Divisa de São Paulo com Itaquaquecetuba foge do clichê de periferia

Itaim Paulista

Localizado no distrito do Itaim Paulista, em São Paulo, o Jardim das Oliveiras está no extremo leste da capital, fazendo divisa com a cidade de Itaquaquecetuba. A grande avenida da região, Marechal Tito, atravessa a quebrada e a rua Benigno Nogueira Franco, localizada há aproximadamente 900 metros da avenida, chega a uma ponte que divide as duas cidades. A ANF foi conhecer esta divisa.

Diferente da imagem de periferia cujo clichê inclui violência e aglomerados residenciais caóticos, há poucos prédios, e a impressão geral é de estarmos no interior paulista. Em uma tarde de semana, ao redor da ponte da divisa, podem ser observadas crianças, jovens, mães e idosos.

Há um centro educacional do lado de São Paulo e uma praça aberta, ponto de encontro, exercícios e lazer. Funcionam diversas lojas, desde mecânicas a mercados e perfumarias, além de escolas, creches e uma UBS.

Moradores e comerciantes com quem a reportagem da ANF conversou relatam que, apesar de problemas parecerem inevitáveis, como a criminalidade, o bairro é calmo, as pessoas podem se divertir e as crianças brincam de futebol até tarde, depois da escola e durante as férias. Em geral, na praça.

Futebol no fim da tarde é de praxe no Jardim das Oliveiras. FOTO: Nickolas de Souza/ANF

A ponte é uma das três da divisa

O canal de água que corre entre a capital paulista e Itaquaquecetuba é popularmente chamado de Córrego Três Pontes, extensão do rio Tietê. Ele tem esse nome por causa das três interligações entre as cidades.

A ponte da rua Benigno Nogueira Franco está localizada a 45 quilômetros do centro de São Paulo, na região do Itaim Paulista, o território mais ao extremo da zona leste. É um dos maiores distritos da capital, com mais de 400 mil pessoas. No Jardim das Oliveiras moram cerca de 26 mil delas.

Do outro lado da ponte, Itaquaquecetuba ou Itaquá tem cerca de 380 mil habitantes. Suas principais vias de acesso a São Paulo, além das três pontes, são a avenida Marechal Tito e a estação Itaquaquecetuba, da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM).

Itaquaquecetuba era chamada de Vila de Nossa Senhora d’Ajuda, posteriormente Taquaquice-tuba e, finalmente, o nome atual. A palavra tem origem em um tipo de taquara encontrado em abundância na região, a Tacuakyssé.

O nome Itaim Paulista é, na fundação por volta de 1600, Embiasigua, uma posse da Ordem do Carmo, da igreja católica. Foi nomeada de Itaim, que significa pedra pequena. Posteriormente, foi adicionado o “paulista” ao nome para diferenciar da região do Itaim Bibi.

Nem sempre a divisa foi assim

De acordo com Antônio Freitas, comerciante e morador da região há 30 anos, um dos principais problemas da divisa com Itaquaquecetuba era causado pela chuva. Até 2009, sofria com diversas enchentes por conta do córrego que separa as cidades. As pontes provisórias eram pela água.

“O córrego enchia e chegava a alagar três ruas, até a base da banca de jornal, que fica em terreno alto”, conta Antônio. Ele é dono de um bar na rua ao lado da ponte.

Outro comerciante e também morador, Vitor Soares lembra de que foi a prefeitura de São Paulo quem canalizou e afundou a calha do córrego, fazendo com que não houvesse mais enchentes. Também construiu a ponte da rua Benigno Moreira Franco.

“A prefeitura de Itaquá não estava nem aí para o que acontecia”, conta Vitor, dono do hortifruti ao lado do bar de Antônio.

Vitor Soares não quer mais viver o tempo das enchentes. FOTO: Nickolas de Souza/ANF

A construção da ponte não resolveu definitivamente o problema. Por conta da constante passagem de veículos pesados, ela enfraqueceu e acabou ficando interditada por muito tempo. Foi reinaugurada há dois anos. Agora só podem passar pedestres e veículos de pequeno e médio porte.

Opiniões mudam conforme tempo no bairro

Segundo os moradores mais antigos, a criminalidade diminuiu, houve aumento no policiamento, com pelo menos uma viatura passando de hora em hora, e diminuiu a quantidade de carros com som alto.

Mas para Ilma Oliveira e Maria da Silva, moradoras recentes, o território é perigoso. Elas conversaram com a ANF enquanto seus filhos brincavam nos equipamentos de exercício da praça. Citam assaltos na porta de escolas e à noite.

Dona Ilma mora há três anos na região. Roubaram seu carro uma vez, mas ele foi encontrado pela polícia em Itaquaquecetuba. Segundo a moradora, tentaram roubar o mesmo carro outras duas vezes, o que não aconteceu pela ação de moradores e patrulhas da polícia.

Moradores antigos do Jardim das Oliveiras avaliam melhor o bairro. FOTO: Nickolas de Souza/ANF

Fim de tarde com futebol e pipas

A ANF esteve presente na divisa entre São Paulo e Itaquá, na ponte da rua Benigno Nogueira Franco, em uma tarde da primeira semana de junho. Durante a reportagem, duas cenas marcantes.

Cerca de 20 crianças jogam futebol na quadra ao lado da ponte, enquanto mais ou menos a mesma quantidade está na praça, conversando e empinando pipa.

Então a pick-up de uma empresa de gás, modificada, com suspensão baixa, rodas de aros grandes, tocando funk, interfere na calmaria. Modificar carros é uma cultura periférica muito forte em São Paulo.

Na passagem da pick-up modificada do gás lembramos imediatamente que, apesar do fim de tarde pacato, estamos na quebrada.

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