Favela: contaminação da água afeta saúde, o orçamento familiar e o pequeno negócio

Morador e comerciante da Serrinha, Rafael Rittor relata o sofrimento dos moradores com a crise no abastecimentos de água. Imagem: Danilo Firmino/ANF.

A crise no abastecimento de água potável vivida pela população do Rio e de municípios da Baixada Fluminense está perto de completar um mês e, as causas da contaminação, bem como seus efeitos para o consumidor, ainda estão longe de uma solução. No dia 23 de janeiro, 20 dias após as primeiras observações na alteração da água, a Cedae, tomou medida a fim de minimizar a aparência estranha. A contaminação, que acontece no reservatório de água que abastece a cidade em quase sua totalidade, se dá, segundo especialistas, pelos esgotos da própria Cedae, que lá desaguam. A medida tomada pela Cedae foi a aplicação de carvão ativado na Estação de Tratamento de Guandu, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. A companhia não informou quando o consumidor vai perceber melhora no odor e sabor da água.

Enquanto isso, a população sofre com a água que, segundo especialistas, não é segura nem para tomar banho ou dar aos animais. Para se proteger, os consumidores recorrem ao velho método de fervura da água antes de beber e, para quem dispõe de recursos, a saída é comprar água mineral. Mas, não é só em casa que a crise afeta a rotina da população. Para o pequeno comerciante e prestadores de serviço, a água contaminada representa prejuízos. Uma triste matemática de aumentos nos custos com diminuição dos rendimentos.

No morro da Serrinha, em Madureira, Zona Norte do Rio, moradores que já são vítimas da falta de abastecimento adequado, sofrem ainda mais como a crise atual.

Nascido e criado na favela, Rafael Rittor, 22 anos, ator e comerciante, é quem relata o sofrimento pela qual a população está passando.

“O problema da água sempre foi muito sério. É meio desleal, porque tem locais em Madureira que a água não falta, mas no alto da comunidade quase nunca tem água. Quando tem, chega de madrugada, que é quando o trabalhador, o cidadão de bem, tem que descansar para trabalhar. O cidadão de bem que acorda cedo, pega ônibus lotado, vai para a luta, volta e não tem água na caixa d’água par cozinhar, para beber… Agora esta pior. O pouco que tinha não pode ser consumido. A água está trazendo doenças. Crianças, idosos passando mal mesmo depois de ferver. Estamos falando de uma comunidade de gente carente, sem condições financeiras”, descreve.

Dono de um pequeno comércio, uma pizzaria delivery, ele viu o movimento cair e o investimento aumentar.

“O custo aumenta para preparar o alimento, para cozinhar. Estou tendo que comprar água mineral. Uma garrafa que custava R$ 2, agora estamos pagando R$ 4. Isso quando tem no mercado, porque o estoque está sempre vazio”, relata o pequeno empresário.