que foi curtido por mais de 16.000 pessoas e compartilhado mais de 5.000 vezes. Fiquei muito surpreso com a repercussão do texto. Isso mostra como a maioria das pessoas são alheias ao que acontece no mundo real. Esse fato que aconteceu comigo, é algo bastante comum.  Afirmo peremptoriamente que um terço do efetivo carcerário é formado por pessoas inocentes. E dessas 99,9% pretas ou mestiças são da periferia ou de favelas e quase todos de famílias muito pobres ou miseráveis.

O Estado brasileiro é muito eficaz com sua política de matar, encarcerar e manter o povo negro em condições precárias. O cárcere é um verdadeiro depósito de carne humana.  Onde tenta tirar o resto de esperanças que a pessoa possa ainda manter. Por esse motivo é que a sociedade brasileira não pode ser seduzida pelo discurso dos defensores da pena de morte. Seria mais uma legitimação e um instrumento de assassínio da juventude negra.

Esse ano escreverei um livro contando como foi minha passagem no cárcere.  Aguardem.

Reprodução Internet
Reprodução Internet