Crescimento Populacional da Baixada de Jacarepaguá

Fatos que os cariocas desconhecem: decifrando o subdistrito mais populoso do Rio.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) publicou, em março deste ano, os resultados do Censo de 2022 por municípios e por setor censitário. Devido a isso, vieram a tona dados significativos sobre a distribuição populacional no município do Rio de Janeiro. As informações revelam o crescimento demográfico e também as desigualdades intrínsecas no adensamento populacional entre as diferentes regiões da cidade. A Baixada de Jacarepaguá, identificada como Área de Planejamento 4 (AP4), destaca-se por possuir um subdistrito com uma densidade populacional expressiva.

Depois que os dados foram compartilhados por diversos veículos de mídia, prontamente o carioca tratou de falar para todo mundo que existe uma região, dentro da Baixada de Jacarepaguá, que é a mais populosa do município do Rio de Janeiro.

Entretanto, quando vemos ao certo quais são esses dados censitários e analisamos a divisão por bairros, feita pelo Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos (IPP), a gente descobre uma dificuldade do Carioca de entender o que é um “subdistrito” e que a região da Baixada de Jacarepaguá é ainda mais populosa do que estamos imaginando.

Os reflexos da alternância de poder.

Por conta da colonização e da entrada repentina da família real portuguesa em 1808, a cidade do Rio de Janeiro desenvolveu um dilema muito grande entre o que era da corte e o que era da província. Desde então, o Rio já foi capitania, distrito federal e até mesmo Estado da Guanabara. Um bom exemplo literário das implicâncias dessas mudanças está na obra “Esaú e Jacó”, de Machado de Assis, publicada em 1904. Nessa obra brilhante, o autor escreve uma representação da solução que um confeiteiro, dono da “Confeitaria do Império” deu para o nome de seu estabelecimento. Enquanto mandava reparar a placa da confeitaria, foi proclamada a república, então o confeiteiro pediu ao pintor “Pare no d”, pois não sabia ainda se continuaria como Confeitaria do Império ou se seria renomeada para da República.

Devido a essas mudanças drásticas sobre o território, sem discuti-las com a população, surgem algumas dificuldades históricas e administrativas para entender o que de fato é a divisão territorial brasileira, dividida entre Federação, Estados, Municípios e Distritos.

A confusão, no município do Rio de Janeiro, começa por ele fugir da regra da divisão territorial e não possuir divisão em distritos. Para tentar lidar com esse problema na relação com a coleta e divulgação de dados censitários, o IBGE considera a cidade do Rio como município e ao mesmo tempo como um distrito (distrito de número 330455705).

Entendendo as divisões administrativas do Rio.

A maneira mais fácil para entender a delimitação dos bairros da Cidade do Rio de Janeiro, organizados a partir do Decreto n.º 3158 de 23 de julho de 1981, é através da consulta pelo “Painel Bairros Censo Demográfico 2022” do Data.Rio. Que é uma plataforma de dados abertos da prefeitura da cidade do Rio de Janeiro ao qual organiza os dados censitários de 2022 por População, domicílios por Bairros, Regiões Administrativas e Áreas de planejamento.

A identificação de pelo menos três Áreas de Planejamento (AP’s) da cidade do Rio de Janeiro é relativamente fácil: Zona Sul (AP2), Centro (AP1) e Zona Norte (AP3). No entanto, quando chegamos ao Oeste carioca, que inclui a Baixada de Jacarepaguá (AP4) e a Zona Oeste (AP5), a compreensão se torna mais complexa. Essas últimas frequentemente ficam à margem das políticas públicas e são negligenciadas no planejamento urbano.

Mapa das áreas de planejamento da cidade do Rio pela SMPU. Edição de Arte: João Magalhães

A Baixada de Jacarepaguá, AP4, por sua vez, é dividida em três Regiões Administrativas (RA’s), aos quais o IBGE considera como subdistritos. Elas são: Jacarepaguá, que é considerado o subdistrito mais populoso, Barra da Tijuca e Cidade de Deus. A população de cada uma dessas regiões engloba vários bairros, e inúmeros sub-bairros, conceito que o carioca está bem acostumado mas que não está nos mapas administrativos, apenas no imaginário da região.

