Janeiro Branco, Saúde Mental e Condição Social

Crédito: Banco de imagens Pixabay

O mês de janeiro sempre começa com a campanha do janeiro branco, que por sinal é muito conhecida e amplamente divulgada.
Em meio a isso são trazidas sempre algumas dicas para cuidar da ansiedade, lidar com o estresse, evitar e prevenir a depressão, e tudo isso faz parte do processo de cuidado e informação da campanha.
O debate também pode se estender para outras áreas, especialmente a social, já que o meio em que vivemos tem total impacto sobre a nossa saúde e como vamos cuidar adequadamente.
Trazer esse debate é fundamental para que a leitura das situações possa acontecer de maneira mais prática e também de acordo com a realidade de cada pessoa.

Janeiro Branco e seus debates

O janeiro branco é uma campanha criada a fim de alertar as pessoas sobre o cuidado com a saúde mental. A ideia é aproveitar o início do ano como um papel em branco, e que pode ser aos poucos preenchido, sempre observando e priorizando as ações que fazemos no dia a dia.
Então vemos muitas ações e dicas de como cuidar da saúde mental, como não procrastinar, como evitar o estresse no dia a dia, e todas estas dicas são muito valiosas, atingindo, é claro, um público que tem uma certa demanda e que vai se beneficiar dessas informações.
Muitas delas são até acessíveis e aplicáveis, mas também é importante dar um passo a mais nessa discussão.
Como dito, o meio também interfere na nossa saúde mental, e isso significa diretamente que você precisa lidar com uma rotina, e esse é o ponto de debate que precisa ser sempre lembrado, inclusive por mim, psicólogo que também falo sobre as tais dicas de cuidado.
Primeiro, a condição social não é igual para todas as pessoas. Não ter acesso a uma alimentação digna, por exemplo, já influencia negativamente esse tipo de cuidado.
Outro fator é o emprego. Nem todas as pessoas trabalham com o que gostam ou com o que sonham, tendo acesso a empregos que tomam boa parte do tempo e da energia, tendo muito pouco para investir até mesmo em educação para ter acesso a outras vagas de emprego.
Estar sem acesso à educação e saúde de qualidade em meio a uma pandemia é outro fator que deixa as pessoas sempre mais apreensivas e com inseguranças.
Janeiro é um mês que marca o início do ano, e também vai trazer ansiedade para estas pessoas. Procurar um emprego novo, pensar nas contas a pagar do início do ano, ter que pensar também a longo prazo, o que fazer para não deixar o ano passar em branco…
É o caminho inverso do que a campanha traz. Muitas vezes algumas dicas também vão estar inacessíveis para esse público, como terapia, ou organização, ou mesmo a condição de realizar mudanças mais radicais na rotina ou no trabalho.
É preciso estender o janeiro branco também para o diálogo de políticas públicas para quem precisa, para que assim a gente possa falar de saúde mental igualitariamente para todos os públicos.
Não adianta tanto trazer “n” dicas para cuidar da saúde mental se a gente também não observa as condições da população e não questiona esse tipo de diferença. Do contrário, temos uma campanha voltada especificamente para classes bem definidas.
Dito isso, não é intenção de problematizar a campanha ou criticar quem trabalha em prol dela. O papel é sensibilizar a todos nós, profissionais que atuamos diretamente na área e a sociedade como um todo para observar que nem sempre as condições são iguais para o cuidado da saúde mental.
Brigar por políticas públicas e por condições iguais para todos também deve fazer parte do janeiro branco e tantas outras campanhas que existirão durante o ano.

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