#AmorVenceu. Será?

Aplicativo utilizou cores do arco-íris para celebrar conquista histórica dos gays
Aplicativo utilizou cores do arco-íris para celebrar conquista histórica dos gays
Aplicativo utilizou cores do arco-íris para celebrar conquista histórica dos gays

O #AmorVenceu (#LoveWins). No último sábado, 27 de junho, a hashtag em português ou na língua inglesa inundou a principal rede social on-line do Brasil e do mundo, junto com um aplicativo disponibilizado lá que permitia aos usuários colorir sua foto de perfil com as cores do arco-íris – usadas como símbolo mundial do movimento gay. A iniciativa mobilizou os adeptos da rede como forma de celebrar uma conquista histórica mundial: a decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos da América (EUA) de permitir o casamento entre pessoas do mesmo sexo em todo o território daquele país. A decisão, vinda da maior potência econômica do mundo, sem dúvida alguma representa um exemplo a ser seguido por outros países, além de um avanço a ser comemorado pelos movimentos em busca dos direitos humanos de todo o planeta. “Porém, o tratamento dado à população homossexual de nosso país, a realidade ainda está muito distante do mundo colorido e apresentado no Facebook. Dados do grupo Atobá – principal Organização Não-Governamental (ONG) voltada a defesa dos direitos dos gays no Brasil – indicam que um homossexual é assassinado por dia no país.  As afirmações do pesquisador são facilmente confirmadas pelo grupo gay Atobá, da Bahia”. A afirmativa é do sociólogo e ativista Murilo Mota.“Isso mostra como o fundamentalismo religioso e a homofobia ainda hoje nos ameaçam, complementa.

Para Mota, a aceitação da condição homossexual é essencial para a felicidade. “O que queremos é o direito à diferença e o reconhecimento de que todos somos iguais perante à lei. A cidadania é para todos e, em nome da aceitação da diversidade sexual, é importante que se assuma o que se é. Vivemos em uma sociedade heteronormativa, ou seja, com normas feitas para atender somente os heterossexuais. Dentro dessa realidade, a cidadania é sempre uma conquista”, explica. Na sua opinião, é essencial que os homossexuais “saiam do armário” para poderem se defender e lutar por seus direitos e mesmo igualdade de tratamento. “Quem está no armário fica mais vulnerável, pois a proteção pelo silêncio é ambígua, encobre a injúria e o desrespeito. Quanto mais assumimos o que somos, obrigamos o entorno social a tolerar o direito que todos temos diante da diferença. Há muito preconceito. Todo homossexual, assumido ou não, encara o duplo dilema de viver em dois mundos para não enfrentar a violência e a difamação. Ainda no século XXI, muitos gays são expulsos de casa, há muitos casos de suicídio de jovens ainda pouco relatados em pesquisas”, destaca.

Mota fala sobre a atualidade da sua causa e do preconceito, que ainda é forte no País. “Um dos erros frequentes da sociedade é atribuir ao homem homossexual um comportamento feminino. A homossexualidade não tem cara. Atribuir aos gays profissões ditas de ‘mulherzinha’, como cabeleireiro, maquiador, dançarino, entre outras, é uma grande falácia. Apesar de certas profissões abrigarem mais o talento dos gays como resposta ao preconceito, eles lutam para sobressair no trabalho”, opina.

Murilo Mota: "Precisamos 'sair do armário' para se defender das discriminações
Murilo Mota: “Precisamos ‘sair do armário’ para nos defendermos das discriminações

Também professor e pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Mota é autor de uma tese de doutorado inédita no país e que debate o homossexualismo na terceira idade e resultou no livro Ao sair do armário, entrei na velhice… homossexualidade masculina e o curso da vida (Móbile Editorial, 232 páginas), que narra as experiências de 15 casais homossexuais que assumiram sua opção sexual depois dos 60 anos. “ A novela das nove da principal emissora de TV aberta do país mostra pela primeira vez um casal de gays da terceira idade, que sofre duplo preconceito: pela opção sexual e pela faixa etária, que na nossa sociedade, mesmo com os avanços da expectativa de vida, ainda é vista como velha, obsoleta”, afirma. E o estudo desenvolvido pelo sociólogo surpreende ao mostrar o preconceito vindo dos próprios homossexuais para com os seus pares da chamada terceira idade. “No caso da velhice, os próprios homossexuais discriminam seus pares que chegam a essa idade, logo tachados de ‘bichas velhas’. Isso acontece porque vivemos em uma sociedade que cultua a juventude, o corpo e o hedonismo, o velho é encarado como feio, não sexualmente atraente.” E a expressão terceira idade muitas vezes esconde o fato de os homossexuais serem considerados cidadãos de segunda categoria. “A velhice acarreta uma série de problemas de ordem cultural, assistencial e social de uma forma geral. Mas no caso dos gays, há um duplo preconceito”, diz.

Mota reforça ainda a importância e o ineditismo do livro, no qual procura traçar um panorama dos avanços do movimento pela liberdade sexual, que une lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros, e o papel nele dos “gays velhos”. “Uma sociedade livre e democrática é aquela que respeita a diversidade sexual. É preciso entender que a orientação sexual é múltipla e que todos têm o direito de manifestá-la publicamente, com respaldo da lei”, afirma o pesquisador. Ele afirma que, apesar de culturalmente a velhice ser sinônimo de obsolescência, com os avanços da medicina e o aumento da expectativa de vida da sociedade como um todo, cada vez mais se vive bem aos sessenta, setenta e mesmo oitenta anos. “Espero que possamos realmente contribuir para começar o debate na academia sobre o envelhecimento e a homossexualidade. As pessoas não podem ser tratadas como ‘mortas’ só porque ficaram velhas. Por isso mesmo, a idade não deve significar necessariamente inutilidade nem incapacidade. Sejam as pessoas héteros ou gays”.