Aniversário de Salvador: “474 anos de epitáfios”

Favela do Bairro da Paz, vista do Parque Tecnológico, visão entre a Avenida Paralela e os condomínios de Piatã- Crédito: Valcrer Rangel

O show é no farol. No palco: estrangeiros; no chão: adversidades… O espetáculo ‘gratuito’ é pago pela cidade…

Para o bolso da elite, vai tudo o que falta nos becos dessa cidade… Na cara das estrelas vão o riso e a alegria, material de exportação da Terra/Felicidade…

Estampado na plateia estrangeira em sua terra fica o riso embranquecido, da dura realidade: acordar do aniversário pra encarar as crueldades…

A nossa diversidade- que a tornou uma metrópole -, paga a conta com a vida, com as várias balas “perdidas”, que sabe onde está o corpo a transportar para a necrópole.

Poema: Salvador: 474 anos de epitáfios. Autor: Valdeck Almeida, jornalista, morador de Sete Portas, periferia de Salvador

Nesta quarta-feira, dia 29 de março Salvador celebra seus 474 anos. A programação para comemorar o aniversário da cidade segue até o dia 02 de abril, com o Festival Viva Salvador.

O cronograma reúne eventos de arte, música, gastronomia, feiras de artesanato, desfile e concurso dos tradicionais carrinhos de café, encontros de motos e de carros antigos, competições esportivas de stand-up paddle, ciclismo e maratona aquática em águas abertas.

Terá show no Campo Grande, sob o Canto Negro de Wil Carvalho e as apresentações das orquestras Zeca Freitas e Sergio Benutti.

No dia 1°, a partir das 18h, o show Sapoti – Márcia Short em um Tributo Ângela Maria e apresentações das orquestras Paulo Primo e Fred Dantas.

No dia 2 de abril, terá a tradicional Volta do Dique do Tororó com o grupo Mudei de Nome a bordo do pranchão, a partir das 11h. 

O encerramento do Festival Salvador será no Farol da Barra show com grandes nomes da música baiana. Gilberto Gil, Caetano Veloso, Ivete Sangalo e Luedji Luna.

Morar na favela em Salvador

“Essa é uma das facetas de Salvador, maquiagem nos centros para atrair turistas, escondendo as demandas da população periférica e agindo apenas quando convém para cumprir tabela junto aos órgãos públicos”, comenta Mem Costa, historiador, morador do Bairro da Paz há 35 anos.

Mem ainda diz que as benfeitorias do Bairro da Paz remetem ao processo de afirmação do bairro. Desde quando deixou de ser invasão das Malvinas, para a criação propriamente dita do Bairro da Paz, que no próximo mês celebra 41 anos.

A urbanização das ruas nos bairros periféricos não contempla 100% da localidade, apenas poucas ruas são atendidas pela prefeitura, as demais entraram no processo eleitoral, é aquela chamada borra de asfalto, sobra de concreto.

Geograficamente os bairros são distantes dos espaços de lazer e cultura da cidade. A mobilidade urbana, o transporte público ainda fica a desejar em muitos locais, falta casa lotérica, serviço de saúde de qualidade.

Bairro da Paz é o único bairro popular que tem uma passarela direcionada exclusivamente no seu território de acesso à estação do metrô.

“Como a gente está em Salvador, que é uma das capitais com maior índice de desemprego, esse índice no Bairro da Paz é um dos mais agravantes. O que quer dizer que temos um grande número de pessoas que estão desempregadas ou nos subempregos. Por exemplo, os chamados ‘bicos’ isso faz com que as pessoas vivam economicamente precarizadas”, reforça Mem Costa.