Cia Transforma de teatro capacita jovens das periferias

Jovens periféricos abraçam oportunidade na formação em teatro musical - Foto da internet

Com o objetivo de transformar vidas e dar oportunidade aos talentos não vistos, foi criada a Cia. Teatro Transforma, uma realização do Instituto Evoé com apoio do CEFTEM – Centro de Estudo e Formação em Teatro Musical. Aniela Jordan, diretora do Instituto Evoé, diz que fazia um tempo ela tinha essa vontade de fazer uma formação de uma companhia de musicais para pessoas que sem oportunidades nem condições de pagar um curso.

Com a pandemia, os três primeiros meses de aulas estão sendo online e, de acordo com Aniela, os alunos recebem ajuda de custo para não somente prosseguir com os estudos, mas também para ajudar na vida. “Todos estão conseguindo acesso às aulas, pois estamos dando um auxílio para estudar, além do auxílio mensal. Dessa forma, quem não tinha acesso à internet, passou a ter”, explicou.

Dentre os 30 alunos estão Klaus Amaro, morador de Santa Cruz, Zona Oeste da cidade e Layse Medeiros, moradora do Gardênia Azul, também na Zona Oeste. Ambos viram na oportunidade de fazer parte da companhia a chance de alavancar suas carreiras no teatro.

Klaus Amaro

A história de Klaus no teatro começou em 2015 com seus 18 para 19 anos, sem o apoio financeiro da família para seguir com seu sonho, ele começou a correr atrás de escolas de teatro por conta própria. “Fui conhecendo diversas escolas, teve época que eu ficava sem dinheiro e não podia ir às aulas mas nunca desistindo de fazer o que sempre gosto de fazer”, disse. Ainda segundo Klaus, desde criança ele queria fazer balé, mas não tinha o apoio da família por falar que era coisa de gay e, como era criança, acabou aceitando essa imposição. “Hoje em dia minha avó reclama e eu digo: ‘se tivesse deixado eu fazer balé naquela época, hoje em dia eu estaria fazendo e recebendo algo melhor’. Acho que meu maior erro foi eu não ter insistido quando eu era criança, mas serviu de experiência”, completou.

De acordo com Klaus a experiência das aulas online está sendo um momento desafiador, pois se considera uma pessoa “lerda” com o ambiente virtual, mas mesmo assim está conseguindo se adaptar e aprendendo bastante com as aula. Porém, confessa “nada como uma aula presencial e abraçar os amigos de turma”.

Klaus é um homem preto, jovem, que se reconheceu como gay e periférico. Sua existência é constantemente posta em risco, seja pelo racismo, seja pela homofobia, seja pela vulnerabilidade social. “Eu fui adotado com onze dias de nascido e minha mãe adotiva tinha 16 anos e isso é uma das coisas que me fazem ser forte todos os dias, se eu não tivesse sido adotado poderia ter tomado outra direção na vida assim como meus irmãos biológicos tiveram e não estão aqui hoje”.

Layse Medeiros

A história de Layse com a arte vem desde a Paraíba, onde nasceu e viveu maior parte de sua vida. Ela sempre teve o sonho de viver da arte como seu avô Severino Medeiros, sanfoneiro na Paraíba. “Mas no Brasil a realidade não é fácil para o artista, então eu vim para o Rio em 2014, ficar com minha mãe e só comecei a fazer teatro em 2017”, disse. Layse se formou pela Nova Escola de Atores com bolsa de 100% e foi na instituição onde conheceu o teatro musical.

Estudar teatro de forma online também está sendo desafiador para Layse, mas segundo ela a companhia organizou os estudos em um módulo que dá pra ser feito à distância “são matérias que permitem o não olho no olho, mas nunca vai se comparar ao presencial”. De acordo com Layse, mesmo sem estar no mesmo espaço físico com os outros alunos, as reuniões por vídeo fazem eles se sentir unidos. “Temos feito um bom trabalho, os professores e a coordenação são muito acolhedores e o cuidado que eles têm com cada um dos alunos é fora de série”, completou.

Com a cultura e a arte fazendo parte da sua vida desde seu nascimento, Layse presenciou todas as dificuldades e lutas para conseguir sobrevivência no meio artístico. “É muito importante para a cultura desse país dar voz, lugar e palco para as pessoas que não tem condições financeiras de investir no ensino do teatro musical, como era meu caso. A Cia. Teatro Transforma, realmente tem transformado não só a minha vida, mas de todos os outros envolvidos. Sou totalmente grata por essa oportunidade, que eu agarrei com todas as minhas forças e em breve espero ouçam falar de mim nos teatros afora”, afirmou.