Empreendedora fala sobre processo de inclusão através da Libras

Empresária Eurides Nascimento. Foto: Divulgação
Eurides Nascimento criou a Libras + como forma de contribuir para a disseminação da Língua Brasileira de Sinais (Libras)

Empresária Eurides Nascimento. Foto: DivulgaçãoEm 2009, quando terminava a graduação em Letras, Eurides Nascimento chegou à conclusão de que queria contribuir para a disseminação da Língua Brasileira de Sinais (Libras) tanto nas escolas quanto no mercado de trabalho. Após quatro anos de dedicação e estudo ela criou a Libras +, empresa que promove cursos de qualificação (em especial para mulheres negras), presta consultoria para empresas e trabalha com interpretação de eventos, dos corporativos às lives musicais.

Nas capacitações que realiza apenas 30% do público é pagante, porque as famílias das pessoas surdas são isentas. Durante um ano, a empresa capacitou mil pessoas. A empresária conversou com a ANF e contou como tem percebido o processo de evolução quanto a aprendizagem de Libras. Confira:  

ANF: Como você avalia o desenvolvimento da aprendizagem da Língua Brasileira de Sinais (Libras) hoje no Brasil? 

Eurides Nascimento: Bom, o aprendizado da Língua Brasileira de Sinais no Brasil, eu acredito que a gente avançou bastante, né? Primeiro a gente tem aí todo um arcabouço legal. É lei, desde 2002 que a gente tem a lei de Libras, que reconhece a Libras como a segunda língua dentro do território brasileiro. A gente tem um decreto 5626 de 2005 que diz como é que essa língua deve ser, quem que ensina essa língua, onde ela deve ser ensinada e deu um prazo de 10 anos para que as instituições elas realmente colocassem dentro do currículo.

Naquele ano era obrigatório para os cursos de pedagogia, fonoaudiologia e licenciaturas. O Enem teve o tema Libras falando sobre a formação de Libras e tivemos avanços nas abordagens educacionais da língua brasileira de sinais. A gente tem historicamente a questão do oralismo, as pessoas eram obrigadas a não aprender a língua de sinais, mas a oralizar, ou seja, fazer treinamento fonoaudiológico para poder verbalizar ainda que não tivesse nenhum resíduo auditivo e era um treino muito forte, as crianças tinham suas mãos amarradas para não verbalizaram com a mão.

ANF: Como foi para superar esse entendimento acerca do oralismo e trabalhar outras formas de comunicação?

Depois a gente tem a segunda abordagem dentro da linha do tempo da Educação de surdos que é a comunicação total. Percebeu-se que o oralismo não estava atendendo ao propósito. E que realmente a defasagem era muito grande e então resolveu se utilizar de todas as ferramentas para que o povo surdo ele tivesse um avanço na aprendizagem. Então, criou-se ferramentas totais além da Libras existiam alguns elementos visuais. Foi aí que foi inserida a pedagogia surda que tem como base muito mais a questão visual, hoje a gente fala de pedagogia visual e outras ferramentas, o que fosse possível para poder diminuir o prejuízo do oralismo. Logo em sequência, a gente tem um bilinguismo, o bilinguismo hoje a gente fala de perspectiva bilíngue. 

ANF: Como você percebe o impacto da falta de difusão da Libras nas periferias?

Eurides Nascimento: É bem comum, por exemplo, dentro da periferia, ter pessoas surdas e elas crescerem e dialogarem dentro da comunidade criando uma outra língua que não é libras ou seja elas sobrevivem por meio de mímicas, ou então, elas são invisibilizadas. 

Aqui na Bahia a gente precisa bater o martelo de ter em todas as escolas periféricas, escolas particulares, escolas públicas, escolas de todas as instâncias dentro do currículo, não como currículo diversificado, mas sim um currículo obrigatório para o ensino de língua brasileira de sinais. Isso não quer dizer que todos vão aprender a língua brasileira de sinais, porque cada um tem uma motivação, nem todos aprendem inglês, nem todos aprendem em espanhol, mas é importante que tenha. Já tem essa obrigatoriedade que se tenha um ensino de línguas modernas estrangeiras, né? Então por que não ter o ensino de língua brasileira de sinais?