Carta aberta para Nelson Mandela

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Salvador, Bahia, 18/07/2020

Nelson, parabéns e desculpa, talvez parabéns seja a única palavra otimista desse texto. E, talvez também, parabéns nem seja tão otimista assim, pois não há muito o que se comemorar. Então, parabenizar alguém no ano de 2020 pode soar muito irônico, mas nesse caso, não é.

Estamos vivendo o pico de um vírus que afasta as pessoas umas das outras. Parece não ter fim, de alguma forma, esse afastamento soa até como uma opção viável para alguns, para que justifiquem seus comportamentos inadequados, irresponsáveis e maldosos. Se proteger desse vírus está cada vez mais difícil, quando aparece uma solução, vem algo ainda mais absurdo e nos prova que esse afastamento ainda irá durar muito tempo.

Talvez nada disso pra você, Nelson, seja novidade, mas parece que tudo está um pouco pior. Parece que uma bolha do passado tem se formado diante de todos sem que consigamos perceber. Quando a mídia fala sobre o mal desse vírus, usando exemplos, dados, usando tudo que pode para embasar uma boa argumentação, aparecem pessoas para negar o óbvio, negar os fatos, acredita?

Pior! existem líderes mundiais, líderes de grandes nações que fecham os olhos e tecem comentários que incitam o ódio e patrocinam a morte. Desculpa o saudosismo, porém tenho que afirmar que não há mais líderes como você.

Estão buscando uma vacina para tudo isso, mas receio que ela não exista. Não há como combater um mal desse tamanho com um estalar de dedos, há uma esperança vaga que guia a sociedade como um cavalo é guiado com uma cenoura à vista. Precisamos aprender a usar a esperança que vem de “esperançar” e não a que vem de “espera”, o Fluminense estava errado ao afirmar no seu hino que “quem espera sempre alcança”.

Ahhhh, você deve estar querendo boas notícias do futebol, né? Na verdade, esse vírus se espalhou pelo esporte e há alguns exemplos bem ruins de como ele pode afetar a vida de um ou uma esportista. Mas, infelizmente, isso também não é novidade.

O nome desse vírus, Nelson, é racismo. As máscaras não funcionam para ele, pois até aqueles que optam por usá-las, percebem que a sociedade está pronta para rotular pele, cabelo, história, não há máscaras pra isso. Na verdade, até há um antídoto, o legado de lendas como você, Angela Davis, Marthin Luther King, Maria Felipa, Funmilayo Ransome-Kuti e outras tantas e tantos que nos ensinaram sobre como uma sociedade igual é boa para todos e todas. Mas muita gente se esqueceu de como o amor é transformador. E enquanto essa lembrança não volta, continuaremos a combater esse vírus, pois é isso que somos, combatentes. Desculpa, Nelson, juro que ano que vem minha carta será mais otimista, mas por enquanto… parabéns.

Um grande abraço,

Anderson Shon.

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Anderson Shon
Graduado em Comunicação Social - Publicidade e Propaganda pela Faculdade da Cidade do Salvador, Anderson Shon, atualmente, é professor do Centro de Educação Ávila Góis, professor - Canto de Estudo, professor do Instituto Bom Aluno da Bahia e professor - Educandário Helita Vieira. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Educação Anderson Mariano é escritor e professor. Lançou o livro Um Poeta Crônico no final de 2013 e, desde lá, já apareceu em coletâneas de poesia e de contos. Já ministrou oficinas em diversas feiras literárias da Bahia e é figura certa nos saraus de Salvador. É apaixonado por literatura e produz contos para abastecer o andersonshon.com. Em 2019, lançou o Outro Poeta Crônico, continuando sua jornada no mundo da literatura. Além de escritor, Anderson Shon é professor de redação e escrita criativa, sendo o professor com maior número de alunos premiados no Concurso de Escritores Escolares e, em 2018, lançou um livros de contos e poesias com os alunos do colégio estadual Conselheiro Vicente Pacheco do bairro de Dom Avelar. Anderson entende que ser professor não é uma profissão, é uma missão e que os livros são os melhores amigos que um estudante pode ter.