Chacina da Palmeira na visão de quem é cria

Palmeira: Chacina no Complexo do Salgueiro-São Gonçalo- RJ: Crédito: Divulgação

Ouvimos o relato de quem mora na favela e se vê obrigado a driblar o mangue diariamente.

O morador J.P.,32 anos, cria do Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo- RJ, onde a chacina foi denunciada e os corpos encontrados no dia 22 de novembro, expostos, relatou sobre a rotina da favela.

Como é o clima de operação na região?

Quando não tem operação a gente já sabe pelos grupos de whatsapp, que está tudo tranquilo. O comércio abre normalmente e a vida segue com as complicações de sempre neste lugar esquecido. O transporte público aqui na Palmeira é difícil, para chegarmos até o Centro temos somente três linhas de ônibus.

Mas quando ouvimos tiros de longe ai começa uma luta não tem ônibus passando, as barricadas são colocadas e o desespero é total. O morador não pode sair para rua com receio de ser alvejado ou com medo de ter a casa invadida. Só quem mora sabe que a realidade é doida aqui, desespero total.

Qual foi o estopim da Chacina?

Falaram que mataram um policial dentro do Complexo do Salgueiro, onde estava rolando um baile, nós moradores sabemos que o Complexo é enorme engloba várias favelas como Caçador, Itaúna, Praia da Luz, Itaoca entre outras. Porém não foi aqui na Palmeira e nem o tal baile estava acontecendo. Aqui na região só no dia seguinte ficamos sabendo da morte do PM dentro do Complexo, mas nós moradores daqui da Palmeira não tínhamos noção do local da morte do policial.

O lugar específico onde ocorreu a chacina é de fato um local violento conforme a polícia narrou; em que os bandidos possuem armamento e treinamento igual ao exército?

(risos) Não! A Palmeira é uma região do Complexo do Salgueiro condenado pela Defesa Civil, depois das enchentes de 2010. Os moradores sobrevivem ali com um salário mínimo ou menos e não tem condições de sair. Ali é o fim de tudo, se um traficante corre pra lá, é pra se esconder, porque é só mato. Não tem nada disso, de traficante altamente armado naquela área, pode ir lá e perguntar a qualquer morador. A Palmeira está longe de ser este local conhecido como “campo de treinamento do crime” o acesso é tão ruim, tudo tão difícil sem infra estrutura, que só morador frequenta ali.

Após 15 dias da chacina, o que mudou na vida dos moradores?

Queríamos fazer um culto ecumênico lá, para as famílias que estão de luto e para mostrar para a grande imprensa que ali não moram marginais e sim gente muito pobre e humilde.

Infelizmente não morreu só traficante teve gente inocente, muitas famílias estão revoltadas. O Estado nunca chegou ali para oferecer um suporte, uma ajuda humanitária, as escolas são distantes, no posto de saúde não há médicos, não tem projetos culturais, educacionais ou esportivos e tudo que era ruim ficou pior agora com essa chacina, como o caso de uma jovem grávida que corre o risco de perder o bebê, dada a violência com que seu companheiro, servente de pedreiro, foi morto nesse dia. São pessoas sem perspectiva alguma.

O que pode ser criado na favela, para minimizar os efeitos da Chacina?

Um projeto de esporte e cultura para crianças seria muito bom, elas estão traumatizadas e com medo. O futuro das crianças ali está muito comprometido com a pobreza e agora mais ainda com a violência. Estamos abandonados!

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