ANF participa do 1º Seminário “Mulheres Reais que Transformam”

Quando saí de casa em direção ao Hotel Sheraton, em São Conrado, fiquei imaginando o que aconteceria em um seminário sobre mulheres. Pensei em várias delas falando sobre beleza, mercado de trabalho, filhos, machismo… O que de fato ocorreu, só que de uma forma inesperada pra mim. Durante o evento, pude perceber através de números e depoimentos o crescimento da nossa influência na sociedade, nossa mudança de comportamento, nossas lutas e conquistas. 

A condução da anfitriã, a jornalista Ana Paula Padrão, foi bastante divertida e em alguns momentos emocionada. Manter essa postura de lider, com energia, porém com candura é realmente uma qualidade feminina. Imagine o fato de ser chefe da Polícia Civil, num estado como o Rio de Janeiro? Tarefa árdua para qualquer ser humano, que a Delegada Marta Rocha vem encarando há meses. Ela também esteve presente e qualificou evento como um “spa para a cabeça”. Fiquei pensando em como a rotina dela deve ser estressante, daí lembrei da presidenta… Mas, voltemos! 

Na sequência, Tony Porter subiu ao palco para falar sobre a reconstrução do conceito de masculinidade e como construir uma nova geração de homens. Interessante vê-lo criticando a sensibilidade masculina, dizendo que homens somente são permitidos a sentir raiva e ódio, além de não poderem demonstrar tristeza nunca. Deve ser bem difícil…

Difícil mesmo, deve ser presidir a maior empresa do país! Graça Foster, mineirinha e cria do Complexo do Alemão, é uma das mulheres mais poderosas do mundo. Em tom de bate-papo, Graça abriu sua vida, falou sobre a infância com restrições materiais, porém cheia de amor, na preocupação da mãe em sempre manter sua cabeça ocupada com atividades para não deixá-la dispersar, como é ser a primeira mulher a presidir uma companhia petrolífera e sobretudo, sobre o fato de que o poder acarreta grandes responsabilidades, e nesse sentido, gênero não deve fazer muita diferença. Ela revelou ainda seu gosto por futebol, rock‘n’roll e tatuagens. 

Fátima Rocha, empreendedora do MegaMatte, também é do Complexo do Alemão e tem uma trajetória de sucesso, iniciada após a transformação trazida pela maternidade, baseada na ética e compromisso com o público e funcionários.

A representante da AME (Associação de Mulheres Empreendedoras) mostrou como a geração de renda para mulheres em situação de risco melhora a autoestima e a vida delas e dos filhos. Principalmente, porque a ONG permite que as crianças permaneçam no espaço de trabalho, fortalecendo o vínculo familiar, assim essas mães podem se capacitar e crescer profissionalmente sem deixar a educação dos pequenos de lado.

Durante o Painel Dove o foco foi na beleza. Foram questionados os ideias de branqueamento, a magreza, o mercado criminoso de culto ao corpo, o ideal do cabelo liso e comprido. Durante a conversa, que reuniu a Dra. Joana Novaes, Coordenadora do Núcleo de Doenças da Beleza da PUC-Rio e as atrizes Simone Spaadore e Beth Faria, Beth relatou, com lágrimas nos olhos, a doença que teve e que a deixou deformada tendo que recusar trabalhos pelo telefone, tudo por conta dessa obsessão pela beleza tão exigida na sua profissão. A conclusão do painel foi que mulher bonita é a que se sente bem. Eu concordo!

O resultado da pesquisa apresentada revelou o que na prática já sabemos: a renda domiciliar foi dividida, mas as responsabilidades domésticas não; elas querem reciprocidade, precisam compartilhar; diálogo e fidelidade são importantes e as mulheres querem homens companheiros, cúmplices acima de tudo.

A parte mais divertida do seminário ficou por conta de Ieda Novaes (KPMG), Marise Barroso (AMANCO) e Izabella Teixeira (Ministra do Meio Ambiente). Elas falaram sobre a luta feminina na busca por seus direitos, mentoria, construção de lactários e a cumplicidade feminina com o meio ambiente. Com muito bom humor Izabella questionou um dos resultados da pesquisa mostrada anteriormente, onde a afinidade sexual aparecia em quarto lugar nas preferências femininas, e chegaram ao consenso de que as mulheres não admitem de cara o seu interesse no assunto, elas concordaram com o quinto lugar recebido pela situação financeira dos homens, já que elas são donas do próprio dinheiro.

Para finalizar, Leymah Gbowee, prêmio Nobel da paz e sobrevivente, disse que se qualquer mudança tivesse que acontecer na sociedade, isso teria que ser feito pelas mães. Abordou temas como dependência dos maridos, a participação das mulheres na política e violência sexual. Durante sua fala, questionou se todas devem ser sexy e magras e o fato de que meninas são criadas para serem princesas encantadas num mundo real.  

Quando abriram o microfone para perguntas, uma das convidadas levantou um fato que eu e Mariana Koury, Secretária Executiva da Agência de Notícias das Favelas, já havíamos reparado, éramos exatamente seis negras no recinto. Leymah se saiu bem, falando sobre o reconhecimento do outro e contando sobre a estranheza das pessoas com o modo de vida dos africanos.

Foi um dia memorável, e não teve nada de “papo de mulherzinha” como foi falado algumas vezes no palco. Houve sim, conversas sobre geração de emprego, renda e desenvolvimento social. Foi a uma narrativa de vitória feminina no mundo, da qual eu me orgulho muito. Sabemos que ainda tem muita luta pela frente, mas já conquistamos nossa liberdade.