Desde 2004 o Brasil não tinha tanta gente passando fome, diz IBGE

Qualidade e quantidades de comida caiu pela primeira desde 2004 - Foto Jarbas Oliveira/Folhapress

Pela primeira vez desde 2004, o da consolidação do programa Fome Zero do governo Lula, o indicador de segurança alimentar — quando não há problemas para conseguir e dividir os alimentos entre os membros de uma família — recuou no país, segundo Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do IBGE, divulgada nesta quinta-feira, 17. Já são 10,3 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar grave, ou seja, podem chegar à fome.

Os dados são de 2018, antes da pandemia e quando o país engatinhava para se recuperar da recessão iniciada em 2015. A atual crise foi amenizada com o auxílio emergencial, mas a ajuda deve acabar em dezembro e os preços dos alimentos vêm subindo, dificultando ainda mais o acesso à comida pelos mais pobres. A POF mostra ainda que mais de 41% dos 207,1 milhões de habitantes do país, ou  84,9 milhões de pessoas,  vivem em casas onde existem dificuldades para colocar comida na mesa.

A quantidade de lares que conseguiam prover alimentos para todos os seus membros atingiu 63,3% em 2018, o menor patamar desde 2004, quando a pesquisa começou. Em 2013, ano da pesquisa anterior, eram 77,4% dos lares que tinham segurança alimentar, o recorde da série. Desde 2013, mais 3 milhões de pessoas entraram em situação alimentar que pode chegar à fome.

Dos 68,9 milhões de lares no país, 36,7% enfrentavam algum problema para garantir qualidade e quantidade dos alimentos para todos da família, a chamada insegurança alimentar. Já a insegurança alimentar grave se faz presente em 24,7% dos lares chefiados por brancos, 15,8% quando são negros e 58,1% quando são pardos. Em relação a lares chefiados por amarelos ou indígenas, 1,6% está em segurança alimentar, enquanto 1,4% está em insegurança alimentar grave.

A pesquisa classifica os lares em segurança alimentar e três níveis de insegurança alimentar (passando desde perda de qualidade em alimentos até a falta de comida para todos os membros do lar, podendo chegar à situação de fome).

Assim, 56 milhões estavam em domicílios com insegurança leve (falta de qualidade nos alimentos), 18,6 milhões em domicílios com insegurança moderada (falta de qualidade e quantidade na comida, mas preservando alguns membros) e 10,3 milhões de pessoas em lares com insegurança grave (falta de qualidade e quantidade na comida, podendo chegar à situação de fome).

Na divisão regional, Norte (10,2%) e Nordeste (7,1%) foram as que tiveram os maiores percentuais de insegurança alimentar grave no total de seus domicílios. Na sequência, estão Centro-Oeste (4,7) e Sudeste (2,9%). A região com a menor incidência deste tipo de insegurança alimentar é a Sul (2,2%).

Os problemas relacionados à escassez ou à falta de alimentos ocorrem com mais intensidade em lares cuja pessoa responsável é uma mulher ou uma pessoa parda. Em 2018, 61% das famílias chefiadas por homens estavam na faixa de segurança alimentar. No caso da mulher como chefe, eram 38,6% nesta faixa.

Em relação à insegurança alimentar grave, 48,1% dos lares com a figura masculina como referência estavam nesta situação. Nos lares chefiados por mulher, 51,9% deles não têm qualidade nem quantidade de alimento para toda a família.

A cor da pele também importa na hora de garantir o alimento em casa. Nos lares chefiados por brancos, 51,5% estão em situação de segurança alimentar, percentual que é reduzido para 10% quando a referência é negra e 36,9% para pardos.

Nos lares com até três moradores, 72,5% estão na faixa de segurança alimentar, contra 58,5% em insegurança jurídica grave. Já nas habitações com sete ou mais pessoas, o total é de 1,1% com segurança alimentar, enquanto 4,3% estão em insegurança alimentar grave.