Decreto sai, história fica!

Decreto que mudou o nome da Estrada do Cabuçu, em Campo Grande, é anulado - Foto: Google Street View

No último dia 17 de dezembro, o então prefeito Marcelo Crivella, no atributo de suas funções, por meio do Decreto n° 48.304, alterou o logradouro de uma das principais vias do bairro Campo Grande, Zona Oeste do Rio de Janeiro. A histórica Estrada do Cabuçu, teve seu nome modificado para Estrada Bispo Daniel Malafaia, líder religioso de uma das igrejas Assembleia de Deus, que faleceu no dia 12 de dezembro por complicações devido a Covid-19.

Moradores, pesquisadores e coletivos da Zona Oeste não compreenderam o porquê da alteração, considerando as características advindas daquilo que se entendia como parte da herança cultural e histórica que levou ao nome da estrada. A região é cortada por um dos maiores rios com início e término dentro do município, o Rio Cabuçu, que possui mais de 16km de extensão e corta bairros vizinhos a Campo Grande.

Ainda assim, com a realidade da poluição, o rio é parte do reflexo de como são geridas, há anos, políticas públicas na cidade acerca das questões ambientais e de preservação dentro do contexto urbano e periférico. Negando as recordações de diversos habitantes da área, Crivella não ousou em voltar atrás e decidiu deixar, em seus últimos dias de mandato, este marco.

Símbolo histórico

O agora prefeito, Eduardo Paes, já se pôs contrário as atuações e posicionamentos da antiga gestão da prefeitura do Rio e, garantiu revogar em seu mandato, o Decreto n° 48.304. Entretanto, antes de Paes assumir seu cargo, a decisão já havia sido anulada.

No dia 28 de dezembro, o então prefeito em exercício Jorge Felippe, encerrou toda a confusão, tendo como principal amparo a Lei Municipal nº 4.762, de 23 de janeiro de 2008, onde é proibida a mudança de logradouros com mais de 20 anos de denominação oficial.

Para além da Lei, a mobilização social impossibilita mais um processo inadequado que foi protocolado de maneira injusta, uma vez que a consulta popular não foi realizada antes de qualquer ação. Manter vivo o patrimônio histórico ao invés de interesses políticos mostra como a resistência coletiva é efetiva nas lutas sociais.

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