Cidadania e História: palavras vazias?

A disciplina história segue eleita a mais “chata”, inútil e sem sentido das disciplinas escolares- Crédito: Reprodução

“Cidadania” e “história”, hoje, no Brasil, parecem ser palavras desgastadas, transformando-se para a maioria da população em retórica vazia e motivo de piada, justamente por não possuírem nenhuma efetividade na vida prática dos cidadãos, engolidos pelo cotidiano do trabalho ou pelas dispersões da cultura de massa.

A percepção da história como estudo exclusivo do passado e o reconhecimento, quase hegemônico, pelo cidadão comum de que a história brasileira seria uma coleção de mentiras e engodos, recheada de heróis sem dignidade histórica, tais como os que fizeram a história europeia.

Dessa maneira, alimentam-se um profundo desinteresse pelo conhecimento histórico do país, em especial pela produção acadêmica contemporânea, que tem gerado novos saberes sobre o nosso passado que, muitas vezes, não ultrapassam os muros das universidades.

Essa baixa valorização da história, especialmente acadêmico-profissional, na vida social brasileira se soma às dificuldades de inovação do ensino de história no âmbito escolar, tanto em aspectos metodológicos quanto historiográficos, o que acaba alimentando visões de história tradicionais, não estimulando a apropriação do métier dos historiadores ou mesmo o uso do pensamento histórico. A disciplina história segue eleita a mais “chata”, inútil e sem sentido das disciplinas escolares.

Talvez não de maneira declarada ou maquiavélica, mas essa desvalorização do saber histórico e a contínua visão negativa da história brasileira, que não se retroalimenta dos novos conhecimentos produzidos pelas pesquisas históricas, afetam a maneira como compreendemos nossa cidadania, quase sempre negativamente, visto que desestimula a confiança nas instituições públicas, fortalecendo o distanciamento da vida política e ratificando a retórica do triunfalismo das elites.

Nesse sentido, “história” e “cidadania” são palavras ou práticas inúteis, que no Brasil foram se transformando numa espécie de Cavalo de Tróia para enganar o povo. Infelizmente, essa percepção social e política é deliberadamente alimentada pela grande mídia, que hoje aparece como o grande oráculo da memória coletiva, transformando num grande semear no deserto o trabalho daqueles que ainda acreditam em cidadania e história, e ainda buscam aproximá-las.

Essa ação política não é desinteressada nem esvaziada de uma maneira de interpretar o passado. De fato, ela se constitui, para aqueles que a assumem, na grande batalha política contemporânea, que é discutir os significados das palavras e, a partir deles, instituir novas sensibilidades e maneiras de pensar, assim como de agir sobre o mundo. Pensar a cidadania e interpretar o passado fazem parte da constituição do viver em comunidade.

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