Crônica – O Vendedor de Sonhos

Crônica: O vendedor de Sonhos (Foto: Representação).
Crônica: O vendedor de Sonhos (Foto: Representação).

Uma dose alta sobre sintomas de excesso do cotidiano pode provocar ausência momentânea da realidade. Se bem administrada leva a uma fuga útil, poética, se mal, pode tornar, no abuso, um refúgio de quando em quando.

Há quem vê no entrecerrar da tarde os pigmentos de sangue de virgens que se sacrificaram por amor. Há quem crê no olhar secreto do amante o brilho de órbitas distantes, perplexos vibram, como gravidade para as grandes esferas. Assim como escapar é intensa descoberta, pode, no entanto, na recorrência estimulada, ter efeito de estagnação, falha, anomalia. Àqueles que têm medo da mudança, não creem que a salvação virá pelo risco. Assim disse a bula da propaganda que vende sonhos.

Louvemos os riscos. O homem, portanto, é feito de dois tipos de sonhos, os criados por ele, vindos do íntimo, despertado pela própria vivência, os comprados por ele, um modelo de prateleira, uma espécie de ideal artificial.

Uma classe, uma população, um país, um continente, uma civilização pode comprar mitos para crer. Quem os vende? Têm-nos sido injetado, como a um corpo fragilizado, sem anticorpos, antibióticos, imunizantes, o mito do liberal.

Eles se cuidam, cidadãos ilustres, responsáveis do ponto de inflexão da era contemporânea. Com a autonomia do indivíduo, a origem do sujeito, a vitória da razão. Uma vitória que ocultou a história. E severamente, seus discípulos, têm se deitado nessa vitória.

É necessário banir que os principais idealizadores do liberalismo como Adam Smith, Jonh Locke, Barão de Montesquieu, John Stuart Mill, entre outros, eram apoiadores coloniais, proprietários, e acionistas no negócio de escravizados nas Américas. Onde um Toussaint L’Ouverture, era seu oposto natural. Símbolo máximo do liberal, o livre mercado, e, como esse mercado tem se tornado próspero aniquilando, acorrentando outros indivíduos.

O liberal é um ilusionista. Age e manipula, como um mágico, essas conquistas. O liberal é um traficante que inocula altas doses de alucinógenos em nossos sonhos de liberdade. Pois, sendo a mão, que escreve e declara os direitos do homem, são a mão invisível que algema o homem. Com uma liberta, com a outra limita. Enquanto uma reitera atribuições universais, a outra determina quem deve tê-las e não. Ao passo que uma diz o ideal de homem-gente, na mesma proporção, diz que homem, não é o ideal, e não é gente. Ontem, promoveu o complexo sistema de transposição de seres cativos da história da humanidade, apagando sua autoria nos livros, hoje, gerencia o controle do que antes fora feito. Só um liberal é capaz de defender o estado sumário de repressão numa periferia, em seguida tirar fotos sorrindo com favelados. E que lamenta e vela pelo seu futuro. Temos nele um reformista convicto, para não transformar nada. Capaz de criar a crise e defender a sobrevivência de quem tem “mérito”. O liberal é a última fronteira da hipocrisia. O liberal é o paradoxo vivo em nosso tempo. Uma criatura fadada a escamotagem. Faz sumir, com um truque, o coelho, preso em alguma gaiola escondida e liberta tirando da cartola pombas, a bater asas, da paz.

Ademais, porque temos colocado o maior número de liberais nas cadeiras de decisão, com medo de arriscar, infectados. Temos nos refugiado abusivamente em cantos de sereias, com a ilusão de sonhos vendidos.

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