Domingo de outono

Crédito: Reprodução internet

O dia chegou frio e ensolarado e tende a esquentar. Há poucos carros na rua, passarinhos cantam alegrando o início do dia, ouço um avião cortar o céu, e assim segue a manhã. Hoje é daqueles dias que olho para a tela e penso: – E agora?

Há uma preguiça, um marasmo interior que me deixa lenta, um daqueles dias em que o corpo e a mente pedem letargia.

Dia de cama, livro, controle remoto e um “dolce far niente”. Dia de avaliar a caminhada, de buscar inspiração para seguir novos rumos, estudar para fortalecer a mente e a vida, dia de brincar com os netos, me divertir com o gatos.

A tela continua a me olhar pensativa, me cobra produção, ideias, inspiração! E eu só quero ficar quieta, só absorvendo a vida sem me esforçar em pensar.

Há tanta coisa acontecendo em minha volta, o mundo mudando velozmente, as pessoas ampliando o seu alcance de comunicação e ao mesmo tempo ficando tão distantes, cristalizando um sentimento ruim, de ódio, de rancor, que amplifica a fúria represada em cada um.

Tempos estranhos, de agressividade aflorada, de uma urgência em resolver, decidir, exemplar, em apontar o outro, mas eu só quero uma xícara de café, o controle remoto e o livro que já está olhando para mim pedindo atenção.

Hoje é um dia em que poderia falar sobre Tiradentes, sobre São Jorge, da importância da preservação dos nossos valores, da nossa memória, das nossas crenças, sobre todas as transformações que estão ocorrendo a minha volta. Na falta de fé, da esperança que é adubo vital para o fortalecimento do espírito. Poderia falar da resistência que brota da alma da juventude, das lideranças brutalmente caladas na cidade e no campo. No investimento na ignorância como forma de domínio, mas continuo olhando para tela sem me fixar em um tema.

Manhã de outono, tranquila e preguiçosa ao meu redor. Apesar da ansiedade dominar o mundo, a rua continua calma, os passarinhos devem ter ido tirar um cochilo ou foram cantar para outros ouvidos. O livro me olha e o estômago pede café. Enquanto isso, milhares de seres no mundo também, como eu, buscam inspiração para seu domingo.

Absorvemos diariamente tanta informação, é tanto conhecimento que navega nos bites da rede, que esquecemos de vivenciar o simples. Temos que estar antenados no que está acontecendo como se fosse uma obrigação devida. Ter uma opinião formada sobre tudo virou regra básica de comunicação. O julgamento e a execração pública virou lugar comum. Por isso, é bom tirar um dia para recarregar energias positivas, energias de amor, energias do bem, inspirar-se com uma boa leitura, interagir consigo mesmo, se perceber, se ouvir, se amar e se amando. Perceber o outro em volta de nós como complemento de vida, como milagre de Deus.

Que Tiradentes, herói e mártir nos inspire; que São Jorge Guerreiro nos proteja; que o domingo seja alegre!