Famílias são despejadas do acampamento Quilombo Campo Grande em Minas Gerais

Trabalhadores sem terra de Minas Gerais resistem a despejo - Fotos: Gean Gomes/MST

Está sendo realizado, no acampamento Quilombo Campo Grande, Campo do Meio – MG desde a última quarta-feira, 12, o despejo de famílias sem terra determinado pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais e com o aval do governador do estado, Romeu Zema, após pedido de reintegração de posse. De acordo com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a ação foi realizada com truculência com cerca de 150 policiais militares e sem mandado judicial e até o momento, despejaram seis famílias e destruíram uma escola. A polícia segue fazendo um cerco no acampamento.

Hoje, 14, o Partido dos Trabalhadores entrou com um pedido no STF para que o ministro Edson Fachin suspenda o mandado de reintegração de posse afirmando que: “se trata de ato ilegal, arbitrário e desumano e que contraria uma decisão do ministro do STF, que em maio determinou a suspensão de todos os processos judiciais de reintegração de posse e de anulação de demarcações de terras indígenas durante a pandemia de Covid-19”.

O acampamento existe desde 1998 e ocupa uma área que antes era a usina de açúcar Ariadnópolis. Atualmente o local abriga cerca de 450 famílias que realizam no terreno atividades agrícolas como: produção anual de 510 toneladas de café sem o uso de agrotóxicos, produção de oito toneladas de mel, produz também: cereais, hortaliças, frutas, fitoterápicos, leite e derivados, além de produtos processados como doces e geleias. Na última quinta-feira, 13, a Campanha Despejo Zero, enviou um informe para o relator especial de moradia adequada da Organização das Nações Unidas (ONU), Balakrishnan Rajagopal, informando e denunciando o despejo de seis famílias e o risco que as outras famílias estão correndo.

A usina falida fazia parte da Companhia Agropecuária Irmãos Azevedo (Capia), que encerrou as atividades em 1996. Após os agricultores revitalizarem as terras abandonas, os proprietários da Companhia passaram a pedir reintegração de posse. O pedido atual de despejo partiu do empresário Jovane de Souza Moreira, que tenta reativar a usina falida para cumprir um acordo comercial com a Jodil Agropecuária e Participações Ltda, que tem como propietário João Faria da Silva, considerado um dos maiores produtores de café do país.

A ameaça aos moradores do acampamento é assunto nas redes sociais, sendo comentado por diversas pessoas, uma delas disse:

“Essa reintegração de posse do Quilombo Campo Grande não faz o menor sentido. Já foi negada, suspensa, adiada, entram e saem juízes dando pareceres diferentes. O fato é que 450 famílias estão a mais de 20 anos habitando um território, cultivando, educando, resistindo e recuperando terras degradadas duma usina de cana-de-açúcar falida que deve uma fortuna em direitos trabalhistas. Só faz sentido mesmo pra quem vai tomar frutos do trabalho coletivo dessas pessoas e transformar em lucro individual enquanto elas são jogadas sei lá onde no meio de uma pandemia”.