As mentiras nas grandes mídias e os ataques a democracia

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O documentário “Democracia em vertigem” da cineasta Petra Costa nos convida a pensar sobre a fragilidade da democracia brasileira e o poder da mídia só poderia ter estreitado na Netflix.

O documentário “Democracia em vertigem”, da cineasta Petra Costa, que estreou na última quarta-feira (19/06), na plataforma streaming Netflix, retrata em primeira pessoa os acontecimentos políticos dos últimos anos em nosso país. A cineasta percorre a redemocratização pós-golpe militar, eleição de Lula, golpe parlamentar que depôs a presidenta Dilma Rousseff, a prisão arbitrária ex-presidente Lula  e a eleição do candidato de extrema direita Jair Bolsonaro. Petra mostra seu olhar e opiniões ao longo de todo filme e revela como ela, uma jovem de 35 anos percebe toda a mudança no cenário político do Brasil.

 

A ânsia por relatar os esquemas e corrupções nos lugares de poder não pertencem só a cineastas brasileiros, o documentário “Nobody speak: trials of the free press” (Ninguém fala: julgamentos da imprensa livre), disponível também na Netflix, narra como a relação entre milionários e donos das grandes mídias influenciam nas narrativas na mídia e levam a condução da opinião pública e parlamentar, além de como jornalistas são constantemente ameaçados caso não obedeçam aos interesses dos empresários. Outro documentário bastante crítico da Netflix, é o “Terra Plana” que entrevista pessoas que no século XXI acreditam que a terra não seja redonda e também faz um paralelo a eleição de Trump. Esses são apenas alguns exemplos de como as plataformas streamings (no caso só estou falando da Netflix) dão oportunidades para narrativas contra hegemônicas de uma forma acessível.

 

Narrativas contra hegemônicas significam assumir uma visão que contemplem temas de interesse coletivo e comunitário e que são barrados nas pautas dos veículos tradicionais. Trata-se de transcender o âmbito comunicacional para associar-se a projetos de transformação da sociedade, o que só se revelará viável se os protagonistas envolvidos – os veículos e seus jornalistas e colaboradores – adotarem padrões informativos capazes de traduzir coerentemente os pressupostos editoriais. As ações comunicacionais contra-hegemônicas atuam como ferramentas para a comunicação no campo popular, sem deixar de lado a militância social, ficando implícito que jornalistas e/ou comunicadores devem estar alinhados com forças sociais empenhadas nas batalhas pela democratização da palavra e da informação.

A ampla variedade de iniciativas de comunicação alternativa em rede expressa a heterogeneidade de movimentos, organismos, grupos e coletivos provenientes de diferentes lugares e contextos, com singulares acumulações de experiências e leques de propósitos. Mas os participantes compõem, com ritmos e ênfases peculiares, o mesmo campo: o da oposição ao domínio dos conglomerados midiáticos e à mercantilização da vida e da informação. Repõem, ainda que com raio de abrangência muito inferior à dos meios massivos, a circulação social de conteúdos críticos, com o intuito de fecundar contra sentidos e reinterpretações de fatos e acontecimentos.

Um dos principais algozes das democracias são as manobras da própria mídia para esconder a sua morte,– “tornar o Judiciário mais eficiente, combater a corrupção ou limpar o processo eleitoral. Os jornais continuam a ser publicados, mas são comprados ou intimidados e levados a se autocensurar. Os cidadãos continuam a criticar o governo, mas muitas vezes se veem envolvidos em problemas com impostos ou outras questões legais. Isso cria perplexidade e confusão nas pessoas. Elas não compreendem imediatamente o que está acontecendo. Muitos continuam a acreditar que estão vivendo sob uma democracia. (…) ( pgs. 17/18 ) (Como as democracias Morrem –  Steven Levitsky, Daniel Ziblatt 2018).O excesso de polarização política é outro fator apontado pelos escritores Steven Levitsky e Daniel Ziblatt como um elemento que enfraquece a democracia. Sem um espaço para debate, apenas discurso de ódio, obviamente que a democracia se perde em meio aos gritos. Não há formula mágica para sair da crise política ou crise da comunicação mas o enfrentamento as fake news, a polarização política e os discursos vazios dependem de narrativas contra hegemônicas e de plataformas streamings para serem difundidas e tentar salvar a democracia.