Empreendedores da favela usam as redes sociais para driblar a crise

Empresária faz controle de público na loja Bárbara Modas, no Jacarezinho, devido à pandemia - Foto Arquivo pessoal

“Remando contra a maré” é como se sente quem tinha todos os motivos para contabilizar prejuízos, mas conseguiu driblar a crise e hoje comemora. É o caso da empresária Bárbara Costa, de 36 anos, proprietária de uma loja de roupas femininas na favela do Jacarezinho, na zona norte do Rio de Janeiro e há 17 anos no ramo: 

“No início eu fiquei bem preocupada, tudo era muito incerto e o movimento na loja caiu muito. Quando a pandemia chegou, muita coisa mudou, a feirinha do Jacaré fechou, tivemos várias medidas de segurança, e entendi que precisava mudar a minha estratégia. Coloquei várias peças em promoção, fiz festivais de descontos programados e foquei mais na comunicação digital com minhas clientes e no serviço de entregas”.

Este é o tom da marca “Bárbara Modas”, que já era referência na comunidade do Jacarezinho e agora abre caminho para novo período de sucesso. “Hoje tem gente de outras cidades que me procura pra receber as minhas peças em casa, pelo mototáxi, e diz que vai continuar comprando mesmo depois que tudo passar”.

Segundo a Federação do Comércio do Rio de Janeiro (Fecomercio-RJ), 46,2% dos comerciantes sentem a necessidade de algum tipo de crédito em agosto. Ou seja, um em cada dois empresários precisava pegar recursos emprestados cinco meses após o início da pandemia.

A loja Moda GG Diva aumentou seu faturamento ao apostar nas redes sociais. Foto: Arquivo pessoal

Este, por pouco, não foi o caso de Ana Paula Gomes, de 36 anos: “Não pedi empréstimos, porém, tive que usar mais o cartão de crédito parcelado para segurar as contas e para não fecharmos no início”.

Ela também é empresária do ramo de roupas femininas no Jacarezinho, com o diferencial da moda “plus size”, o que não a livrou de passar pelo sufoco. A “Moda GG Diva” chegou a enfrentar uma queda de 70% das vendas no início da pandemia. 

“Começamos a estudar para saber o que podíamos fazer de diferente, para que as vendas voltassem. A internet hoje é o nosso maior meio de divulgação e com ela conseguimos nos fortalecer e alcançar não somente as pessoas das proximidades como também as divas de todo o Brasil. Fizemos parcerias com influenciadores digitais da própria comunidade e páginas de divulgação. Essa estratégia  alavancou nossas vendas para um nível ainda mais alto do que antes da pandemia”, afirma a comerciante.

Se dependessem de empréstimos, os empreendedores das comunidades enfrentariam ainda mais desafios. Segundo o Sebrae, cerca de 60% dos que buscaram crédito até abril tiveram o pedido negado. Mais uma razão para achar um “jeitinho” de sair do sufoco. A jovem doceira Ynarak Mairinck, de 24 anos, investiu na identidade visual da sua marca nas redes sociais para atrair público. “Fiz fotos dos meus doces com uma profissional da comunidade, fiz concurso na internet para que pessoas aleatórias recebessem meus produtos e divulgassem nas redes sociais delas. Além disso, investi bastante na comunicação e na divulgação online para me fazer presente na comunidade do Jacarezinho, que é onde está meu maior público”.

Antes da pandemia do novo coronavírus, o instituto Data Favela avaliou que as 13,6 milhões de pessoas que moram em favelas do Brasil movimentam cerca de R$119,8 bilhões por ano. A expectativa geral, apontada pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban), é que a economia do país se restabeleça em até um ano após o fim da pandemia.

Esta matéria foi produzida com apoio do Fundo de Auxílio Emergencial ao Jornalismo do Google News Initiative.