Ainda dá para acreditar na democracia?

Obra "Operários" (1933), de Tarsila do Amaral. (Créditos: Reprodução Internet)

Diante de tanta falcatrua, falta de ética e imoralidade nas três esferas de poder – Executivo, Legislativo, Judiciário -, é razoável se perguntar o porquê de continuarmos acreditando na democracia. Parece que o máximo que podemos fazer é esperar que tudo se resolva em algum momento. Também parece estranho continuar acreditando em um regime que permite que todos esses escândalos aconteçam. Mas já pararam para se perguntar se esses escândalos só são revelados em regimes democráticos? A ausência de manchetes sobre corrupção, na maioria das vezes, não significa que não existam, mas, sim, que apenas não estão sendo mostradas, o que favorece pessoas ou grupos.

Por definição simples, a democracia é o governo do povo. No entanto, o que conhecemos por democracia no nosso dia-a-dia é uma prática extremamente limitada. O povo é convidado a participar de dois em dois anos das eleições e, a partir daí, fica assistindo de casa o que a mídia quer que assistamos. Sofremos as consequências ao longo dos mandatos. Quase sempre elegemos pessoas que não representam nossa classe e nem compartilham dos mesmos ideais. Acabamos não nos identificando com próprios nossos representantes, nos sentindo ainda mais afastados do processo decisório.

Para alguns especialistas da área e para grande parte da elite política, a falta de interesse da população é desejável para que as coisas se mantenham como estão. Para eles, é a classe trabalhadora quem não tem habilidades para escolher seus candidatos – pior, é caracterizada pelo autoritarismo, quando, na verdade, são essas elites que trabalham para limitar a participação da população e continuar agindo ao seu bel prazer. Para elas, quanto menos o povo participar e se envolver politicamente, melhor.

Existem exemplos de participação mais efetiva na própria América do Sul, onde propostas de emenda constitucional não podem ser sancionadas sem a aprovação da população por plebiscito. Outra medida interessante é a possibilidade de requisitar a saída de um presidente passando por nova votação depois de, pelo menos, dois anos de governo. Se essas medidas fossem implementadas no Brasil, certamente as Reformas Trabalhista e Previdenciária não seriam aprovadas ou Michel Temer talvez já tivesse sido deposto. Os exemplos servem para mostrar por que devemos apostar na participação popular e que é a falta dela que permite que políticos desonestos e sem compromisso com a população permaneçam onde estão.

O que garante a nossa possibilidade de eleger governantes em quem confiamos é poder disputar com outros candidatos, mesmo que sejam aqueles de quem não gostamos. A chave aqui é poder interferir na tomada de decisão seja de quem for que não atenda aos anseios da população.

Não podemos nos afastar da política, por maior que seja o desgosto. Possivelmente, chegamos a esse cenário de caos justamente por não nos envolver com a política nem criar debates. Política não é só aquela das câmaras legislativas. Política está nas associações de moradores, nos sindicatos, nas organizações de juventude e estudantes. É preciso se organizar em torno dessas entidades que querem ganhar espaço no processo decisório, que querem que o povo decida.

E é muito importante ter em mente que o povo não é o outro, o povo é a gente. E se o povo não faz nada, é a gente que não está fazendo.