Desfiles começam reafirmando representatividade no Rio de Janeiro

Desfile da Escola de Samba Imperial levando represenatividade trans para o Sambódramo | Dhiego Monteiro ANF

A Marquês de Sapucaí recebeu a abertura dos desfiles das escolas de samba do carnaval do Rio de Janeiro 2023 levando diversidade à passarela, inclusive com estereótipos sendo quebrados. Um exemplo? Como poucas vezes na história, homens foram reis de bateria.

A Grande Rio foi a precursora, com Zé Reinaldo, nos anos 90, e depois com David Brazil, em 2015. Neste ano, Anderson Reis estrelou ao lado de Danny Fox com a Lins Imperial. Tivemos também Juarez Souza como rei de bateria da Acadêmicos de Niterói e Anderson Morango, o primeiro homem a desfilar como porta-bandeira no carnaval na Sapucaí.

Mais representatividade

A bateria da Unidos de Padre Miguel apresentou a modelo e atriz Thalita Zampirolli como rainha, uma mulher trans. Na Estácio de Sá, que homenageou o São João do Nordeste através do Maranhão, levou uma dupla de pessoas com síndrome de Down como casal de mestre-sala e porta-bandeira. 

Na Lins Imperial, o presidente Fabio Mello é o único, dentre as cidades do Rio de Janeiro, a ser assumidamente gay. Ele sofre preconceito por acreditarem que a liderança não é lugar para a comunidade LGBTQIAP+, mas resiste.

Madame Satã

A Lins Imperial homenageou Madame Satã, importante personagem histórica descrita como “rainha negra da boemia carioca’’ pelo historiador norte-americano James Green.

Madame Satã era resistência em tempos em que expressões de gênero que fugissem da norma eram extremamente criminalizadas. Ela chegou a responder 26 processos judiciais durante sua vida por conta das performances artísticas.

O enredo contou sua historia, iniciando com a ala que retratou sua infância em Pernambuco, no município chamado Glória do Goitá na Zona da Mata do estado. As alas seguintes, representaram a Lapa, seus cabarés e outras formas de culturas históricas do local.

Desfile trans

As pessoas transgênero e travestis foram protagonistas nos adereços, fantasias e carros alegóricos e entre os desfilantes de que participaram. A comissão de frente ergueu faixas em homenagem a outras figuras históricas do movimento LGBTQIAP+, como João W. Nery, importante ativista pela comunidade de transmasculinos; Jorge Lafond, conhecida como Vera Verão, grande artista que marcou décadas; e Matheusa, outra artista trans não-binária, brutalmente assassinada há quase cinco anos.

Escola Lins Imperial homenageia figuras históricas LGBTQIAP+ | Créditos: Dhiego Montiero ANF

Além de prestigiada no sambódromo, a Lins Imperial vem fazendo ações pela comunidade. Em alusão ao tema do samba-enredo de 2023, foi criado o Prêmio Madame Satan. Através dele, na quadra da escola, foram homenageados importantes articulares e personalidades que levam representatividade à comunidade dissidente de gênero e sexualidade.

Um deles é Douglas Lacerda, diretor da Casinha Acolhida, ONG LGBTQIAP+; e Céu Cavalcanti, a primeira travesti a ser eleita presidenta do Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro.

Gab Van, presidente da Liga Transmasculina João W. Nery, foi um dos consagrados com o prêmio e conversou com a ANF sobre ter sido convidado para compor o desfile.

“Quando os outros homens trans e transmasculinos me viram e a homenagem à João W. Nery na televisão, me falaram sobre sentir uma representatividade que raramente vemos. Eu agradeço aos que vieram antes de mim, à ancestralidade transmasculina que fez ser possível sermos enredo hoje.”

Gab Van desfilando na escola Lins Imperial. | Divulgação

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