De traficante a empreendedor social: a história de superação do fundador do Instituto Vida Real

ONG completa 17 anos ampliando horizontes de jovens do Complexo da Maré.

Anderson Gonçalves ensina edição de vídeo a jovens da Maré _ foto: Divulgação

A trajetória de Sebastião Antônio de Araújo, mais conhecido como Tião, poderia terminar como a de muitos jovens que, sem perspectivas e atraídos pelo glamour do poder, entram para o mundo do tráfico. De usuário de drogas, Tião passou a traficar aos 18 anos em uma boca de fumo na Maré, Zona Norte do Rio de Janeiro. Passaram-se 12 anos até que decidiu não só mudar o rumo de sua vida, como a de adolescentes de baixa renda. Em 2004, ele criou o Instituto Vida Real, na mesma favela em que foi traficante, para dar a outros as oportunidades que ele não teve quando jovem.

A virada de Tião começou com a chegada da primeira filha. A vontade de querer vê-la crescer o fez parar com as drogas e o tráfico. Saiu do Rio e foi passar um tempo na casa dos pais, em Minas Gerais, para cortar a relação com a antiga vida. Quando retornou, trabalhou em posto de gasolina como chapa, nome dado ao ajudante de caminhão. Não conseguiu se fixar em nenhum emprego até o dia em que foi resolver uma questão de um de seus filhos na escola. O diretor gostou tanto da atitude de Tião diante da situação, que o chamou para trabalhar como inspetor. “Estava desempregado. Fui contratado e trabalhei por seis anos no colégio”.

Em 2004, a equipe do documentário Pro Dia Nascer Feliz, que aborda a educação de jovens em situação de risco e em conflito com a lei, chegou à Nova Holanda, uma das 17 favelas que compõem o Complexo da Maré, para realizar entrevistas. Coube ao inspetor Tião escolher dez alunos para participar do filme. A equipe do documentário ofereceu uma ajuda de R$ 600 para ser dividido entre os jovens, mas Tião recusou e disse “eles precisam de um local para ter reforço escolar, uma ocupação depois das aulas”.

Início do sonho

Após conhecerem a história de vida do então inspetor e saberem de seu desejo em melhorar a educação dos jovens da escola e da comunidade, a equipe o apresentou ao cofundador do Instituto da Criança, Pedro Werneck, que ofereceu pagar um local para que Tião colocasse em prática sua ideia. Assim, em 16 de março daquele ano, nascia o Instituto Vida Real, com o objetivo de dar um futuro melhor a adolescentes da comunidade, oferecendo, inicialmente, reforço escolar e algumas palestras.

Em quatro meses, foi preciso aumentar o espaço e o número de oficinas para poder atender a mais jovens da Maré. Em 2006, o Vida Real foi formalizado como uma organização não governamental (ONG).

“O Vida Real é a minha vida. Foi criado em cima da minha história, então eu tenho que ser uma referência, porque muitos desses garotos se espelham em mim”, diz Tião, que além de estar à frente da ONG, é líder comunitário, agente da paz, faz roda de terapia comunitária, trabalha em centros de recuperação para dependentes químicos, e ainda encontra tempo para cursar Gestão de Projetos.

Sebastião Antônio de Araújo fundou o Instituto Vida Real em 2004 _ foto: Arquivo Pessoal

O fundador do Vida Real já inspirou mais de 10 mil alunos que passaram pelo instituto. Atualmente, há cursos de grafite, informática, design gráfico, manutenção e montagem de computadores, inglês, fotografia, música (canto e instrumento), audiovisual e aulas de reforço escolar e pré-vestibular. Também é oferecida assistência psicológica para os alunos e moradores da Maré.

O curso mais recente é o de audiovisual, que começou em fevereiro deste ano, com o comunicador popular e professor Anderson Gonçalves, de 32 anos, conhecido como Jedai. Ele ensina a produzir e editar vídeos com o celular e incentiva os jovens a buscar conhecimento, estudar e aprender a usar as ferramentas tecnológicas. Jedai revela que pretende também dar aulas de poesia no instituto.

Quem teve a oportunidade de estudar no Vida Real reconhece a importância do projeto. “Antes de entrar no instituto, queria só ficar na rua. Hoje em dia já tenho uma visão de sonhos e projetos. Toda a equipe do Vida Real que eu conheci foi de extrema importância para a minha vida”, diz Matheus Martins, de 24 anos, que entrou no Instituto quando era adolescente, incentivado pela tia.

Ele fez todos os cursos e oficinas disponíveis, se tornou monitor e chegou a dar aulas de informática básica para idosos quando ainda estudava no instituto. Atualmente, trabalha como autônomo, mas tem no currículo muitas experiências que aprendeu durante os anos que frequentou o Vida Real.

Para mais informações sobre os cursos do Instituto Vida Real, acesse:
http://institutovidareal.org.br

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