Ativistas sociais dialogam sobre Quilombos Urbanos com estudantes UFBA

Quilombos Urbanos
Quilombos Urbanos Crédito: Elisabete Pinto e Marina Cruz

Com a temática “Os quilombos urbanos e os processos de aquilombamentos”, aconteceu mais uma aula do Curso de Serviço Social, da Ação Curricular em Comunidade e em Sociedade (ACCS04) – populações tradicionais, migrantes, refugiados, religiosidade, direitos humanos e políticas públicas, do Programa Universidade Multiculturais, do Instituto de Psicologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA) em Salvador sob a coordenação das professoras Elisabete Pinto e Marina Cruz.

Participaram representantes institucionais e militantes sociais de várias regiões do Brasil.

“Eu moro no Bairro da Paz, para quem não conhece a periferia aqui de Salvador, a gente está localizado em um dos metros quadrados mais caros da capital baiana. A gente considera o Bairro da Paz como um quilombo urbano, todo contexto histórico e cenário da ocupação deste lugar que vem passando essa linha na história pelo direito à moradia desde a década de 1980. No último mês de abril o Bairro da Paz completou 40 anos de existência, desses, eu tenho vivido a metade dessa transformação social que o quilombo Bairro da Paz tem me proporcionado, principalmente pela troca de experiência com os primeiros moradores a ocupar esta região, oriundos de um êxodo rural de muitas famílias que vieram do interior do Estado para ocupar esse terreno aqui”, informou o jornalista e editor da Agência de Noticiais das Favelas, com sede no Bairro da Paz, em Salvador, Paulo de Almeida Filho.

Paulo ainda comentou sobre a atuação da Agência de Notícias das Favelas na defesa, garantia e promoção dos direitos e dignidade de sujeitos sociais através da comunicação comunitária humanizada e ações sociais locais, a partir do enfrentamento da questão social da desigualdade social.

Programa Universidade Multicultural. Crédito: Paulo de Almeida Filho/ANF.

“Gratidão a todos, todas e todes, eu fico feliz toda vez que me passa a palavra, tava dizendo né, porque a gente passou por um período tão difícil e ficamos com medo de um retrocesso gigantesco em nossas vidas, bom e quando a roda da vida bateu em nosso peito grande, então agradeço muito essa Universidade toda vez que me chama e eu tento usar cada frase, cada palavra, saber de uma maneira muito diferente, hoje porque é muito importante o estudo universitário”, refletiu a dirigente da Organização de Mulheres Assentadas e Quilombolas do Estado de São Paulo (OMAQUESP), Adélia Farias, da Coordenação do Levante de Mulheres Brasileiras, pré-candidata a Deputada Estadual pelo Partido dos Trabalhadores.

Adélia também relatou sobre sua experiência com agroecologia, no combate a insegurança alimentar, aspectos relacionados à reparação racial, propriedade da terra, importância de aquilombar, reforma agrária, resistência dos povos indígenas, quilombolas e outros grupos como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra e sindical. Ela ainda denunciou sobre o “Projeto de Lei do Veneno” que prejudica a saúde da população.

“Boa tarde a todos e todas, eu tô aqui na luta eu peço desculpa pela turbulência, mas a agente é de agitação”. “Nossa articulação é composta pelo movimento que participo que é a Vila Coração de Maria (ameaçada de extinção desde 2007), nós temos aqui a Ladeira da Preguiça, no “Centro Cultural que Ladeira é Essa”, que é uma comunidade também ameaçada o tempo todo, nós temos o Tororó, nós temos a Gamboa de Baixo e Gamboa de Cima”, expôs a bacharelanda em Serviço Social na UFBA, e uma das mulheres negras do Centro Antigo Contra o Genocídio da Juventude Preta e atua na luta pelo Direito à Cidade, por moradia digna para a população preta, Lindinalva Santana, direto do Centro Comercial de São Paulo.

Lindinalva durante a reinvindicação do direito à cidade sustentável e inclusiva apresentou outras lideranças presentes ao ato como Maura Cristina, Nilma Santos, Fernanda Moscoso.

“Fui catador de papel junto com minha mãe e minhas irmãs na pior forma que existe de ganhar a vida, quando a gente vê suscita os restos que estão é o que foram descartados e que as pessoas chamam de lixo, não é a pior forma de recolha desses materiais, são naqueles espaços a céu aberto que a gente chama de lixão, pois bem é, mas como eu sou dessa sociologia e a gente precisa ver e trabalhar muito conceito de dialética é ali nessa pior forma de ganhar a vida que minha família, minha mãe, minhas irmãs e eu, nós conseguimos deixar de depender, e aí a gente é trator”, emocionado, expressou o bacharel em Ciências Sociais pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo e mestre em Ciências Sociais Aplicadas pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos, José Raimundo.

A culminância desta edição do curso de extensão universitária propõe instituir a “Cátedra Universidade Intercultural Pluriepistêmica e Multiética-Racial”.

Crédito: Profa. Elisabete Pinto e Marina Cruz.

Segundo o documento em construção coletiva, “a Cátedra é um espaço institucional com competências de ensino, pesquisa e extensão, dialogando com os movimentos sociais e políticos destacando (povo de santo, ribeirinhos, migrantes, refugiados), indígenas, quilombolas, trabalhadoras domésticas, capoeiristas, culturas periféricas e populares no âmbito da soberania dos povos, mantendo uma relação direta com a instituição por meio dos programas e projetos desenvolvidos pelos professores e técnicos administrativos da UFBA”.

Do ponto de vista da obrigatoriedade do ensino de História da África e Cultura Afrobrasileira e Indígena, a profa. Dra. Elisabete Pinto da UFBA, num evento intitulado de “Entre o Atlântico e a Casa Grande Existiu Palmares: por uma Universidade Multicultural, Multiétnica-Racial e Pluriepistêmica” que aconteceu em dezembro de 2021, a partir dos “Encontros dos Saberes”, disse que “as universidades precisam fazer muito mais, já que muitas universidades ainda não implementaram as Leis 10.639/03, 11.645/08, bem como ainda não possuem um Programa de Combate ao Racismo Institucional”.

Também palestraram no decorrer do curso: Emaye Natália Marques e Raul Ijibaode Tavares de Paula (Representação de Religiões de Matriz Africana), Lucival Marcel (Representação Ribeirinha), Edgar Moura (Representação Quilombola), Jibran Patté e Samuel Yriwerana Karajá (Representação Indígena), Cleusa Aparecida da Silva (Representação das Trabalhadoras Domésticas), Mestre Nelson (Presidente da Federação Portuguesa de Capoeira), Mestres de capoeira nacionais como Valdonor, Odilon Jorge Daltro de Góes, Bruno Abrahão, Pedro Abib e muitos outros.

A atividade foi realizada na última sexta-feira (03), em formato virtual através da plataforma Google Meet, pela Universidade Federal da Bahia, com apoio da Rede de Promoção dos Direitos dos Povos Indígenas e Quilombolas (Rede PROINQUI), Núcleo de Estudos e Pesquisas Ações Afirmativas e Assistência Estudantil (NEPAE), Núcleo de Apoio aos Migrantes e Refugiados (NAMIR).

Assista ao vídeo na íntegra no canal do youtube: Programa Universidade Multiculturais.

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