Favela do Tabajaras e Cabritos – Violações, terrorismo, tiroteio e morte

A policia fechou a rua para os moradores não passar. Créditos - Morador

Nessa segunda, 3 de setembro, o BOPE realizou mais uma operação no Tabajaras e Cabritos. Os primeiros tiros foram ouvidos por volta das 6h da manhã e logo depois moradores já denunciavam invasão de casas e agressões. Segundo relatos, trabalhadores estariam sendo agredidos por usarem seus celulares na rua e, em vídeo publicado na internet, uma mulher mostra a casa do seu vizinho que foi invadida e depredada enquanto ele estava fora.

As creches ficaram mais uma vez impedidas de funcionar e o transporte de kombis e motos circulando era reduzido. O clima era tenso e poucas pessoas transitavam nas ruas.

O caveirão deixou a comunidade no final da manhã, quando aparentemente a operação já tinha acabado. Perto das 15h tiros foram ouvidos novamente e a informação de que um jovem havia sido baleado e que a mãe pedia ajuda, já que o socorro estava sendo negado.

Policiais bloquearam a rua com o caveirão, impedindo o acesso ao corpo inclusive pela mãe, que pedia pra ver o filho. A ambulância foi acionada pra prestar socorro e chegou a conseguir passar pelo container da UPP, localizado no início da rua Euclides da Rocha, porém ao chegar próximo ao local os policiais da BOPE deram ordem pra que a ambulância voltasse.

Uma moradora que tentava ajudar a ambulância a chegar ao local, também foi impedida.

“Mandaram eu descer da ambulância. Falei que sou uma mãe tentando ajudar outra mãe a salvar o seu filho. Eu desci, dei as costas e ele gritando ‘rala antes que eu perca a paciência com você’. Eu achei que ele fosse me dar um tiro nas costas, tava com o fuzil apontado pra mim.”

Indignados, moradores se reuniram próximo ao caveirão e protestaram, pedindo que deixassem a mãe ao menos ficar perto do filho. Segundo os policiais presentes, o rapaz já estava morto e de que não adiantava subir ambulância já que não havia ninguém pra socorrer. Um outro policial, logo depois, afirmou que eles não podiam atestar o óbito porque não era sua função. Em meio às diferentes respostas e informações desencontradas, do local onde ocorreu essa guerra a voz do rapaz, que gritava pela mãe.

Em resposta a indignação de quem estava protestando no local, os policiais mandaram que todos se afastassem, alegando que era “pra sua própria segurança” já que eles estavam com uma granada posicionada em frente ao caveirão. Um homem chegou a ser agredido e levado pra trás do blindado, e em outros pontos da favela os policiais tentavam dispersar os moradores com pedaços de madeira e spray de pimenta.

Já por volta das 17h a situação ainda era a mesma. Mesmo afirmando que o jovem já estava morto, os policiais continuaram impedindo a passagem de qualquer veículo pela rua e só liberaram o corpo as 20h. Durante todo esse tempo a mãe chorou, desesperada, a suposta morte do filho, a poucos metros do corpo e sem poder chegar perto dele. Também durante essas horas o transporte foi impedido de circular, dificultando o retorno das pessoas a suas casas após o trabalho.

O desabafo de um morador em meio a situação revela a sensação generalizada de impotência:

“Está a deus dará. Tá tendo uma carnificina em todas as comunidades, e a comunidade não tem como reclamar, não tem como falar nada, só sofrendo calado. Entram em casa, quebram tudo e fica por isso mesmo.”

Mais tarde o clima ainda era tenso e o cenário de devastação. Algumas lixeiras ainda queimavam, as ruas ficaram desertas, e restou mais uma vez à favela tentar dormir depois de um dia sendo submetidos a tantas formas de violência, torcendo pra que seus becos e vielas amanhecessem em paz.