Conheça a história do Jefferson, ex presidiário e criador do Favela Radical, que descobriu no esporte a transformação

foto: Duda Dusi

O projeto Favela Radical, que acredita no esporte como motor da educação, tem como berço o Morro do Turano, localizado entre os bairros da Tijuca e do Rio Comprido, na Zona Norte do Rio de Janeiro, e surgiu em um contexto que está muito ligado à vida pessoal do idealizador Jefferson, nascido e criado na comunidade.

No final de sua juventude, Jefferson teve diversos problemas com a criminalidade local, o que acarretou em passagens pela polícia, tendo sido preso pela última vez em 2009. Hoje, ele leva adiante o seu bordão: não acredito em segundas chances, mas sim em quantas chances forem necessárias para transformar uma vida humana.

E ainda complementa: “graças a Deus fui preso, porque senão eu não estaria aqui.”
Segundo ele, durante esse tempo refletiu bastante sobre o quanto estava desprendendo sua energia em algo que não traria nada de bom em sua vida e nem para o seu território, mas sabia que aquilo seria sua grande virada de chave.

Assim que saiu pela última vez da cadeia, foi trabalhar no Jornal do Brasil, na parte dos arquivos, onde estavam na fase de transição para digitalização de tudo. Sua função primordial era organizar os documentos mais importantes do ano de 2010.
Com isso, teve acesso ao que estavam falando sobre a guerra que acontecia internamente no Morro do Turano. Todos sabiam o que estava acontecendo, ainda sim ele pesquisou e viu que nada estava sendo falado.

O que encontrou foram apenas notícias que falavam sobre a criminalidade local, e o incomodou perceber que as pessoas consumiam apenas esse tipo de conteúdo; porém não sabia com agir para mudar essa realidade.

Em 2011 houve o início da pacificação e o Governo do Estado criou uma parceria com a Federação das Indústrias. O primeiro atuava em toda parte de segurança pública e a segunda na parte de desenvolvimento social do território. Então surgiu a procura por um agente que fosse morador local e fizesse a ponte do que tinham desenvolvido para com a comunidade. Dessa forma, foi convidado para esse cargo e teve acesso às demandas da comunidade de forma mais próxima. Porém, continuava sem saber como agir para mudar aquela realidade.

Foi quando em 2014, um amigo seu surfista da França, veio até o Rio de Janeiro e surfaram juntos. Quando foi embora, deu a primeira prancha de surf à Jefferson.
Assim que este ficou em pé na prancha pela primeira vez, soube que aquela seria sua ferramenta de transformação e quis compartilhar isso com o pessoal da sua área.
Começou convencendo o professor de surf a dar aulas de graça para algumas crianças que ele levaria, e investiu parte do seu salário com o deslocamento delas até a praia.

Dessa forma começou seu desenvolvimento, mas ainda não tinha ideia do que isso viraria, só sabia que queria democratizar o acesso ao surf. Com a chegada da crise econômica, foi demitido e fez uma escolha que foi um grande passo de fé: não voltaria mais ao mundo corporativo e iria mergulhar no desenvolvimento desse projeto.

Favela Radical

Reuniu amigos que eram do esporte ou gestão de projetos e iniciativas sociais e assim surgiu o Favela Radical. Em 2017 foi divulgada a notícia do surf, skate e escalada como esportes olímpicos e decidiram que queriam esses 3 esportes na grade. Correram atrás de parceiros durante dois anos batendo nas portas e sem conseguir crescer com sua iniciativa. Em 2018 tinham apenas o surf no projeto e ficaram sabendo de um edital da rede Gerando Falcões. Se inscreveram, passaram no processo seletivo e chegaram ao final. Não foram aprovados mas tiveram contato com a organização, que deu muita informação e base pra eles.

Na sequência partiram para um lugar de planejamento, execução e criação de rede de apoio. Organizaram uma colônia de férias que gerou conteúdo e deu origem a uma apresentação para irem até as rodas de negociação onde poderiam mostrar “como” executar o que acreditavam.

Foi então que o edital da Red Bull Amaphiko abriu. Eles se inscreveram e foram aprovados. O programa era de aceleração e mentoria, mas sem investimento financeiro. Em seguida um novo edital da rede Gerando Falcões abriu e bateram novamente na porta. “Se as pessoas não te aceitam pela porta, arrume uma escada e entre pela janela”, diz Jefferson. Passaram por todas as etapas e foram aprovados.
Durante o processo identificaram uma necessidade dentro do projeto, que era de profissionalização da gestão e entraram no projeto de 6 meses de criação de planejamento de marketing, assessoria jurídica, descrição de metas, plano de ação, e planejamento orçamentário para que pudessem decolar com a iniciativa e causar a diferença, tornando-se uma instituição dentro da favela que fosse referência.

Pandemia e Próximos passos

Durante a primeira fase da pandemia houve esse movimento, e ao mesmo tempo atuavam com ações que buscavam minimizar os impactos do covid-19 dentro das comunidades. Iniciaram uma campanha a nível nacional de captação de recursos; e criaram o cartão de cesta básica, onde distribuíram R$ 100 por mês, além de máscaras e álcool gel. Ao todo foram 2500 famílias assistidas pelo cartão. O programa de distribuição de renda ajudou a fortalecer a imagem deles dentro dos territórios.

Após passado o momento mais crítico de atendimento, entregas e trabalho com as familias, retornaram gradativamente com as ações e atividades de forma híbrida:presenciais e online. Com os recursos financeiros promoveram as atividades de surf, muro de escalada dentro da favela, oficina de skate, robótica para crianças de 7 a 12 anos, programação (13 a 18 anos), aula de zumba para adultos e programa de formação sócio emocional Metamorfose, que prepara jovens para inseri-los no mercado de trabalho, abrangendo cerca de 200 alunos.

Nas próximas semanas o projeto abrirá uma campanha de financiamento coletivo para conseguirem manter as atividades, dobrar os atendimentos e comprar uma kombi para ter deslocamento nas atividades externas e retirada de doações.
Também buscam criar dois negócios: o bazar itinerante e um ecommerce com produtos próprios.
Além disso, visam estimular a campanha #euevocerumoa2028, que fortaleça uma jornada até as olimpíadas de 2028 para os jovens assistidos. Jefferson finaliza dizendo que o objetivo principal é investir nos moradores pra dizer que a mudança virá deles.

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