Bolsonaro vai repetir erro do prefeito de Milão, na Itália

Giuseppe Sala, prefeito de Milão - Foto da internet.

Neste momento em que o governo planeja uma campanha publicitária de larga escala com o slogan “O Brasil não pode parar”, nada mais oportuno do que dar um pouco de atenção às declarações do prefeito de Milão, próspera cidade italiana, Guiseppe Sala. Ontem, 26, ele reconheceu, cabisbaixo, que foi um erro colossal a campanha “Milão Não Para”, deflagrada há um mês.

O vídeo que era a peça principal da campanha era francamente ufanista, exaltava a capacidade de trabalho dos milaneses, seus “milagres”, “ritmos impensáveis” e “resultados econômicos importantes” e justificava: “Porque, a cada dia, não temos medo. Milão não para”.

No lançamento da campanha, a Lombardia, região setentrional italiana onde está Milão, acusava 258 infectados pelo coronavírus. O vídeo ganhou as telinhas, as redes sociais, fez corações e mentes na população, que ignorou as preocupações de seguiu vida normal, feliz da vida. Hoje, Milão é a província com maior número de casos, 32.346, e 4.474 mortes.

Exatamente o que o governo federal pretende fazer agora é uma campanha idêntica, conclamando o povo a trabalhar com todo o ardor, como se houvesse amanhã – e muito possivelmente não haja mesmo futuro para o contingente seduzido pela cantilena presidencial, sem base científica, falaciosa, calcada em preconceitos vários.

Esta faixa da população que se contamina e adoece na ignorância do seu líder e “mito” é aquela que mais sofrerá as consequências, como a população milanesa que se deixou conduzir ao abismo da pandemia imaginando gerar riquezas e produzir bens. Hoje Guiseppe Sala admite o erro:

“Muitos se referem àquele vídeo que circulava com o título #MilãoNãoPara. Era 27 de fevereiro, o vídeo estava explodindo nas redes, e todos o divulgaram, inclusive eu. Certo ou errado? Provavelmente errado”. Como muitos italianos, ele não havia entendido ainda “a virulência do vírus”, como diz. Mas isto não serve de consolo para todos os que perderam e ainda perderão entes queridos, amigos e conhecidos na peste do século XXI.

É esta trilha precisamente que o presidente da república do Brasil vai percorrer se não for impedido, com diferenças essenciais e literalmente vitais: a Itália tem pouco mais de 60 milhões de habitantes e Milão é apenas uma das suas províncias mais abastadas; o Brasil tem 208 milhões de habitantes e está a séculos das condições italianas de enfrentar um desafio como o coronavírus. Com Bolsonaro, caminhamos todos para o abismo – quem sobreviver verá.