COLUNA Potências Pretas do Audiovisual Periférico

Sempre utilizei o trânsito da cidade para perceber e assimilar minhas referências como forma de seguir caminhos diversos, principalmente através da arte. Quem me carregou por essa iniciação cultural foi o pandeiro. Venho do pagode. Foi na zona norte, local onde nasci em 1975, aos pés do morro do Adeus, em Bonsucesso, que me reconheci como artista e realizador cultural.

Passei boa parte da minha vida tocando pagode pelas noites da cidade e jogando futebol pelas favelas do entorno de Higienópolis, bairro em que eu morava. Por conta dos bailes, amigos, festas e peladas, frequentei bastante a favela do Jacarezinho, o Campo do Abóbora e o campo de terra da antiga fábrica da G.E, que também foi um local de pouso, por algum tempo, de minha escrevivência, como diria Conceição Evaristo.

Hoje, como homem preto e operário do audiovisual, aos 48 anos, me sinto representado por uma galera superpotente, que tive o prazer de conhecer durante aulas que ministrei para a turma de cotistas do Centro de Artes e Filosofia da UERJ (CAFIL), a convite do meu camarada Renan Santana, que é universitário, surdista da Mangueira e está na busca de suas escritas para o audiovisual.

Cito o Renan, pois foi através dessa ligação que conheci Vinicius Morais, coordenador de operações do LabJaca, além de Mariana Gaudino, coordenadora de operações, diretora e roteirista na equipe de audiovisual do laboratório.

O grupo – é assim que eles se autodenominam – é formado 100% por jovens negros que têm o audiovisual como veículo para divulgação científica dos dados e a potencialização das narrativas faveladas.

“O Labjaca tem como principal objetivo a desmarginalização da narrativa do morador de favela, como forma de valorizar o conhecimento que provém das comunidades, para que sejam pautadas políticas públicas que visem estimularesses territórios, gerando impacto social”.

Tenho acompanhado as produções de audiovisual do laboratório e percebido que as formas de comunicação vêm se potencializando. Novas formas de ver, com os olhos livres, é o que o audiovisual brasileiro precisa para se manter vivo, e o LabJaca vem dando seu recado com muita força, pensamento crítico, identidade, pautas criativas e potentes.

Digite LabJaca no buscador e conheça melhor o trabalho no site do laboratório. Desejo vida longa à iniciativa, um salve pra galera do Jacarezinho e, para quem ainda não conhece outras narrativas, visite a favela.

Axé!

Paulinho Sacramento é carioca, cineasta, artista residente de pesquisa em artes do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ), gestor cultural, diretor do Rio Mapping Festival, Imperiano de fé e vascaíno.

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