Brasil de ressaca

Imagem: Reprodução vídeo da reunião ministerial de 22 de abril.

Brasil de ressaca, digerindo a visualização ostensiva do momento mais abjeto e repulsivo de toda nossa História Republicana. Um encontro da instância mais alta da institucionalidade brasileira revelou-se tenebroso. Generais, vários, ouvindo um festival de barbaridades saírem da boca de tecnocratas de quinta. Tudo isso durante uma pandemia. Durante uma pandemia o governo se reúne e temos esta coleção de barbaridades ditas, que irão ecoar pelo mundo, que irão ecoar ao longo do século. Uma vergonha sem tamanho que ainda não vi nação nenhuma passar. Um feito inédito na história política da humanidade.

Se os 15% de fanáticos não vão mudar sua postura com este material eu, sinceramente, estou cagando. O que temos agora é a prova cabal de crimes e de posturas inaceitáveis. Estão, todos aqueles homens e aquela mulher, marcados por toda a vida por terem participado de tal forma de tal reunião.

Vamos martelar esta infâmia diariamente daqui pra frente, sem trégua, apontando e repetindo cada merda dita. Frisando a pequenez de almas asquerosas de Weintraub, Salles, Mourão, Braga Neto, Bolsonaro e tantos outros. São todos vírus. São todos males flagrados neste potente microscópio que o Senhor Celso de Melo, com as graças de Xangô, colocou na olhota de cada brasileiro.

Ontem talvez tenha sido o Dia Mais Infame da História Brasileira recente. Devemos construir todo o século vindouro como resposta a esta Visão do Inferno Institucional. Vergonha eterna aos generais presentes, a todos os bolsomínions persistentes e a todos que compõem esta Milícia Idiota que tomou o Palácio do Planalto.

Fenômeno assustador

Mas, para mim, o fenômeno mais assustador de ontem foi a reação de muitas pessoas do campo anti-bolsonarista. Foi uma espécie de viralização do derrotismo, no exato momento em que nosso campo recebe, das mãos de um Ministro do STF, em claro enfrentamento com a máfia que desejamos derrotar, o material mais explosivo e inédito de toda a vida pública brasileira.

Nunca antes na história deste país tivemos uma radiografia tão densa de um governo criminoso e imoral, com close em cada figura repulsiva deste governo inviável.

Em vez de pegar este material e replicar, comentar com revolta, analisar sob a luz do direito, ou do bom senso, muitas pessoas (muitas! demais!) preferiram servir, involuntariamente, mas cabalmente, ao inimigo. Não podemos nós passar pano para os mínions! Não neste momento!

Me enchi de raiva! Foi um fenômeno tão amplo que fiquei sinceramente assustado. Parecia um fenômeno típico das guerras, não sei. Uma vertigem de medo de virar o jogo, um fatalismo que, em última instância, paralisa o nosso campo no momento em que deveríamos todos estar descendo a pirambeira de lanças na mão porque o inimigo tropeçou e está de joelhos.

Faço um convite à reflexão. Não somos “comentaristas políticos”, não somos “analistas neutros de algum periódico”. Somos parte envolvida e algoritmo. Nossa ação nas redes e na vida como um todo, neste momento, é fundamental.

As instituições, como vimos, estão tomadas pelo pior tipo de gente!

Só haverá alguma reviravolta a partir da reação de setores da sociedade mais ampla. Ontem recebemos um arsenal! e ficamos exibindo um pau mole cívico em vez de botar pra fuder com estes fascistas!

Vamos sair dessa! Vamos partir pra cima! Só o trabalho de base vai mudar a nação a longo prazo, mas agora também a batalha espetacular midiática é fundamental para enfraquecer o fascismo. E dela nós somos parte atuante, não parte observante!

Essa reunião é a arma mais afiada que chegou em nossas mãos. Se não é bala de prata, paciência. Vamos fatiando este fascismo aos poucos. Eles já perderam muito. Muita gente já ralou peito do bolsonarismo. Eles estão nas cordas. Bolsonaro está nervoso e acuado.

Não podemos dar mole.