Oficialmente, existem apenas 19 bairros distribuídos entre as três Regiões Administrativas da Baixada de Jacarepaguá:

  • Jacarepaguá: Vila Valqueire, Praça Seca, Tanque, Taquara, Freguesia (Jacarepaguá), Pechincha, Curicica, Anil, Jacarepaguá e Gardênia Azul.
  • Barra da Tijuca: Vargem Grande, Camorim, Vargem Pequena, Itanhangá, Barra da Tijuca, Recreio dos Bandeirantes, Joá e Grumari.
  • Cidade de Deus: Cidade de Deus.
Mapa das regiões administrativas da Baixada de Jacarepaguá, utilizando como base informações geográficas da Gerência de Cartografia do Instituto Pereira Passos, 2008. Edição de Arte: João Magalhães

A disputa do imaginário popular

Para comunicar sobre a localização dos territórios ao qual transita, o Carioca tem o costume cultural de buscar a identificação de qualquer referência em volta de si para nomeá-la como um sub-bairro. Essa tentativa às pressas de nomear as coisas pelo nome que faz mais sentido no cotidiano, como forma de se orientar pela cidade, acontece como resposta à demora do poder público chegar até às regiões mais periféricas da cidade, pois quando chega , ocorre historicamente de maneira impositiva e ineficiente, permitindo a disputa de significados por razões políticas e econômicas dentro do imaginário popular.

Em tempos contemporâneos, nada é mais explicativo sobre essa disputa de imaginário do que a dor dos moradores do condomínio Rio2, que constantemente tentam afirmar que são moradores da Barra da Tijuca. Entretanto suas residências são localizadas no bairro de Curicica. Atualmente existe um projeto para transformar esse território em um novo bairro chamado “Barra Olímpica”, que quer tomar partes de Curicica. Entretanto, até a data dessa publicação, ainda depende da regulamentação do poder executivo para entrar em vigor. Já tendo recebido um veto do prefeito para a criação da tal “Barra Olímpica”.

Imagem base: DALL-E3. Edição de arte: Luciana Avellar.

As disputas atuais do imaginário popular sobre os territórios estão relacionadas à especulação imobiliária e ilustram as complexidades sociais e econômicas da Baixada de Jacarepaguá. A inclusão ou exclusão de territórios, principalmente nos entornos da Barra da Tijuca e do Recreio dos Bandeirantes, tem implicações diretas no planejamento urbano e na alocação de recursos.

População das Regiões Administrativas da Baixada de Jacarepaguá:

  • Subdistrito de Jacarepaguá: 660.689 habitantes.
  • Subdistrito da Barra da Tijuca: 414.355 habitantes.
  • Subdistrito da Cidade de Deus: 30.576 habitantes.
  • População TOTAL da Baixada de Jacarepaguá, AP 4: 1.105.620 (Um milhão, cento e cinco mil, seiscentos e vinte) habitantes.

Informações divulgadas pelo Data.Rio, em relação aos dados censitários do IBGE 2022.

A população da Baixada de Jacarepaguá é maior que a de municípios como Niterói (481.758 habitantes), São Gonçalo (896.744 habitantes) e até mesmo Duque de Caxias (808.161 habitantes). Mesmo assim, a região sofre com problemas crônicos de infraestrutura de transporte público, segurança, saúde e educação.

A análise detalhada do crescimento populacional da Baixada de Jacarepaguá, AP4, é crucial para o planejamento urbano e a gestão eficaz de políticas públicas. Comparando os dados populacionais do IBGE de 2010, quando a população era de 909.368 habitantes, com os dados censitários de 2022, divulgados pelo Data.Rio, que registaram 1.105.620 habitantes, observa-se um aumento da população da Baixada de Jacarepaguá em aproximadamente 21,58%.

Este crescimento reflete diretamente os desafios da região, deixando evidente a necessidade de políticas públicas eficazes, especialmente considerando o histórico de investimentos desiguais na Baixada de Jacarepaguá e na Zona Oeste do Rio.